O terceiro episódio da série, exibido pelo jornal em 03 de março de 2013, demonstrou como o desempenho de estudantes e atletas pode ser melhorado a partir de treinamentos direcionados ao aumento de suas capacidades de concentração e autocontrole. Alvo de pesquisa de alguns profissionais – como Ruy Marra, recordista mundial em número de vôos duplos – a neurociência vem se mostrando capaz de auxiliar na obtenção de resultados positivos quando aplicada ao esporte.
Curioso sobre o motivo pelo qual os indivíduos reagem de modos diferentes quando se encontram diante de situações de tensão, ele realizou uma pesquisa com duas mil pessoas que voaram com ele durante um período de dez anos e descobriu que a reação de cada um depende do afeto recebido durante a infância. Nesse sentido, neurocientistas afirmam que as trocas afetivas entre pais e filhos no início da vida são fundamentais para a formação do sentimento de segurança dessa criança no futuro.
Por meio de jogos de tabuleiro e de raciocínio, Marra – que é também neurocientista – ajuda seus alunos, como a judoca carioca Kelly Rodrigues, a desenvolverem maior foco durante suas atividades. Tudo isso por meio da neurociência. No episódio, também vemos que a Confederação Brasileira de Judô também faz uso dessas técnicas: o também judoca Rafael Silva, o Baby, ganhou medalha de bronze em Londres utilizando-se da neurociência para preparar-se mentalmente.
Segundo a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana Herculano-Houzel, ninguém consegue prestar atenção a duas coisas ao mesmo tempo. “O que a gente consegue fazer é alternar entre duas coisas”, explica. O terceiro episódio da série ainda mostra uma escola do município cearense de Caucaia, a qual trabalha com um método israelense baseado na neurociência, trazido ao Brasil pela pedagoga Sandra Garcia.
Já no quarto episódio – que foi ao ar em 21 de março deste ano – é divulgado um projeto pioneiro que une neurociência à educação em escolas do Brasil. A iniciativa é de um Acadêmico, o professor titular do Departamento de Neurobiologia e co-diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA) Miguel Nicolelis. Para ler seu perfil, presente na matéria do primeiro episódio da série, clique aqui.
Segundo com Felipe Massa, mesmo a mais de 300 quilômetros por hora, muitas vezes ele enxerga as cenas de uma corrida em “slow motion”. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Neurociência Cognitiva da University College, na Inglaterra, cientistas comprovaram que essa percepção ocorre em muitas modalidades do esporte, não só no caso dos pilotos de Fórmula 1. De acordo com os resultados obtidos, o profissional está tão treinado e condicionado àqueles movimentos que seu cérebro tem a ilusão de ter mais tempo para realizar as ações em questão.
Há exercícios que intensificam ainda mais essa percepção, como a prática realizada pelo também piloto Bruno Senna antes de suas corridas: após utilizar um óculos – cujas lentes ficam “piscando” – criados especialmente para este tipo de treinamento, ele tem a impressão de que tudo está um pouco mais lento. Era exatamente o que fazia o tio de Bruno, Ayrton Senna. Ele conseguia usar, como poucos, as informações que tinha e, sempre, impressionava os mecânicos. “O cara conseguia acertar o carro sentindo no corpo dele as nuances do asfalto, que a telemetria da Honda não conseguia detectar. Então o corpo dele era um transdutor para o cérebro dele que ultrapassava a tecnologia”, afirma Nicolelis.
Em Macaíba, na região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte, há um projeto pioneiro e ambicioso, que une neurociência à educação: o Campus do Cérebro, criado por Miguel Nicolelis. A obra – iniciada em 2010 e com previsão de inauguração ainda para este ano – já impressiona por seu tamanho: trata-se de uma imensa estrutura no meio de uma zona rural. Quando finalizada, ela será uma escola de tempo integral para 1.500 crianças ao lado de um grande centro de pesquisa de neurociência.
Não será a primeira experiência da equipe de Nicolelis em sala de aula. Desde 2007, eles são os responsáveis pelo projeto Educação Para Toda Vida, para jovens de dez a 15 anos. Em dois colégios no Rio Grande do Norte e um na Bahia, 1.500 alunos participam de aulas em laboratórios, oficinas de biologia, computação, ciências, robótica. As aulas que eles têm são extracurriculares e apenas duas vezes por semana. Os alunos vieram de escolas públicas da região, onde continuam estudando, mas agora têm dois colégios, cada um em um turno. “Nós fomos a escolas com dificuldades porque a minha proposta era essa mesma. Eu quero ir a um lugar onde ninguém iria, eu quero ir a um lugar onde as crianças jamais receberiam essa atenção”, orgulha-se o Acadêmico.