O amor pelo futebol
“Durante meus primeiros 15 anos de vida, nada me interessou mais do que o futebol.” Segundo Vinícius, ele só começou a dar atenção a outras atividades quando percebeu que, embora fosse um bom jogador, não teria sucesso garantido caso seguisse carreira no esporte.
Suas disciplinas preferidas no colégio eram matemática e história. Tirando o futebol da jogada e dado o seu crescente interesse pela possibilidade de combinar matemática com questões relativas ao comportamento humano, quando chegou o momento de escolher um curso de graduação, Carrasco optou pela economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Outro fator ao qual ele credita sua escolha é o contexto histórico de sua infância. “Tendo crescido em um ambiente econômico bastante adverso, em meio à hiperinflação do final dos anos 80 e início dos anos 90, sempre presenciei debates diários a respeito das melhores formas de se colocar o país de volta aos trilhos”, explica.
Trajetória profissional
Recordando as pessoas que o influenciaram durante o ensino superior, Carrasco logo destacou o professor Marcelo Savino Portugal, seu orientador na iniciação científica. “Ler seus papers de econometria de séries de tempo e não entender absolutamente nada do que tratavam me estimulava muito a estudar”, brinca. Ele ainda completa: “Quando passei a entender sua produção, o estímulo aos poucos me transformou de consumidor em produtor de conhecimento.” Para finalizar – além de seu acompanhamento e tutoria constantes – Vinícius ressalta a importância do curso de microeconomia ministrado por Portugal em sua formação, classificando-o como “absolutamente iluminador para um jovem de 18 anos”.
Após a graduação, Carrasco obteve seu título de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). De acordo com ele, esse período somente confirmou a assertividade de sua escolha e a paixão pela economia só fez crescer. “Minha preocupação com a formalização e disciplina metodológica começou na PUC. Embora muitas pessoas tenham sido importantes nessa fase de minha formação, Márcio Garcia, Rogério Werneck e Humberto Moreira – orientador de minha tese – merecem especial menção”, conta.
O doutorado, por sua vez, foi cursado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. De acordo com Vinícius, a oportunidade de estudar com “gigantes da área” como Susan Athey, Jon Levin, Ilya Segal e Paul Milgrom foi única. Tê-los como orientadores, então, foi uma grande sorte. “Os quatro desempenharam papel fundamental em minha especialização. Junto com Roger Myerson – com o qual tive breve contato durante visitas a Chicago – eles são referências intelectuais indeléveis e tudo o que faço tem alguma conexão com suas pesquisas”, reconhece.
Foi também durante sua estadia na Califórnia que Carrasco começou a dedicar-se ao estudo dos desenhos de mecanismo, alvo de suas pesquisas até os dias atuais. Nessa área, o cientista desenha diferentes instituições econômicas – mecanismos ou “regras do jogo” – capazes de atingir um determinado objetivo. “Por exemplo: diferentes regras de votação – tais como maioria simples, maioria qualificada e decisões por unanimidade – geram, potencialmente, resultados diversos. Dentre todas as possíveis regras, qual induz resultados desejáveis em uma determinada votação? Qual delas minimiza a chance de se condenar um acusado quando ele for inocente?”, explica.
Para melhorar o entendimento a cerca de seu campo de pesquisas, ele exemplifica: “Imaginemos que o governo queira conceder o direito de exploração de blocos de petróleo na camada pré-sal. Qual é o tipo de leilão que gera maior receita para o governo? Um leilão de primeiro ou segundo preço? Um leilão no qual os pagamentos sejam feitos em dinheiro ou através da cessão de participação ao Estado nos resultados?”.
Ser cientista
A ciência, na visão de Vinícius do Nascimento Carrasco, é muito encantadora. O fato de dedicar-se, na maior parte das vezes, a questões para as quais inicialmente não tem a mais remota ideia de qual seja a resposta, é o que mais o cativa. Ele observa que, ao longo de sua relação com a questão, as respostas vão se delineando: em alguns estágios se aproximam e, em outros, se distanciam. “Depois de um tempo, eu sou o problema com o qual estou trabalhando, viro seu refém. Assim, a ordem só será reestabelecida quando, ao encontrar a resposta, o problema voltar a se subordinar a mim. Poucas coisas são mais prazerosas que esse processo de descoberta proporcionado pela ciência, que envolve perder-se no meio do caminho um sem número de vezes”, aponta.
De acordo com ele, um cientista precisa ter muita paciência, perseverança e, é claro, algum talento. A um jovem interessado pelo campo, Vinícius recomendaria a experimentação. “Se o processo lhe der prazer, vá em frente. Caso contrário, talvez a vida de pesquisador não seja a mais apropriada”, opina o especialista em teoria microeconômica, que atualmente é professor assistente da PUC-Rio.
No ano de 2012, Carrasco foi eleito membro afiliado da ABC. “Trata-se de uma grande honra”, disse. O cientista afirma estar esperançoso de que sua relação com os outros Acadêmicos gere benefícios diretos e indiretos a suas pesquisas – ele ainda espera poder recrutar alguns matemáticos interessados em ajudá-lo a provar seus resultados. O inverso, para ele, é também muito válido. “Pretendo dar minha contribuição às pesquisas de outros membros que tenham interesse em interagir comigo”, finaliza.