Leonardo S. Santos, Vitor Francisco Ferreira, Fernando de Carvalho da Silva,
Kleber Thiago de Oliveira e Paulo Henrique Schneider
Kleber Thiago de Oliveira e Paulo Henrique Schneider
Quatro jovens cientistas apresentaram suas pesquisas na sessão de Ciências Químicas, realizada no dia 5 de novembro, no auditório da Academia Brasileira de Ciências, dentro da conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2012. O coordenador da mesa, Acadêmico e professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitor Francisco Ferreira, afirmou que apesar dos palestrantes terem ingressado na área científica há poucos anos são todos muito bem qualificados. “Eles fizeram brilhantes apresentações, mostrando como estão trabalhando os novos químicos no Brasil”, destacou.
O Acadêmico ressaltou que os cientistas mostraram pesquisas que caminham no mesmo sentido: todos realizam química de boa qualidade voltada de alguma forma para uma aplicação na área biológica, buscando moléculas bioativas contra várias enfermidades, como câncer, doença de chagas, leishmaniose e HIV.
Novas alternativas de fármacos para doenças negligenciadas
É também nesse sentido que caminha a pesquisa do professor adjunto da UFF e editor da Revista Virtual de Química e do Journal of Organic Chemistry Research, Fernando de Carvalho da Silva. Sua pesquisa busca sintetizar, de maneira simples, moléculas orgânicas com interesses biológicos e farmacológicos. Para isso, ele utiliza moléculas 1,2,3-Triazóis, que têm sua excelência reconhecida nas atividades principalmente antivirais e antitubercular, e moléculas quinonas, que possuem uma gama
de atividades inibidoras de enfermidades como tuberculose, leishmaniose, fungos, malária, doença de chagas e câncer.
O trabalho, intitulado “Síntese de pequenas moléculas para importantes alvos biológicos”, também envolve doenças negligenciadas, que geralmente não são alvo de interesse de multinacionais farmacêuticas. Para essas empresas não é uma prioridade fazer investimentos e desenvolver substâncias com o objetivo de combater essas doenças, por serem características de países pobres, com pouca atração comercial.
O pesquisador exemplificou a importância da pesquisa citando as buscas por fármacos alternativos contra a doença de Chagas, que é considerada extremamente negligenciada. “É sabido que o investimento dos países do hemisfério Norte na pesquisa de fármacos para esse tipo de enfermidade é bem limitado, tanto que o fármaco utilizado até hoje é o mesmo desde de 1970”, disse Fernando, referindo-se ao medicamento Benznidazole, que é considerado agressivo para a pessoa que se submete ao tratamento.
Por fim, ele comentou sobre resultados ainda não publicados e perspectivas das pesquisas de seu grupo, que revelam resultados em atividades no combate a diabetes, a dengue e outras enfermidades.
Das atividades fotossensibilizadoras aos novos materiais
O segundo a falar foi o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Kleber Thiago de Oliveira, com o trabalho intitulado “Porfirinas, Ftalocianinas e seus Derivados: das Atividades Fotossensibilizadoras aos Novos Materiais”. Ele iniciou comentando a importância de se fazer ciência de base para avançar com novas aplicações de estruturas químicas, tornando a ciência mais aplicável ao cotidiano.
Dentre os objetivos da pesquisa estão o de realizar síntese total (criação e desenvolvimento) de algumas novas moléculas, como por exemplo metodologias sintéticas e transformações de grupos funcionais em sistemas naturais. Esses sistemas geralmente são compostos naturais dos quais são extraídas substâncias a serem modificadas visando potencializar a atividade, estrutura ou utilização da molécula. Para isso, são usados os compostos heterocíclicos, essenciais para o desenvolvimento de novos medicamentos.
Ao justificar a escolha de trabalhar com a classe de compostos heterocíclicos, o pesquisador afirmou que a principal motivação é por esses compostos conterem atividade fotossensibilizadora, com grande aplicação em terapia fotodinâmica, que é uma forma de tratamento de tumores, no qual são usados luz e compostos fotossensíveis. “Basicamente a substância química, o fotossensibilizador, atua como uma antena que absorve energia luminosa transferindo-a para o oxigênio, que atua como agente citotóxico”, explicou. Essa é uma maneira de tentar inibir o crescimento rápido e desordenado de células tumorais.
Além disso, os fotossensibilizadores possuem outras aplicações,’, que vão desde tratamentos dermatológicos e de lesões tumorais, passando por combate a vírus, bactérias e fungos, chegando a aplicação de moléculas fluorescentes para a detecção de tumores. “Não apenas é possível tratar a lesão com esses fotossensibilizadores, mas também detectar a lesão na sua posição específica e com isso conseguir um tratamento muito mais rápido”, frisou o pesquisador, destacando as características não invasivas da terapia fotodinâmica para o tratamento de muitas doenças.
