Entre os dias 5 e 8 de novembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu a 7a edição da conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe, que é uma ocasião para os cientistas de diversas áreas relatarem o avanço do conhecimento em suas as áreas, além de conhecerem o progresso alcançado em outras. O evento acontece anualmente, integrando várias gerações de pesquisadores da comunidade científica da parte Sul do continente.
As palestras sobre as ciências físicas ocorreram no dia 5 de novembro, coordenadas pelo Acadêmico Carlos Aragão de Carvalho Filho (CNPEM/UFRJ). Os palestrantes foram o Acadêmico Adalberto Fazzio (MCTI) e os pesquisadores Antônio José Roque da Silva (Laboratório Nacional de Luz Síncroton – LNLS), Luiz Nicolaci (Observatório Nacional – ON) e Rogério Rosenfeld (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp). Com o grau de complexidade dos problemas da ciência aumentando, os pesquisadores estão em busca de alianças com outras áreas. Neste aspecto, a física tem se destacado. Para Aragão, o simpósio é um espaço ímpar para as várias disciplinas dialogarem: “Nós sabemos que a ciência está cada dia mais interdisciplinar, multidisciplinar e portanto esta ocasião que a Academia nos oferece é muito importante e oportuna”.
Doutor em física pela Universidade de São Paulo (USP), o Acadêmico Adalberto Fazzio, coordenador geral de micro e nanotecnologia da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovações (Setec) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), comentou uma descoberta recente na área de física dos materiais. Ele explicou que há uma nova classe de materiais cujo corpo é isolante e a superfície é metálica. Classificados como “materiais protegidos”, a importância deles é que caso ele possua defeitos ou impurezas o elétron não as reconhecerá, não havendo espalhamento, diminuição ou geração de calor. “Estes materiais protegidos têm uma corrente diferenciada, que é uma corrente de spintronica, útil provavelmente para computação quântica e outras tecnologias. O que prova que a pesquisa básica é fundamental para que uma nova tecnologia seja desenvolvida”, explicou. “E por ser tão fundamental, requer investimentos contínuos.”
Doutor em física pela Universidade da Califórnia (EUA), Antônio José Roque da Silva é professor titular da USP e diretor do LNLS, laboratório que opera a única fonte de luz síncroton da América Latina e um conjunto de instrumentos científicos para análise dos mais diversos tipos de materiais, orgânicos e inorgânicos. O Brasil foi o primeiro país a ter um anel de radiação síncroton do hemisfério Sul e continua sendo o único país a possuí-lo na América Latina. Hoje este equipamento é considerado de segunda geração, embora seja ainda fundamental para o desenvolvimento da ciência brasileira e de toda a América Latina. “O investimento em um novo equipamento de tecnologia avançada permitirá, por exemplo, que o país estabeleça mais parcerias internacionais e continue o desenvolvimento de suas pesquisas”, explicou.
Doutor em física pela Universidade de Chicago (EUA), Rogério Rosenfeld, professor livre docente da Unesp, abordou a partícula descoberta com propriedades muito semelhantes as do bóson do Modelo Padrão proposto por Peter Higgs, que explica a origem da massa das partículas elementares em geral e, em particular, dos bósons, na década de 1960. “Não há provas definitivas de que a partícula descoberta é o bóson de Higgs do Modelo Padrão, até porque há outros modelos que preveem partículas semelhantes, com propriedades um pouco distintas”. Para ele, serão necessários outros experimentos para comprovar ou não a descoberta.
Doutor em física pela Universidade de Harvard (EUA), Luiz Nicolaci, professor titular do Observatório Nacional (ON), é o líder brasileiro do Dark Energy Survey, que sonda a origem do universo para ajudar a descobrir a natureza da energia escura. O equipamento mede a história da expansão cósmica com alta precisão. “Todos os avanços da ciência reunidos, digamos que eles explicam 5% do universo. Do restante, 75% chamamos de energia escura e 25% de matéria escura. O projeto é fundamental para dar prosseguimento aos experimentos sobre as propriedades desta partícula que pode ser o bóson do Modelo de Higgs. A energia escura poderia ser uma manifestação do campo de Higgs, mas o que se viu até o momento caminha na direção oposta, indicando que não é o caso”, explicou.
Encerrando a sessão, Carlos Aragão enfatizou a importância do simpósio para as ciências físicas: “Por meio dele, divulgamos a situação das ciências físicas, no que avançamos e, principalmente, no que precisaremos avançar. Sabemos o que é desafio intelectual, o que é desafio tecnológico, o que será resolvido pelos nossos cientistas, o que será resolvido pelo investimento na ciência”, concluiu.