O Acadêmico Marcello André Barcinski recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em cerimônia realizada no Colégio Brasileiro de Altos Estudos, no dia 2 de agosto, reunindo a comunidade acadêmica, autoridades científicas – muitos deles membros da Academia Brasileira de Ciências ou da Academia Nacional de Medicina – e seus familiares.

O Conselho: atrás, Gilberto de Oliveira Castro, Guilherme Suarez-Kurtz,
Fernando Garcia de Mello; na frente, Marcos Moraes, Antonio Paes
de Carvalho e Darcy Fontoura de Almeida
A cerimônia foi presidida pelo pró-reitor da universidade, Pablo Benetti, representando o reitor, Carlos Levi, que cumprimentou Barcinski pelo tempo de trabalho dedicado à universidade e à ciência, tanto na condução de pesquisas importantes quanto na formação de novos pesquisadores. “Esse título é uma expressão de agradecimento da universidade. Ele é privativo de professores titulares cujos serviços ao magistério hajam sidos considerados de excepcional relevância”, explicou.

Maria Fernanda Santos Quintelo da Costa Nunes, decana do Centro de Ciências da Saúde, e Sandra Azevedo (na foto ao lado), diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, de onde veio o pedido de emerência, também cumprimentaram Marcello Barcinski, salientando características que aumentam o seu mérito e justificam a homenagem.

Para Azevedo, Barcinski tem capacidade de aceitar novos desafios multi e transdisciplinares, sempre com entusiasmo e espírito colaborativo. “Sua competência para estabelecer novas fronteiras do conhecimento nas áreas que atua, sua generosidade em buscar ouvir a todos, independente de posição na hierarquia institucional e estimular jovens que buscam iniciar-se nos desafios da carreira acadêmica, sua habilidade em manter o sentido lúdico da pesquisa científica nos fazem sentir que hoje estamos apenas fazendo justiça a toda importância que ele tem não apenas para a UFRJ, mas para a ciência, seja ela vista num panorama nacional ou internacional”.

Méritos na pesquisa e no magistério

A proposta da emerência partiu de outro professor titular de imunologia da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Ciências, George Alexandre dos Reis, que em seu discurso explicitou os méritos científicos e docentes de Barcinski. “Ele é um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da Imunologia no Brasil, área na qual se destaca como estudioso da influência da variabilidade genética e da adaptação evolutiva na resposta imunológica”, afirmou.

Reis destacou a atenção que Barcinski sempre deu ao tema da integridade científica, que norteia o bom ou o mau uso da ciência e da tecnologia. “A carreira dele começa na décade de 1960, num período marcado pela ameaça nuclear e por movimentos de transformação social. Junto com seu fascínio pela ciência, vem à constatação dos efeitos danosos das radiações sobre o material genético. Este tema interessou-lhe profundamente, por suas implicações científicas, médicas e humanísticas. E marca a sua carreira. Não é por acaso que em sua tese de doutorado ele investiga as alterações dos cromossomas de uma população humana exposta à radioatividade natural. E de fato, não é por acaso que Marcello Barcinski está comprometido com o tema da responsabilidade social do cientista”.

Indo adiante, Reis descreveu a relevância de Marcello Barcinski no cenário científico atual, em que ele representa o país na Rede Mundial de Academias de Ciência, uma organização de cientistas para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável, e a sua passagem pela presidência da Sociedade Brasileira de Imunologia, quando auxiliou a consolidar a imunologia brasileira, aconselhando novos grupos de pesquisa através de agências de fomento. Ainda destacou a vasta quantidade de trabalhos científicos publicados, que foram referidos em milhares de citações ao longo de seus 40 anos de carreira acadêmica. Por último, assinalou que Barcinski contribuiu para a melhoria do ensino e da pesquisa na UFRJ, “formando um grande número de professores pesquisadores de sucesso, muitos dos quais estão aqui presentes e que multiplicaram saber pelo país”, concluiu.

Participar das transformações do mundo

As primeiras palavras do discurso de Marcello Barcinski foram de agradecimento a todos presentes, aos seus familiares e aos diretamente envolvidos para a outorga do “precioso título”, no seu modo ver. “Tonar-se professor emérito além de ser a honraria máxima da carreira de um docente universitário, no meu caso também contribuiu muitíssimo para mitigar o trauma de uma aposentadoria compulsória”, brincou.

Com a experiência acumulada em anos de carreira, Barcinski vê o mundo se transformando e acredita que os cientistas precisam fazer parte desse processo. “Estamos em pleno século 21. A corrente expansão das fronteiras do saber e o surgimento de novas áreas em ciência e tecnologia terão como consequência importantes transformações na nossa competência de lidar, sempre baseados nas evidências, com grandes desafios que ora nos afligem. Para sermos atores e não meros observadores desse momento histórico, é preciso lutarmos com todas as nossas forças, e com toda a nossa convicção, pela preservação de três das mais bem sucedidas criações do homem: a universidade, a ciência, e a democracia. A meu ver, esta é a nossa pauta”. Ele acredita que essas três criações devem ter princípios comuns de ética, responsabilidade social, compromisso com a verdade, pensamento crítico e respeito mútuo.

Neste tempo de mudanças há grandes desafios, tais como, a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável e inclusivo, que na opinião do homenageado somente a ciência é capaz de superar. “Os cientistas precisam participar ativamente da criação de um mundo menos desigual, mais próspero, mais pacífico e mais justo, pois a formulação desta agenda não pode ser deixada exclusivamente a cargo dos diplomatas e políticos; militar para livrar a ciência de barreiras baseadas em nacionalidade, religião, estrato social e econômico, origem étnica ou gênero; trabalhar em prol do progressivo entendimento e apreço pela ciência por parte de todos. Mãos à obra. Temos muito por fazer”.

Barcinski é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. É membro da classe Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Essas atividades também são desempenhadas com grande mérito, e atestam o reconhecimento de suas contribuições.