Por fim, o cientista falou sobre as aplicações dessas moléculas na área de materiais inteligentes, como o aperfeiçoamento de células solares, criando substâncias químicas capazes de converter energia solar em energia elétrica, de sensores de gás, de semicondutores e de cristais líquidos. “O nosso objetivo é tentar atuar promovendo a evolução estrutural, sintetizando novas moléculas no intuito de melhorar as características desses fotossensibilizadores, tornando-os cada vez mais ativos e viáveis”, concluiu.
Terapia com precisão contra o câncer
“Sintetizar compostos realmente ativos para melhorar o ataque a certas enfermidades é realmente a solução?” – indagou o professor da Universidade de Talca, no Chile, Leonardo S. Santos, no início de sua palestra intitulada “Síntese e caracterização de nanocompostos (Polímeros Inteligentes): aplicações na terapia de precisão contra câncer”. Em seguida, dele mesmo veio a resposta: “O problema não está nos compostos ativos, que são eficientes, mas está na maneira como são conduzidos até a enfermidade”.
Santos desenvolve no Laboratório de Sínteses Assimétricas (LAS) e no Centro para Nanociência (CeNS) um projeto colaborativo com o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e o que ele quis enfatizar em sua resposta inicial fica evidente quando se sabe mais sobre suas pesquisas. O objetivo do seu grupo é buscar maneiras eficazes de administrar o composto ativo de maneira seletiva no combate ao câncer, para que a droga seja conduzida com precisão até as células tumorais e aja apenas somente sobre elas, não afetando as células normais.
O pesquisador comentou sobre uma técnica desenvolvida com o intuito de auxiliar o médico na discriminação entre o tecido tumoral e o tecido não doente, na qual é aplicado o nanocomposto com um marcador fluorescente que é ativado apenas no tecido tumoral. Dessa maneira, o especialista pode detectar com precisão a região tumoral a ser tratada, sem pôr em risco tecidos normais.
Por fim, Santos comentou que a América Latina frequentemente perde cientistas para outros país, ao mesmo tempo em que é pouco atrativa para pesquisadores estrangeiros. Ele reiterou a importância de se aplicar recursos em pesquisa no país de maneira centralizada, para construir capacidade científica. “O Brasil e a América Latina devem posicionar o continente com instituições fortes que atraiam pesquisadores estrangeiros para cá”, concluiu.
Compostos derivados de calcogênio
O último a falar foi o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Acadêmico, Paulo Henrique Schneider, que tratou de “Compostos derivados de calcogênio: síntese e aplicações”. Nos seus estudos, Schneider desenvolve síntese de compostos derivados ou que contenham átomos de calcogênio (todos os elementos do grupo 16 ou 6A da tabela periódica) para aplicação em diferentes áreas do conhecimento. Como exemplo, ele cita as áreas de organocatálise e de materiais funcionais que possuem propriedades com aplicações tecnológicas, assim como o trabalho de síntese de pequenas moléculas (peptídeos não naturais) e de moléculas para avaliação biológica.
A opção por trabalhar com átomos de calcogênio é justificada pela característica de eletronegatividade que esses elementos possuem, que varia de acordo com o tamanho do átomo. “Esse aspecto é extremamente importante na área de materiais, pois pode produzir nesses compostos que contem átomos de calcogênio qualidades completamente distintas, simplesmente pela variação de um átomo”, comentou o Acadêmico.
As pesquisas de Schneider buscam, através da variação da estrutura de átomos de calcogênio, identificar essas qualidades distintas das diferentes estruturas, com objetivo de chegar a compostos com desempenho superior aos conhecidos. “Dos dez produtos farmacêuticos mais vendidos em 2009, oito desses compostos têm pelo menos um carbono assimétrico e são comercializados dessa forma”, informou o cientista. Para ele, é imprescindível que se desenvolvam metodologias que consigam otimizar e fazer a síntese de compostos de maneira a controlar esses carbonos assimétricos, para um maior rendimento do composto.
Schneider também comentou sobre a possibilidade de síntese de compostos contendo calcogênio para aplicação na avaliação toxicológica dos fármacos. Ele concluiu apresentando sua linha de pesquisa na área de materiais, na qual são utilizadas as propriedades dos átomos de calcogênio para identificar qual é a sua influência no material final. Para isso, o grupo de pesquisa trabalha com cristal líquido (estado intermediário entre o sólido e o líquido), podendo ser aplicado, por exemplo, em displays, sensores de pressão e temperatura e membranas celulares.