Leia artigo de Cédric Villani, publicado durante o período do Simpósio Balzan-Palis 2013, realizado em Paris, em meados de junho. Villani é matemático, professor da Université Lyon-1, diretor do Instituto Henri-Poincaré (CNRS/UPMC) e ganhador da Medalha Fields em 2010.

“Por sorte ocorreu que no mês passado, poucos dias antes das férias, foram anunciados dois resultados espetaculares na teoria dos números. Em primeiro lugar, chegamos gradualmente à análise de que qualquer número ímpar maior do que 5 é a soma de três números primos (7=2+2+3, 11=3+3+5, etc.); em segundo lugar, existe um número k tal qual uma infinidade de pares de números primos consecutivos que são separados de k. A prova disso nos evidenciou que k é menor ou igual a 70.000.000, de maneira que três semanas depois do relato, os esforços conjuntos de diversos matemáticos conseguiram aprimorar tal constatação colocando que k é menor ou igual a 300.000 – o que ainda nos deixa longe do valor k = 2 (conforme postulava a famosa conjectura dos primos gêmeos).

Outra notável observação a respeito destas duas descobertas é o fato de que foram feitas por matemáticos de países em desenvolvimento – o peruano Harald Helfgott, da École Normale Superieure de Paris, e o chinês Yitang Zhang, da Universidade de Raleigh-Durham. Após terem elaborado suas teses nos Estados Unidos, os dois professores ilustraram maravilhosamente o papel crucial que podem desempenhar hoje alguns acadêmicos imigrantes em laboratórios na Europa e América do Norte. Além disso, hoje é notável a presença massiva de estudantes chineses e coreanos nos campi de universidades dos Estados Unidos, sendo inclusive maioria em alguns cursos.

Muitas vezes pode-se observar que alguns imigrantes, ao regressarem ao seu país de origem, possuem um ótimo potencial para construir centros de pesquisa que se destacam no mapa da ciência internacional. Como exemplo, cito o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), do Rio de Janeiro, que nasceu do sonho louco de três matemáticos brasileiros na década de 1950, e que hoje é um dos mais renomados centros da matemática, cujas numerosas demonstrações de conjecturas são ativas e famosas; e alguns de seus matemáticos jovens são considerados os mais brilhantes do mundo, como Artur Avila e Fernando Codá Marques.

A Ásia nos traz notícias semelhantes: na China, Cingapura e Coreia do Sul, nota-se que os orçamentos para pesquisa decolaram. E assim, em uma lógica irônica de inversão de papéis, as instituições destes locais muitas vezes oferecem condições mais favoráveis e flexíveis a pesquisadores ocidentais do que na Europa.

Utilizar-se das experiências adquiridas no exterior para construir e moldar algo em seu próprio país é um conselho que já foi discutido anteriormente através do texto de Shiing-Shen Chern (1911-2004), um legendário matemático chinês, considerado herói em um documentário recente de George Csicsery. Formado em 1930 na Alemanha e na França, ele foi considerado na Sorbonne o mais brilhante discípulo de Élie Cartan. Exilado nos Estados Unidos durante a guerra, tornou-se o matemático mais respeitado de Berkeley, onde fundou, em 1984, o Mathematical Sciences Research Institute. E durante os últimos vinte anos de sua vida, desenvolveu programas de institutos e mobilidade na China.

Hoje, os estudantes de Chern, suas instituições, bem como seu próprio nome, desempenham um papel importantíssimo para todo o campo de matemática do seu país. Como diz o provérbio chinês, a folha que cai retorna às suas raízes”.