“Persistência, humildade e capacidade de observação aguçada são características fundamentais para ser um cientista”, afirma Adeney de Freitas Bueno. Sua trajetória de vida é exemplar neste sentido: teve seu talento reconhecido através da eleição como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências para o período de 2012 a 2016. Em retribuição, ele quer empenhar seu tempo e conhecimentos em prol da instituição e está procurando os melhores meios para fazê-lo.

Filho caçula, Bueno sempre teve um bom relacionamento com as duas irmãs mais velhas. Gostava de jogar bola e andar de bicicleta. Na escola, se destacava na matemática, na qual tinha facilidade para tirar boas notas, mas também sempre gostou de biologia, área em que trabalha atualmente. No final da adolescência, escolheu fazer agronomia por considerar uma profissão que contemplava seus interesses pela matemática e biologia. Desde o início, se sentiu motivado para a docência e a pesquisa, o que o levou ao mestrado, doutorado e, posteriormente, ao cargo de pesquisador que possui atualmente na Embrapa Soja em Londrina, no Paraná. No entanto, nunca deixou sua paixão pela docência de lado, atuando também como professor e orientador do curso de pós-graduação em entomologia da Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR) e, também, do curso de pós-graduação em produção vegetal da Universidade de Rio Verde (Fesurv), em Goiás.

Bueno recorda a importância de alguns professores na progressão de seus estudos escolares, universitários e até nas pesquisas que desenvolve atualmente. “Meu interesse pela magistratura veio primeiro”, conta. Na essência do trabalho científico, em sua opinião, deve existir um desejo de ensinar, de compartilhar conhecimento. Talvez esse desejo tenha recebido influências do convívio com suas professoras Maria Helena Calafiori, que ele tem como exemplo profissional, e Edilene Furlan, com quem ele compartilha os méritos de seus estudos na Universidade de Nebraska (EUA), durante o doutorado sanduíche na Universidade de São Paulo (USP). Sob a orientação de Calafiori na iniciação científica, durante sua graduação em engenharia agronômica na Universidade do Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal), pequena cidade no interior de São Paulo onde nasceu, Bueno desenvolveu a motivação para a especialização em entomologia. A professora Edilene Furlan, além de uma grande amiga em Jaboticabal, no interior de São Paulo, onde ele cursou o mestrado em entomologia agrícola na Universidade Estadual Paulista (Unesp), lhe ensinou inglês, de modo que em um ano ele pôde realizar o doutoramento-sanduíche.

Falando sobre seu trabalho, o pesquisador explica que o uso abusivo  e agrotóxicos na agricultura prejudica o manejo de pragas, inviabilizando a sustentabilidade da economia agrária. “O custo dos agrotóxicos e os malefícios causados ao meio ambiente e às populações, no entanto, também impedem a expansão do setor. Procuro contribuir para que este impasse seja solucionado, através do desenvolvimento de estratégias para o combate às pragas e para redução do uso de agrotóxicos”, relata Bueno.

Sua especialidade é o controle biológico e o manejo integrado das pragas da cultura da soja. Bueno diz que o uso do controle biológico, além de ser ecologicamente sustentável, é uma opção viável para agricultores de grande e também pequeno porte, por ser, muitas vezes, mais barato e menos dependente das empresas multinacionais que controlam o mercado de agrotóxicos. “Além disso, o uso do controle biológico possibilita agregação de valor comercial ao produto final, como o que ocorre na agricultura orgânica, permitindo melhorar a remuneração na atividade agrícola, o que é de extrema importância para a sobrevivência do agricultor”, explica o cientista. A razão de escolher ser cientista, para ele, é poder auxiliar a humanidade a ter uma vida melhor. Para isso, suas pesquisas buscam a produção de uma alimentação mais segura e saudável, de modo sustentável.