Nascida no Rio de Janeiro, Lucienne da Silva Lara Morcillo cresceu no Méier. O pai era representante de um laboratório farmacêutico e sua mãe, professora de matemática. De acordo com ela, sua infância foi “bem característica de uma família de classe média”: enquanto seus pais trabalhavam, a menina brincava pelo bairro. Era apaixonada por dança e sonhava em ser bailarina: sua brincadeira preferida era ser a professora de balé de sua irmã Danielle, quatro anos mais nova do que ela, e de uma vizinha. Enquanto isso, no colégio, suas matérias preferidas eram ciências e matemática.
A profissão do futuro
Lucienne cursou o segundo grau técnico em biotecnologia na antiga Escola Técnica Federal de Química. “Escolhi esse curso porque biotecnologia era considerada a profissão do futuro. Quando vi, já estava na área”, explica. Nesse contexto, antes de iniciar seu processo de escolha de carreira ela conhecia o campo mais a fundo do que a maioria dos adolescentes e também já havia realizado um estágio no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Apesar de interessar-se por medicina, Morcillo não queria clinicar. Decidiu, então, prestar vestibular para farmácia na UFRJ. Logo que ingressou na universidade, entrou para o Laboratório de Fisiologia Renal – onde fez iniciação científica e, posteriormente, obteve os títulos de mestrado e doutorado. “Como fiz a iniciação científica desde o início do curso, pude desenvolver parte da minha dissertação de mestrado na graduação e da tese de doutorado durante o mestrado. Essa tranquilidade de tempo para a defesa me possibilitou colaborar com alguns colegas e conhecer outros temas de estudo”, reconhece.
Além disso, ela acredita que todos os seus professores – desde a graduação até o pós-doutorado – souberam extrair dela o máximo de seu potencial. “Eles foram orientadores pelo próprio sentido da palavra”, conta agradecida. Após realizar mestrado e doutorado pela UFRJ, ambos em ciências biológicas (fisiologia), Morcillo tornou-se professora da instituição.
As consequências da excessiva ingestão de sal
Atualmente, suas linhas de pesquisa têm como objetivo principal descobrir de que maneira o excesso de sal leva à diminuição das funções do rim. “É de conhecimento de todos que a ingestão exagerada de sal pode provocar hipertensão arterial e danificar os rins. Em último caso, esses danos podem levar o paciente à hemodiálise e ao transplante renal. Entretanto, não sabemos como o sal ativa esses mecanismos moleculares que levam a diminuição da função renal: essa é a minha pergunta”. Para Morcillo, a compreensão desses mecanismos pode auxiliar no desenvolvimento de novos fármacos capazes de prevenir a perda da função renal, diminuindo os gastos públicos no tratamento desses pacientes.
Reconhecimento e formação de novas gerações
Dentre outras distinções recebida por Lucienne Morcillo no decorrer de sua promissora carreira, ela foi laureada com os prêmios Jovem Cientista do Nosso Estado, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), em 2012, e com o Young Investigator, da American Physiology Society, no ano de 2011. Segundo a pesquisadora, eleita Membro Afiliado da ABC no ano de 2012, a nomeação para a Academia significa um incentivo ao crescimento de sua carreira científica. “Significa também a possibilidade de interagir com outros Acadêmicos capazes de contribuir para o meu amadurecimento pessoal e profissional”, destaca.
A um jovem interessado em ciência, Morcillo ressaltaria suas inúmeras áreas de atuação, destacando a possibilidade de unir a aptidão de alguém para determinado campo científico ao desenvolvimento de um conhecimento capaz de transformar a sociedade. Em sua visão, para realizar pesquisa, é necessário ter criatividade e apresentar sensibilidade para ouvir diferentes opiniões. “Não se pode ter preconceito de pensamento e é preciso estar aberto a críticas”, avalia.
Ela ainda conta que duas coisas na Ciência a encantam: o desafio de responder a perguntas inesperadas, pois muitas vezes os experimentos desenvolvidos geram respostas diferentes das expectativas dos cientistas, e sua função social, isto é, sua capacidade de transformar a vida das pessoas. “A possibilidade de discutir e conversar com cientistas renomados, além de conhecer outros países, com suas necessidades e culturas próprias, é algo que me fascina”, afirma.