Passando muito tempo no campo, onde não havia sequer luz elétrica quando criança, Monica Ryff Vianna vivia cercada de filhotes de animais. Esse ambiente, somado à formação do pai em engenharia agronômica, a da mãe em artes plásticas e, ainda, seus hábitos de leitura, influenciou sua vida escolar – quando sua disciplina predileta era biologia – e suas futuras escolhas profissionais. A família, em sentido mais amplo, também colaborava. Seus tios, dos quais Monica era muito próxima, eram professores e pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por isso, ao prestar o exame vestibular, ela já conhecia um pouco da rotina universitária – e gostava dela, pois desde pequena dizia querer ser cientista.

Levada pela curiosidade em relação à natureza, entrou para o curso de graduação em ciências biológicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A iniciação científica serviu para confirmar que ela se dedicaria à pesquisa. E a partir deste contato inicial, passando pelo mestrado e pelo doutorado em bioquímica na mesma universidade, Monica Vianna foi desenvolvendo pesquisas sob a orientação do Acadêmico e neurocientista Iván Antonio Izquierdo.

Em meio a muitos estudantes, ela participava da atmosfera estimulante que envolvia o relato dos experimentos feitos a cada dia, os resultados obtidos por integrantes do laboratório e dos resultados publicados por outros pesquisadores. “O conhecimento sobre o funcionamento detalhado do sistema nervoso, as muitas coisas a se descobrir sobre ele que impactam nossas vidas e nossa identidade foram os aspectos que mais me atraíram”, conta Monica, que desenvolveu pesquisas com colegas de pós-graduação que hoje são cientistas reconhecidos, como os membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Rafael Roesler e João Luciano de Quevedo.

As experiências se tornaram ainda mais ricas com os estudos sobre neurociência e a farmacologia da memória. Foi então que surgiu seu interesse em outros aspectos da neurobiologia, e ela entrou em contato com o professor David Colman, com quem realizou seu pós-doutorado em neurociências no Instituto de Neurologia de Montreal (MNI, na sigla em inglês) da McGill University, no Canadá. “O Dr. Colman, assim como o professor Izquierdo, foi uma grande influência, tanto na minha vida profissional quanto pessoal e na minha forma de enxergar o papel da ciência além do laboratório”, destaca. Ela avalia que o que mais a cativa no trabalho de pesquisa é a possibilidade de descobrir coisas novas, de maneira criativa e independente. “Além disso, o fato de que pequenos avanços podem contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e gerar novas aplicações me motiva muito. A neurobiologia é especialmente envolvente, com várias grandes perguntas a serem respondidas, que impactam nossa identidade, nossa história e nossas perspectivas de vida”, ressalta a Acadêmica.

Hoje, Monica Vianna é professora adjunta da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e orientadora do núcleo permanente do Programa em Biologia Celular e Molecular dessa universidade. Integra a Comissão de Ética para o Uso de Animais (CEUA) e a diretoria da Rede Latino-americana de Zebrafish (LAZEN, na sigla em inglês). Suas pesquisas dizem respeito à complexidade do comportamento cerebral através de eventos que ocorrem nas sinapses, locais de comunicação entre os neurônios. Ela deseja compreender os mecanismos de plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade de alterar o funcionamento neuronal graças a modificações nas sinapses.

“As sinapses são capazes de ter sua eficiência de transmissão alterada em resposta a novas experiências, como o aprendizado e formação de memórias, ou a exposição à substâncias nocivas ou com potencial terapêutico, ou ainda em situações patológicas, como em doenças neurodegenerativas”, explica a cientista. Em conjunto com outros pesquisadores, Vianna emprega diferentes estratégias para estudar os mecanismos celulares e moleculares, incluindo vias de sinalização, expressão gênica, síntese protéica e modificações adesivas, envolvidos nas alterações sinápticas que acompanham o aprendizado e são alterados em modelos de neurodegeneração em animais experimentais. Além do estudo desses aspectos em roedores, seu grupo concentra suas atividades na caracterização desses mecanismos no peixe teleósteo zebrafish. “O zebrafish é capaz de combinar as possibilidades de intervenções genéticas a estudos comportamentais, servindo como plataforma para o screening de fármacos, ou seja, a identificação de efeitos de possíveis agentes terapêuticos e seus alvos”, esclarece.

Monica Vianna considerou um grande reconhecimento ser eleita como membro afiliado da ABC. “Afinal, quantos jovens cientistas promissores existem no Brasil e que, indiretamente, estamos representando nessa nova categoria?”, reflete. Ela avalia que o maior ganho é ter a oportunidade de interagir com um grupo tão seleto de cientistas seniores. “Conhecer sua trajetória, opiniões e a história da ciência no Brasil através de suas experiências é certamente muito enriquecedor”. Ela afirma que a ciência pode ser uma grande fonte de satisfação, desde que o cientista mantenha a ética, a curiosidade e a motivação necessárias para lidar com uma rotina que inclui muitas frustrações e desafios. “É um ambiente muito estimulador”, conclui.