Depois de três dias de debates, a VII Conferência e Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), se encerrou nesta terça-feira, dia 26 de fevereiro, no Rio de Janeiro. As ideias e propostas sobre o tema “Ciência para a Erradicação da Pobreza e o Desenvolvimento Sustentável”, discutidas pelos presidentes das academias e cientistas foram reunidas num documento chamado Carta do Rio.
A palestra de encerramento foi conduzida por Ruth Arnon, presidente da Academia de Ciências e Humanidades de Israel. Segundo ela, na redação do documento optou-se por usar “redução” da pobreza no lugar de “erradicação”. “O primeiro item da Carta diz que a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável exigem que enfrentemos grandes desafios-chave em saúde, alimentação, água, energia, biodiversidade, clima e educação, gestão de desastres, entre outros”, detalhou.
O documento final também mostra que para resolver grandes desafios será necessário que inovação e ciência estejam integradas: a aplicação coordenada de inovação científica / tecnológica, social e de negócios para desenvolver soluções para desafios complexos. Também está claro que ao ajudar a resolver os grandes desafios, as Academias de Ciências estarão ajudando a chegar nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015.
De acordo com Marcos Cortesão (à direita na foto, ao lado de Marcello Barcinski), assessor técnico da ABC, o documento não é a versão final. “Ontem foi apresentada uma minuta da Carta do Rio. Ainda existem algumas sutilezas a serem acertadas. O Comitê Científico do evento se encarregou de preparar essa redação final à luz da discussão que foi travada e ela será divulgada muito brevemente, imagino que no período de mais ou menos uma semana”, presume.
Ainda segundo ele, o objetivo é realizar um chamado às Academias para que elas se engajem nas ações apontadas pela Carta. “Por outro lado, está sinalizando publicamente aos governos e à sociedade em geral qual a visão das Academias de Ciências a respeito da responsabilidade e da potencial contribuição delas em relação aos grandes desafios que a humanidade enfrenta – principalmente os ligados à erradicação da pobreza e ao desenvolvimento sustentável. Trata-se, portanto, de uma manifestação por parte das Academias de Ciências reunidas no Rio de Janeiro para demonstrarem seu engajamento frente a essas questões”, afirmou.
Para Cortesão, a ideia é que cada academia divulgue a carta de maneira nacional e o mais amplamente possível, inclusive encaminhando-a para os seus respectivos governos. Ele informou que uma cópia será enviada ao Secretário Geral das Nações Unidas. “É de nosso interesse que ela tenha publicidade em um âmbito mundial, para que a sociedade esteja ciente desse potencial apoio proporcionado pela comunidade científica para a construção do nosso futuro”, anima-se.
A Carta do Rio relata ainda que as Academias de Ciências têm a capacidade e deverão mobilizar os melhores cérebros em todo o mundo e de diferentes disciplinas, para auxiliar na definição, abordagem e resolução de grandes desafios. Em outros pontos, o documento aponta para a atuação das Academias de Ciências que devem trabalhar em conjunto para enfrentar os grandes desafios da redução da pobreza.
Cortesão vê a VII Conferência da IAP como a demarcação de um compromisso das Academias de Ciências em enfrentar o grande desafio de erradicação da pobreza nos marcos da sustentabilidade. “Não se trata tão somente de erradicar a pobreza, pois essa erradicação não pode ser construída de uma forma insustentável. As academias se posicionam em sintonia com o que foi apontado no documento O futuro que queremos, da Rio+20, e também com o grande debate que está sendo travado no sistema ONU, colocando-se à disposição para colaborarem com todos os atores relevantes da sociedade na discussão de uma agenda pós 2015 e na construção das metas do desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Propostas de atuação conjunta das academias:
– Promover o papel de Academias em avaliar a força e a fraqueza do atual sistema operacional de C&T em todo o mundo, quanto a capacidade para abordar as questões científicas relacionadas com o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza;
– Reforçar o papel das Academias em assessorar governos e tomadores de decisão sobre as melhores políticas de C&T com base para atuar sobre os Grandes Desafios e as questões da pobreza. Tal conselho pode ser fornecido na forma de políticas relevantes, declarações e relatórios curtos usando a melhor evidência científica disponível;
– Participar e aconselhar, nos níveis nacional e global, o processo sendo definido pela ONU e governos nacionais, visando o desenvolvimento das Metas de Desenvolvimento Sustentável, que irão construir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e convergir com a agenda de desenvolvimento pós-2015.
– Auxiliar na orientação de jovens cientistas, promovendo a sua participação para concentrar parte de suas pesquisas para o fornecimento de soluções para os principais e grandes desafios;
– Promover a participação das mulheres na ciência e na solução de grandes desafios. Empreendedorismo científico e tecnológico devem pertencer a todos, independente de nacionalidade, crença religiosa, origem social e gênero.
– Facilitar a vinculação de projetos aos grandes desafios para que as Academias possam promover uma maior participação, visibilidade e aumento de escala dos projetos, incluindo a abordagem que ajude a traduzir C,T & I para a inovação empresarial e comercialização.
– Auxiliar na ligação da ciência para a sustentabilidade e a Educação. Programas como o da IAP “Educação Ciência baseada na investigação” e da UNESCO / ONU “Educação para o Desenvolvimento Sustentável” devem integrar ciência e sustentabilidade em suas novas abordagens para o ensino de ciências.
– Auxiliar no aumento do nível de consciência, engajamento público e compreensão da ciência através da comunicação, usando experiências de sucesso e estudos de caso, que mostrem o papel da CT & I na resolução de grandes desafios e na redução da pobreza, em um formato de fácil compreensão para o público em geral.
Ao final, Peter Singer, CEO da Grand Challenges Canada, e Marcello André Barcinski, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ambos do comitê organizador da conferência, destacaram o formato e a organização do evento. “Os Laboratórios de Desafios foram um sucesso, grande parte pela atuação de seus moderadores que tornaram os encontros interessantes para os participantes, com muitas trocas de ideias e experiências”, conclui Barcinski.