Ao publicar na edição de hoje a reportagem “E-mails revelam divergências em programa de bolsas“, a Folha de S. Paulo prestou um desserviço à ciência brasileira. O programa Ciência sem Fronteiras é um programa ousado, em fase de implementação e em constante aperfeiçoamento, envolvendo estudantes e pesquisadores de diferentes áreas e fases de formação, que certamente impactará positivamente a ciência e a educação do país. Como parte do programa, notáveis cientistas do exterior estão atuando no Brasil como orientadores de nossos estudantes e parceiros de nossos pesquisadores.
A reportagem foca a troca de e-mails entre os presidentes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e-mails estes obtidos de forma apócrifa e publicados fora do contexto de colaboração e interação entre as agências e os pesquisadores. Ressaltamos o papel relevante que os presidentes da Capes e do CNPq, Jorge Guimarães e Glaucius Oliva, cientistas internacionalmente muito respeitados, têm desempenhado em favor da ciência e da educação brasileiras. A Folha poderia se aprofundar nos resultados e impactos positivos da ação conjunta das duas agências, Capes e CNPq, na ciência e educação brasileiras. O sucesso do financiamento da ciência no Brasil se deve às parcerias entre essas e outras agências, em níveis federal, estadual e municipal.
A ABC e a SBPC lutam de forma inequívoca pela liberdade de comunicação e pela liberdade de imprensa, mas de forma alguma pode deixar de protestar quando esta é usada para tirar do devido contexto a comunicação pessoal entre dois respeitados pesquisadores que dirigem agências do porte da Capes e CNPq. Interpretar e-mails isolados, trocados entre Guimarães e Oliva, e tirar conclusões apressadas, como fez a Folha, é extremamente leviano.
Um jornal do porte da Folha deveria ter mais cuidado e poderia consultar membros da comunidade científica para tratar, com mais embasamento, de assunto tão estratégico. Trata-se de um programa que visa não só a ida de jovens brasileiros de talento aos melhores centros científico-tecnológicos no exterior, como também, e crescentemente, visa permitir a vinda de grandes cientistas internacionais ao nosso país, para colaborar na formação de recursos humanos e desenvolvimento de novas pesquisas de nosso grande interesse. Gostaríamos de ver na Folha de S. Paulo e em outros grandes veículos de comunicação, uma discussão séria sobre temas que informem à sociedade o notável avanço da pesquisa científica brasileira, que tem merecido amplo reconhecimento internacional, o que é benéfico ao país e à nossa sociedade.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
JACOB PALIS JR.
Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)