As “travessuras” da jovem Daniele Aparecida Matoso sempre foram acompanhadas de perto pelos pais que, segundo ela, eram exigentes, porém atenciosos e amorosos. O pai era comerciante, e a mãe permanecia em casa para cuidar da família. “Tenho uma irmã, quatro anos mais velha, que sempre foi excelente aluna e por quem cultivo grande admiração”, ressalta.
Na infância, adorava brincar fazendo experimentos. Em Ponta Grossa, onde cresceu, havia uma vegetação abundante, árvores de eucalipto e, em frente à sua casa, um grande campo utilizado para jogar bola e demais brincadeiras. Daniele gostava de cortar folhas ou flores e misturá-las a algum ingrediente disponível na lavanderia de casa. “Ora era detergente ora sabão em pó. De vez em quando colocava tinta e ia fazendo várias misturas para ver o que acontecia”, lembra. “Esperava alguns dias e, enquanto isso, pedia às pessoas para não mexerem no meu experimento”.
Ainda menina, acordava bem cedo para assistir a uma série que passava na televisão sobre a exploração da vida marinha por Jacques Cousteau. No colégio, sempre se interessou por ciências, história e química. “Tive excelentes professores que influenciaram a escolha da minha carreira. Lembro de dois em especial: o professor Aníbal, de química, e a Ida Fátima, de biologia”, recorda.
Saiu do colégio direto para o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no estado do Paraná. Daniele conta que foi uma aluna “multifuncional”. “Fiz iniciação científica com uma família de plantas daninhas chamadas Commelinacea. Depois, fui em busca de diversos estágios voluntários, passando por último no laboratório de citogenética animal, de onde saí para fazer mestrado em genética molecular”.
O mestrado em Genética e Evolução, realizado de 2000 a 2002 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, foi um período de grande amadurecimento, porém estressante. “Fiquei longe da minha família pela primeira vez”, afirma. O doutorado em Genética pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi concluído em 2009. “Depois disso, voltei à minha cidade natal e ajudei a construir o laboratório de biologia molecular, onde também funciona o laboratório de citogenética na UEPG. Nesta fase, recebi a influência de diversos professores, entre eles o meu orientador Roberto Artoni”. Atualmente, a pesquisadora é professora de Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e atua nos programas de pós-graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e no Programa de Aquicultura da Universidade Nilton Lins/INPA.
Por sempre ter sido curiosa, Daniele tem uma forte tendência a tentar explorar mundos desconhecidos e temas intrigantes, o que, a seu ver, a levou ao mundo das pesquisas. “Precisei apenas lapidar um dom que nasceu comigo: o da investigação”. Em seu trabalho, a Acadêmica desenvolve pesquisa de base, fazendo a análise do genoma dos organismos – geralmente peixes – utilizando ferramentas da genética molecular e citogenética. “Analiso os cromossomos das células: como são, quantos são e como funcionam”, explica.
A indicação para Membro Afiliado significa uma conquista após muitas noites sem dormir e diversos artigos e livros lidos. “Acredito que o título trará maior visibilidade às minhas pesquisas. Pretendo continuar investigando assuntos que julgo serem pertinentes, bem como realizar a divulgação das minhas pesquisas para um público leigo, especialmente adolescentes, na tentativa de atraí-los para a carreira científica”.
Para os jovens com os quais interage, Daniele destaca algumas das características que, em seu ponto de vista, não podem faltar a um cientista: perseverança, curiosidade, paciência, dedicação, gosto por leituras, capacidade crítica e analítica, vontade de fazer a diferença, honestidade. “Àqueles que pretendem seguir carreira, eu diria que fazer ciência no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo, não faz a pessoa ficar rica, mas a faz ser uma pessoa melhor e feliz”, reforça.