O ex-diretor do departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), Ildeu de Castro Moreira, ministrou a palestra “Que divulgação científica é esta?”, na manhã desta terça-feira (23), no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A atividade integra a programação da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife.
Vencedor do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, o físico e professor universitário começou sua reflexão expondo uma série de artigos sobre ciência. Entre eles, matérias de jornais impressos diários sobre propostas de criação do curso de química nas escolas públicas brasileiras, de 1828; do Observatório Nacional (ON, hoje um instituto do MCTI), de 1928, e sobre as atividades da SBPC, de 1949. “Com isso, gostaria apenas de ressaltar que ninguém aqui inventou a roda, esse trabalho já é produzido no país há muito tempo”.
Segundo o professor Ildeu Moreira, umas das principais características da SPBC é justamente seu caráter multidisciplinar, o que facilita a disseminação do tema entre os participantes. “O interessante de acompanhar esse tipo de evento é que você pode entrar em uma sala e ver a conferência do ministro; no outro ponto já tem um debate sobre educação básica no Brasil; na ExpoT&C você conhece os projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos”, mostrou.
Desafios à popularização
Em seguida, listou os dez tópicos que, acredita, são os principais desafios da popularização da ciência e tecnologia no país. “Temos que melhorar a educação científica no Brasil, atingir as escolas básicas públicas, expandir, melhorar e criar acessibilidade e melhorar a distribuição dos espaços científico-culturais”, relacionou. “Temos que usar amplamente a mídia tradicional e investir na formação de recursos humanos. Os cientistas precisam se engajar mais, pois não é possível divulgar ciência e tecnologia apenas com artigos especializados.”
Moreira citou ainda, a integração com a cultura e arte, a organização de eventos nacionais e internacionais, incluindo o investimento na cooperação internacional, a ampliação das políticas públicas destinadas à popularização da ciência e tecnologia e educação científica, a diminuição da burocracia e a apropriação social e construção coletiva do conhecimento, como principais entraves do acesso à informação para a população.
Acelerar a inovação
Na opinião do vencedor do Prêmio José Reis, o governo federal está tratando a ciência e a tecnologia de uma forma mais otimista, atualmente, e a inovação deve proporcionar a elevação do nível de qualidade de vida da população. “Recentemente, a palavra inovação também foi inserida neste contexto. Temos que aproveitar para atrelar a inovação ao social, pois esta nova perspectiva deve sempre proporcionar maior qualidade de vida para a população brasileira, não só novos instrumentos comerciais”, acredita.
Ele citou o investimento contínuo em educação, para acelerar o ritmo da inovação no país. “Vocês podem observar que os países que tem ações de ciências na educação, de forma continuada, tiveram maior avanço mesmo com orçamento menor. A nossa garotada é muito inteligente e criativa. Até por conta da diversidade cultural brasileira, temos sempre muitas atividades interessantes nos eventos científicos”, mencionou.
Bolsas para divulgação
A novidade da palestra foi a informação de que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) irá disponibilizar dentro de alguns dias, uma chamada pública destinada à concessão de bolsas de estudos para a divulgação científica. Os principais eventos indicados por Ildeu Moreira para que os profissionais da área exerçam esta atividade são: Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com tema “Ciência, saúde e esporte”, entre 21 e 27 de outubro; Fórum Mundial da Ciência, no Rio de Janeiro (RJ), de 25 a 27 de novembro e o evento internacional Comunicação Pública da Ciência, em Salvador, na Bahia, entre os dias 5 e 8 de maio de 2014.
Por último, citou dois dados de pesquisas de opinião pública. “Cerca de 30% dos entrevistados estão muito interessados e 35% interessados sobre assuntos da ciência e tecnologia no país. A população deve ser ouvida sobre as grandes decisões nas políticas públicas brasileiras, é isso que estão dizendo aqui. Cerca de 66% das pessoas consultadas nessa pesquisa querem opinar sobre as políticas públicas nesta área”, finalizou.