Na cerimônia de diplomação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências, realizada na Escola Naval em 7 de maio, o primeiro discurso da noite foi do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp.

Após a execução do Hino Nacional, o ministro Raupp – que é matemático e ex-presidente da SBPC e da Agência Espacial Brasileira – deu as boas vindas aos novos membros titulares da Academia e ressaltou que, a partir da data daquela cerimônia, eles passavam a ser formalmente reconhecidos como “ativos praticantes e representantes da ciência nacional em seu mais alto nível de competência.” De acordo com o ministro, a ABC também ganha com a chegada dos recém-diplomados: uma vez que cresce o número de pesquisadores comprometidos a participar das atividades da organização, é também aumentada sua representatividade. “Como a Academia se torna mais fortalecida, ganha a ciência brasileira como um todo e, portanto, ganha também o país”, afirmou.
Renovar e redimensionar os compromissos da ciência com o Brasil
Analisando a conjuntura de CT&I no Brasil de hoje, Raupp avalia que agora temos, verdadeiramente, um sistema de ciência e tecnologia. Agora ele acha que a questão é estabelecer quais devem ser os compromissos da ciência com o desenvolvimento do Brasil. Referiu-se então à abertura da VII Conferência da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), realizada em fevereiro de 2013 e organizada pela ABC, cujo tema era “Ciência para erradicação da pobreza e desenvolvimento sustentável”. “Cientistas de dezenas de países estavam aqui para pensar e discutir formas de se promover ascensão social dos menos abastecidos e desenvolvimento sustentável dos países, essas duas demandas em âmbito mundial. Penso que devemos trazer essa discussão para o âmbito do Brasil, uma vez que a nossa realidade pede isso. E nós, como cientistas, não podemos dar as costas a ela.”
Gargalo da educação: do quantitativo para o qualitativo
O ministro remeteu-se então aos aspectos da vida nacional que, a seu ver, exigem compromissos vigorosos e explícitos por parte da ciência. Em primeiro lugar, ele citou a educação, “que é a base da cidadania, da soberania e também da própria ciência.” Em relação ao ensino fundamental, o mais estreito e renitente gargalo no Brasil, Raupp avaliou que o desafio quantitativo da universalização do acesso já foi vencido. “O principal desafio agora, que é o qualitativo, ainda está longe de ser superado.” Para tanto, ele acha que a comunidade científica deve se colocar, com vigor, na busca de respostas para os desafios, que envolvem a recuperação do status da escola, a qualificação dos professores e o desenvolvimento de metodologias de ensino compatíveis com o jovem de hoje e capazes de proporcionar efetivo aprendizado.
Quanto ao ensino médio, o ministro acha que o sistema único que existe no Brasil atualmente não oferece oportunidades para que os estudantes se aprofundem em áreas para as quais têm vocação. “Esse sistema deve mesmo perdurar? Nessa fase do desenvolvimento do jovem, o que se quer não é estimulá-lo a descobrir sua vocação?”, questionou. Por experiência própria, segundo ele, um ministro sozinho não conseguirá vencer todos os desafios que o País tem pela frente no campo educacional. Para Raupp, a sociedade precisa colaborar, e o envolvimento direto e decisivo da comunidade científica é imprescindível.
Investimento diferenciado na Amazônia
Outro aspecto abordado pelo ministro de CT&I foram os desequilíbrios socioeconômicos regionais existentes no Brasil. Raupp ressaltou que de uns tempos para cá, editais e programas do Ministério têm procurado garantir uma participação mínima de instituições do Norte e do Nordeste. “Há uma percepção de que essa política vem proporcionando resultados positivos, mas creio que, além de ser mantida, precisamos de ações mais vigorosas, de maior envergadura, para fazer com que a atividade científica seja um elemento de superação dos desequilíbrios regionais em nosso País.”
Ele se referiu ao fato de que, em 2008, a Academia e a SBPC já haviam alertado sobre a necessidade de uma atenção especial à ciência na Amazônia. “Estamos procurando fazer isso agora, acrescentando ao papel básico da ciência na região o seu envolvimento com os interesses das populações locais”, relatou Raupp.
Inovação é prioridade e requer atitude do setor empresarial
Por fim, o ministro abordou a relação entre o universo acadêmico e as empresas. A respeito das atividades de pesquisa nas empresas, visando especialmente a inovação tecnológica, Raupp afirmou que, obviamente, todos queremos o ingresso definitivo do Brasil na economia do conhecimento. Mas alertou que isso somente ocorrerá com a C&T posicionadas organicamente no seio da sociedade. “A geração da riqueza que o País precisa vai depender cada vez mais da agregação de valor à produção, o que faz por exigir uma maior participação da C&T na economia. Mesmo a produção competitiva de commodities depende da ciência e da tecnologia.”
Ele acha que o Brasil já tem condições para isso, pois já conta com um sistema que sabe produzir ciência e tecnologia. Se esse saber ocorre na sua maior parte em termos da produção científica de natureza acadêmica, do ponto de vista do ministro, “o que precisamos fazer é expandir o sistema de C&T para os setores industriais e de serviços.” Como exemplo, Raupp tomou o uso estratégico do conhecimento na biodiversidade do país, que certamente poderá dar ao Brasil a condição de primeira potência ambiental do planeta. “Precisamos fazer mais, na intensidade e na escala que o país necessita. Precisamos renovar e redimensionar os compromissos da ciência com o Brasil.”
2013: um ano sem contingenciamento
Finalizando, o ministro Raupp deu uma boa notícia: garantiu que a presidente Dilma assegurou a destinação integral do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) às atividades de C&T neste ano – ou seja, em 2013 não haverá contingenciamento no FNDCT.
“Agora, nesta semana, recebemos mais uma informação alvissareira por parte do Ministério da Fazenda: o MCTI não será incluído nos cortes que serão feitos nas despesas do governo federal, com vistas a atingir as metas de equilíbrio macroeconômico.”
Portanto, Raupp avalia que o governo está depositando na comunidade científica a credibilidade e a confiança necessárias e que a resposta afirmativa a esse chamamento será o sinal para a sociedade de que ela acertou ao investir na ciência, será o passo que precisa ser dado para se consolidar o círculo virtuoso que o Brasil tanto precisa: investimento em ciência resulta em desenvolvimento do País, que resultará em mais investimentos na ciência… “E tudo isso resultará no Brasil que queremos: moderno, próspero para todos, justo, democrático, soberano e reconhecido internacionalmente, que só será construído com o concurso da ciência. Convido a nossa comunidade a encarar esse nobre compromisso.”

Veja a íntegra dos discursos realizados na Posse.

< b>Novo membro institucional diplomado

O Acadêmico Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), recebeu das mãos do presidente da ABC o Diploma de Membro Institucional Associado. Na foto, o diplomado ao lado do presidente do Conselho de Administração do CNPEM, Pedro Wongtschowski.
CNPEM é a nova denominação da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS), organização social qualificada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), responsável pela gestão dos Laboratórios Nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), de Biociências (LNBio), de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e de Nanotecnologia (LNNano). Os equipamentos de pesquisa dos quatro Laboratórios são abertos à comunidade acadêmica e empresarial do Brasil e do exterior, têm projetos próprios de pesquisa e participam da agenda transversal de investigação coordenada pelo CNPEM, que articula instalações e competências científicas em torno de temas estratégicos.