Para Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, fazer ciência é dialogar com a natureza, que não se revela a qualquer um, mas apenas aos que têm paciência e que conhecem a sua linguagem. “É preciso curiosidade para começar e persistência para continuar”, avalia. Ele nasceu em Brasília, filho de um casal de Minas Gerais que foi para a capital na época de sua construção, no início dos anos 60. A mãe era funcionária pública, e o pai, taxista, faleceu quando o menino tinha oito anos. A família passou por uma crise, o que desenvolveu no menino, com apenas uma irmã mais nova, habilidades de liderança e superação de dificuldades. Dedicado aos estudos desde muito cedo, poucas foram as brincadeiras no cerrado do Planalto Central.

Marcus Vinicius gostava de estudar e, por conta de um tio e um primo médicos, sempre se interessou pela Medicina. Entrou para o curso de graduação da Universidade de Brasília (UnB), onde logo começou a iniciação científica (IC), a qual ele atribui seu despertar para a ciência. Estudou, inicialmente, leishmaniose experimental com o professor Albino Magalhães e, depois, com a professora Maria Imaculada Muniz-Junqueira, aprendeu os segredos do trabalho na bancada. Em seu ponto de vista, isso fez toda a diferença entre ele e os demais médicos que, em geral, apenas examinam os pacientes. A seguir, teve uma experiência de trabalho fundamental com o professor Pedro Luiz Tauil, pois foi seu primeiro contato com um grande pesquisador em malária no Brasil. “Considero a IC o turning point das minhas escolhas profissionais até hoje”, aponta Lacerda.

Suas primeiras publicações, sobre epidemiologia e imunologia, aconteceram ainda no curso de graduação. Fez a residência médica em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em Manaus e, em seguida, o doutorado em Medicina Tropical, na mesma universidade, em parceria com a Universidade de Nova York. Essas experiências o colocaram no caminho do qual nunca mais sairia, tendo como principais modelos os professores Philip Marsden, Vanize Macêdo e o Acadêmico Aluizio Prata, falecido recentemente. “Os exemplos são muito importantes na vida de um cientista, e ele, se for sábio, pode se tornar uma síntese das melhores qualidades de todos os seus professores”, afirma o Acadêmico.

A escolha pela Amazônia aconteceu quando optou pelas doenças tropicais como especialidade, durante a residência médica, em 2000. O casamento com uma amazonense legítima, colega de profissão, facilitou a adaptação. Atualmente, Lacerda é pesquisador da FMT-HVD, onde ocupa o cargo de diretor de Ensino e Pesquisa. Também é professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade Nilton Lins (Uninilton LINS), além de revisor ad hoc de revistas científicas nacionais e internacionais.

Seu foco são as doenças infecciosas e parasitárias, atuando principalmente no tema de complicações clínicas da malária por Plasmodium vivax. A pesquisa que desenvolve atualmente é muito aplicada e procura entender os mecanismos que produzem a doença malárica, além de estudar novas drogas em desenvolvimento para tornar o tratamento desta doença mais fácil e mais eficaz. Em sua área, Marcus Vinicius Lacerda aprecia especialmente a diversidade do conhecimento. “Na medicina tropical, temos que entender de medicina, de biologia, de geografia, de história. Com isso, me considero o que os americanos chamam de renaissance man – ou seja, um homem da renascença, que tem fome de conhecimento, transita com habilidade por mais de um campo de conhecimento e que cultiva uma visão global das ciências.”

Na ABC, Lacerda se sente um legítimo representante da Amazônia e de todo o seu potencial científico. “Espero poder contribuir para atrair mais jovens para esta região tão especial do nosso planeta”, diz o Acadêmico. “A atração de jovens de todo o mundo para trabalhar na região coloca nossas instituições em nível de competitividade com qualquer outra instituição de pesquisa em doenças tropicais.”