Zoólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará, onde atua como curador da coleção ornitológica e pesquisador titular, Alexandre Luis Padovan Aleixo tem sua experiência científica comprovada por vasta produção bibliográfica. Bacharel em Ciências Biológicas com mestrado em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorado pela Universidade do Estado da Louisiana, nos EUA, Aleixo é membro da Liga de Ornitologia Americana (AOU) e editor-chefe da Revista Brasileira de Ornitologia.

Consagrado pelo mérito de já ter identificado a maior parte das espécies e subespécies de aves que ocorrem na Amazônia ao longo de quase 20 anos de trabalho de campo na região, Alexandre Aleixo conta que gostava muito de pássaros quando criança. Ele atribui a um periquito australiano, presenteado pela mãe, o despertar de sua curiosidade para o que viria a ser uma vocação a ornitologia. Cúmplices do interesse do filho, seus pais encheram a casa de pássaros e lhe deram uma luneta, com a qual ele observava as aves dos arredores da casa onde moravam, em Campinas, São Paulo.

O simples gosto de infância aumentava enquanto ele crescia. E, na adolescência, já havia se transformado em interesse científico. Visitando um evento promovido pela Unicamp , onde a universidade apresentava ao público a rotina das atividades científicas, Alexandre ouviu pela primeira vez o nome de Wesley Silva, professor do Departamento de Ciências Biológicas, que anos mais tarde foi seu orientador acadêmico. Ali conheceu, ainda, o falecido Membro Titular da ABC Jacques Vielliard, um dos ornitólogos mais ativos no país, que o orientou no mestrado.

No curso de graduação, seu primeiro estudo acadêmico foi sobre aves, na Mata de Santa Genebra, um fragmento florestal nos arredores de Campinas. “Com Silva e Vielliard aprendi a identificar as aves em campo através de seus gorjeios, ou seja, dos sons que emitem, o que me permitiu trabalhar com comunidades de aves ricas em espécies desde o início da carreira”. Participou ainda de pesquisas inovadoras, nos Estados Unidos, sobre a evolução de aves na região neotropical -na qual o Brasil está inserido -, voltadas para a análise de caracteres moleculares.

Hoje, a pergunta chave do trabalho de Aleixo é: por que existem tantas espécies de aves na Amazônia? “A importância de compreender os fatores por trás dessa grande riqueza de espécies é aplicar os conhecimentos adquiridos para o gerenciamento e a conservação da biodiversidade brasileira”, destaca o pesquisador. Seus estudos se aplicam, por exemplo, na observação dos impactos do aquecimento global, pois está previsto que várias espécies desaparecerão dos biomas brasileiros. As pesquisas de Aleixo evidenciam que, no passado, toda essa biodiversidade já enfrentou mudanças climáticas extremas. “Entender como estas espécies sobreviveram a estas modificações no passado, ajuda a entender como elas poderão sobreviver no futuro, contribuindo para traçar estratégias de conservação efetivas de muitas espécies”, afirma o ornitólogo.

Ele considera que o trabalho científico demanda muita persistência e disciplina, para que as ideias e pensamentos sejam transformados em conhecimento, em informação. Alexandre Aleixo vê a importância da ciência para a biodiversidade e para a vida equilibrada dos ecossistemas como o próprio sentido de ser cientista. Para ele, a ciência possibilita ao homem superar suas insatisfações e inovar. “Ela permite ao homem enxergar o planeta como ele é, como se a espécie humana não existisse, sem o véu dos seus próprios preconceitos e limitações. A ciência mostra que o universo somos nós e nós somos o universo, que dentro dele as possibilidades são imensas, e que as vamos descobrindo pouco a pouco”. É por isso que ele acha o mundo hoje melhor do que há 50 anos. “Apesar de tantas mazelas, em média, vive-se mais, com melhor qualidade de vida e isso se deve, em grande parte, à ciência. Portanto, em última análise, a ciência seja talvez a ferramenta mais efetiva para o homem se tornar cada vez melhor”.

Para o jovem que aspira ser cientista um dia, o conselho de Aleixo tem a ver com persistência, com paixão em resolver questões, em encontrar soluções para problemas que requeiram caminhos ainda inexplorados ou não atingidos pelo conhecimento científico já adquirido. Segundo ele, “a ciência mostra que temos uma origem comum com todos os outros seres vivos, que eles são, literalmente, nossos irmãos, não algo que surgiu ou foi criado para nos servir. Mais ainda, mostra que somos filhos do universo, como as rochas, os planetas e as estrelas, que também são nossos irmãos.”

É com este espírito aberto que Aleixo compreende o título de Membro Afiliado da Academia Brasileira de Ciências: “Ter sido reconhecido formalmente como parte da elite científica brasileira, foi a maior honraria que já recebi. Para mim, esse título significa ter atingido a maturidade científica e pretendo contribuir com a ABC nas discussões dos grandes problemas nacionais e sobre como a ciência pode ser utilizada para resolvê-los”.