A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) promoveu na sua sede, em Paris, em 4 de abril passado, o segundo encontro de cientistas israelenses e palestinos, intitulado Sciences, réseaux, conscience 2. O encontro teve grande importância política e científica, como instrumento de diplomacia da ciência para a promoção da tolerância e da paz. O presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, e o presidente da Academia de Ciências da Hungria, József Pálinkás – ambos copresidentes do Fórum Mundial de Ciências 2013, que será realizado no Rio de Janeiro em novembro próximo, estiveram presentes.
O evento contou com três painéis, promovendo reflexão sobre o conceito de “diplomacia científica”; a exposição de diversos testemunhos de cooperação científica entre palestinos e israelenses; e a apresentação de iniciativas concretas de cooperação na gestão de recursos hídricos no Mediterrâneo Oriental.
Além dos professores Palis e Pálinkás, o colóquio contou com a participação, entre outros, do membro correspondente da ABC Claude Cohen-Tannoudji, professor honorário do Collège de France, prêmio Nobel de Física em 1997, e de Catherine Bréchignac, secretaria perpétua da Academia de Ciências; e dos seguintes cientistas palestinos e israelenses: Hasan Dweik, palestino, co-diretor da Organização Científica Israelo-Palestina (IPSO); Dan Bitan, israelense, co-diretor da IPSO; Amiram Goldblum, israelense, Escola de Farmácia-Instituto para Pesquisa de Medicamentos; Yousef Najajreh, palestino, Universidade Al-Quds; Eilon Adar, israelense, Universidade Ben-Gourion; Nahum Karlinsky, israelense, Universidade Bem-Gourion; Omar Yousef, palestino, Universidade Al Quds; Amer Sawalha Marei, palestino, Universidade Al Quds.
A despeito da menção explícita à diferença de condições materiais dos dois povos (We live together separately), o tom geral do evento foi muito positivo, com referência frequente ao fato de que ambos os povos compartilham as mesmas dificuldades e desafios naquela região do Mediterrâneo. Caso emblemático seria o da gestão da água, escassa – We suffer or enjoy the same water -, em que há compartilhamento de recursos hídricos tanto superficiais como subterrâneos, situação que serviria como catalisador da cooperação regional. Ainda assim, palestinos e israelenses fizeram a ressalva de que a cooperação científica, ainda que intensa, ocorria com mais fluidez até o início do processo da Segunda Intifada. Desde então, mesmo pesquisadores palestinos experientes têm enfrentado dificuldades para deslocar-se internamente, por óbices burocráticos.
Tanto na abertura do evento, a cargo do Embaixador Daniel Rondeau, representante permanente da França na Unesco, como na intervenção final do evento, feita pelo professor Jacob Palis, mencionou-se a programação de evento paralelo dedicado à diplomacia científica durante o Fórum Mundial de Ciências do Rio de Janeiro. Tal ocasião poderá constituir nova oportunidade para o prosseguimento do diálogo sobre cooperação entre cientistas palestinos e israelenses.