Carioca, Artur Ziviani cresceu na Tijuca, bairro tradicional da zona norte do Rio de Janeiro. Filho de dois psicólogos, ele afirma ter sido criado em um típico cenário de classe média urbana. Apesar da formação em comum, Ziviani conta que seus pais percorreram caminhos bastante distintos em suas respectivas carreiras. “Meu pai doutorou-se em psicologia social pela Columbia University, em Nova Iorque, e atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, ele colabora com um grupo de pesquisa na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Minha mãe, por sua vez, seguiu carreira na área de recursos humanos e hoje também está aposentada, após décadas de trabalho no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, orgulha-se.

A escolha de carreira: um processo bastante natural

Enquanto Artur optou pelo curso de engenharia eletrônica na Escola Politécnica da UFRJ, sua irmã mais nova seguiu os passos dos pais e ingressou em psicologia também na UFRJ. O fato de não ter se tornado psicólogo, entretanto, não significa que ele não tenha sofrido influência do estreito contato de suas famílias materna e paterna com o ambiente acadêmico. Sobrinho do membro titular da ABC Nivio Ziviani, reconhecido pesquisador na área de ciência da computação – especialmente em algoritmos e recuperação de informação – ele conta que pelo ambiente em que foi criado, onde estudo e cultura eram constantemente valorizados, a escolha pela carreira acadêmica foi natural.

Ainda muito novo, já mostrava grande interesse pela computação. Ziviani conta que ganhou seu primeiro computador no dia em que completou treze anos de idade. “Meu pai, mesmo sendo psicólogo, era um grande entusiasta do uso da computação como ferramenta de análise de dados em sua área de psicologia social e psicometria. Assim, minhas primeiras tecladas foram no teclado emborrachado de um TK90X”, diverte-se.

A partir daí, o envolvimento de Ziviani com programação se concretizou. Apesar de uma constante curiosidade por também entender o hardware, além do software, seu maior interesse eram as tecnologias de informação e comunicação (TICs). “Na época, o curso de engenharia eletrônica da UFRJ passava por uma fase de transição, o que me propiciou a oportunidade de também obter conhecimentos em computação”, conta, valorizando o papel dessa formação complementar em sua trajetória profissional.

Durante a graduação, Artur entrou para a iniciação científica no Grupo de Teleinformática e Automação (GTA), uma equipe que, focada em pesquisa e desenvolvimento, trabalhava na área de redes de computadores e obtinha resultados muito produtivos. Foi nessa época que Ziviani conheceu um professor que seria fundamental no direcionamento de sua carreira. Responsável pelo GTA, Otto Carlos Muniz Bandeira Duarte posteriormente se tornaria seu orientador de mestrado e coorientador de seu doutorado na França.

Além de Duarte e dos familiares já mencionados, Artur também atribui sua escolha de atuação em pesquisa a outras pessoas. Mestre em engenharia elétrica com ênfase em teleinformática pela mesma instituição de sua graduação e doutor em sistemas de informação pela Université Paris VI, na França, ele enumera: “Preciso mencionar a influência dos professores José Ferreira de Rezende, meu c-orientador de mestrado e doutorado, e Serge Fdida, meu orientador de doutorado”. Por último, ele cita o Acadêmico Raul Feijóo como sua grande referência dentro do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) do Ministério de Ciência,Tecnologia e Inovação, instituição na qual ele atua como tecnologista pleno desde 2004.

Sua trajetória profissional ainda conta com um ano como professor da Université de Paris VI e cinco meses de pesquisa no Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação (INRIA, na sigla em francês). Hoje em dia, ele é bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro do conselho editorial de alguns periódicos internacionais, como IEEE Communications Surveys & Tutorials, Computer Networks (Elsevier), International Journal of E-Health and Medical Communications e Journal of Internet Services and Applications (Springer).

Transformando-se em cientista

Quando pequeno, Artur costumava jogar vôlei e futebol com os amigos, “mesmo que não fosse bom em nenhum dos dois esportes”, brinca. Atualmente, estuda as redes de comunicação, principalmente internet e demais redes móveis, consideradas por ele no coração desta “atual tendência de maior conectividade”. Na infância, interessava-se por jogos de estratégia e interpretação (role-playing games). Hoje, estuda a caracterização, análise e modelagem dessas redes na busca por, a partir de um aprofundado entendimento sobre elas, elaborar propostas de melhores serviços e meios de operação das mesmas. Na opinião de Ziviani – que durante o colégio gostava muito de matemática, ciências e história – as atividades praticadas por ele em seus tempos de garoto ajudaram-no a exercitar sua criatividade e raciocínio lógico.

Nesse sentido, Artur afirma que um cientista deve ser curioso por natureza, estando sempre motivado a aprender coisas novas. “Ele deve ser um eterno insatisfeito com o seu conhecimento atual”, resume. O pesquisador também ressalta a importância do espírito crítico e da capacidade analítica para a identificação dos pontos cruciais de um problema, bem como da capacidade de propor soluções criativas para os impasses que surgirem ao longo do caminho. “Outro aspecto bastante significativo é a vontade de passar a experiência adquirida adiante, formando novos profissionais qualificados”, aponta.

Apaixonado por ciência, ele a define como uma eterna busca pelo entendimento do mundo à nossa volta e pela organização do conhecimento já adquirido. “Isso, por si só, já me parece encantador”, afirma. A um jovem que apresenta interesse pelo campo científico, suas palavras seriam de incentivo. “As possibilidades de atuação em pesquisa de alto nível no Brasil estão se expandindo, bem como a inserção e reconhecimento internacional da comunidade científica brasileira. Além disso, o ecossistema de ciência, tecnologia e inovação também se encontra em plena transformação, dada a expansão e instalação de diversos centros de pesquisa industriais no país”, Ziviani diria, não deixando de apontar as muitas dificuldades que ainda devem ser superadas.

Esforços reconhecidos

Sua dedicação à ciência não passa despercebida e o reconhecimento começa a aparecer, na forma de prêmios e titulações recebidas pelo pesquisador nos últimos anos. Além de ter sido escolhido, dentre 120 candidatos, o Jovem Cientista do Nosso Estado, distinção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), nos anos de 2008 e 20011, Ziviani foi eleito, em 2012, membro afiliado da ABC. Agradecido, ele comenta: “Tive a honra de ser indicado pelo Acadêmico Edmundo Souza e Silva, que, junto com o também Acadêmico Virgilio Almeida, são referências na minha área específica de atuação”.

Motivado pelo apoio vindo de muitos membros titulares da instituição, ele espera que seu ingresso na ABC permita maior contato com diversos pesquisadores em diferentes áreas do conhecimento. “Acredito que essa troca de experiências de atuação em pesquisa sobre ângulos distintos possa enriquecer a todos, também criando uma base de reflexão que gere sugestões concretas e viáveis para o aprimoramento de nossas condições de atuação. Acredito que essa interação entre jovens pesquisadores promissores e aqueles já consagrados em suas respectivas áreas possa abrir boas perspectivas para a articulação de trabalhos de pesquisa multidisciplinares com grande potencial de impacto socioeconômico”, completa.