Juliana Braga Rodrigues Loureiro, professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é carioca e, segundo ela, teve “uma infância típica de menina de subúrbio”. “Apesar de ter uma irmã dois anos mais nova, quando criança eu costumava brincar majoritariamente sozinha, com meus palhacinhos, ursinhos, e brinquedos de montar e desmontar”, conta ela. A menina também gostava de desfrutar da companhia de seus avós e de como a sabedoria e serenidade deles a fazia e continua fazendo, até hoje, bem. “Meu avô gostava de cantar cantigas de roda e marchinhas de carnaval, enquanto minha avó me ensinava a plantar legumes e verduras. Depois, eu a observava preparar pratos deliciosos com o que ela colhia”, relembra.

Sua mãe é museóloga e seu pai, engenheiro, é funcionário da Companhia DOCAS do Rio de Janeiro. Ela conta que, na infância, prestava atenção ao trabalho do pai e em suas atividades mecânicas. Por isso, afirma que ele exerceu forte influência no despertar de sua curiosidade pela arte da mecânica. No primeiro grau, Juliana estudou em um colégio de freiras onde recebeu fortes noções de disciplina. No segundo grau, por sua vez, ela afirma ter tido excelentes professores de química, biologia e literatura, os quais a fizeram descobrir seu prazer pelos estudos e a grande vontade que tinha de ampliar os horizontes de seu conhecimento. Quando cursou o ensino médio, as matérias que mais a agradavam eram química e biologia.

Sobre o seu processo de escolha de carreira, a engenheira o descreve como incerto e titubeante, “assim como para todo jovem de dezessete anos”. Segundo ela, seu interesse por pesquisa só despontou realmente quando começou a iniciação científica, no segundo período do curso de engenharia mecânica na UFRJ. “Foi quando descobri o gostinho…”, relembra. Seguiu então para o mestrado e doutorado na área, pela mesma instituição. Em 2005, foi agraciada com Prêmio ABCM – Embraer 2005 de Pesquisa em Engenharia Mecânica, Categoria Melhor Dissertação de Mestrado, e sua tese de doutorado, defendida no ano de 2008, foi escolhida como a melhor na área de Engenharias III e lhe rendeu o Prêmio Capes de Tese daquele ano.

Sobre sua formação acadêmica, Loureiro ressalta que foi muito importante trabalhar em um ambiente sério, onde eram realizadas pesquisas de alto nível. “A alta qualificação da minha instituição de formação, a Coppe/UFRJ, teve papel preponderante na definição do meu futuro.” Em tão pouco tempo de carreira, a professora foi servidora do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) no período compreendido entre os anos de 2008 e 2011, e, em 2006, recebeu o Award in Recognition for Merit as an Outstanding Student of Programme AlBan, conferido pelo Ministério de Relações Externas da União Europeia.

Temática de pesquisa

Os principais focos da pesquisa de Juliana dizem respeito à descrição de escoamentos complexos, isto é, turbulentos, na tecnologia e na natureza. “Através de modelagem especifica para as regiões próximas a paredes, pode ser possível bem representar escoamentos na camada limite atmosférica, em processos industriais, nas indústrias do petróleo e aeronáutica.”

Suas linhas de pesquisa possuem três áreas de aplicação. A primeira delas é em modelos numéricos de previsão do tempo, isto é, de previsão meteorológica e a segunda, em processos de perfuração e exploração de poços de petróleo, descrita por ela como a “previsão do fator de atrito e queda de pressão ao longo do poço produtor”. A última aplicação, por sua vez, consiste no processamento primário de petróleo, ou seja, o estudo de separadores compactos.

Para a pesquisadora, a alta complexidade intelectual do assunto é fascinante. Ela diz que os escoamentos turbulentos, os quais são “regidos por equações diferencias parciais de segunda ordem, não lineares”, desafiam os mais sofisticados métodos e ferramentas matemáticas. Animada, Loureiro conta que a turbulência, “classificada por muitos como o último problema clássico da física teórica a ser resolvido”, é, para as mais diversas comunidades científicas, frustrante, instigante e provocante.

A escolha de ser cientista e o reconhecimento alcançado

De acordo com a sua visão, as principais características necessárias a um cientista são rigor, honestidade e perseverança. Juliana também acredita que clareza de pensamento e simplicidade são importantes quando se faz pesquisa.

Como conselho a quem está na idade de decidir qual carreira seguir, a pesquisadora é objetiva: “Procure sua felicidade.” Para ela, o importante é que cada um busque sua vocação profissional natural. No entanto, ela aconselha: “Se possível, procure combiná-la com uma atividade de teor intelectual. A investigação científica é um bom caminho.”

Quanto à titulação de Membro Afiliado da ABC, Juliana, orgulhosa, diz acreditar que seus esforços pessoais e profissionais provocaram algum eco, levando a esse reconhecimento precoce e de tão alto nível. “Significa que eu devo estar fazendo alguma coisa certa.”

Em meio a perspectivas de um futuro positivo, ela ressalta a oportunidade de interagir com outros profissionais de alta qualidade em um ambiente intelectualmente estimulante e diversificado como o maior benefício agregado ao título. A professora pretende contribuir para a Academia auxiliando na divulgação da ciência em seu mais amplo sentido. Visando atingir esse objetivo, ela planeja a “organização de atividades típicas, incluindo congressos e seminários de temáticas relevantes ao desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no Brasil”.