Sete jovens cientistas premiadas por desenvolverem pesquisas de excelência nas áreas de ciências físicas, matemáticas, da saúde, químicas e biológicas com foco sustentável. Além do reconhecimento no meio científico, uma bolsa- auxílio no valor de US$ 20.000 para incentivar os projetos vencedores. Em sua sétima edição, a cerimônia de entrega do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2012 aconteceu dia 26/9, quarta-feira, no Golden Room do Copacabana Palace, e contou com a presença dos familiares das ganhadoras, amigos, jornalistas, representantes de entidades científicas do país, entre outras personalidades.
Roselia Spanevello, Paula Murgel e Carolina Gomes
Há sete anos conduzindo a cerimônia, a jornalista Renata Capucci deu início à cerimônia lembrando que, desde 2006, já foram premiadas 47 cientistas brasileiras, um investimento de quase um milhão de dólares. Segundo ela, o programa internacional que deu origem à versão brasileira, o “For Women in Science” (FWIS), criado na França em 1998, laureou 72 notáveis pesquisadoras . “Ao todo, já são 1.300 mulheres de 106 países distintos, incluindo quatro brasileiras”, enfatizou.
Em seguida, Capucci apresentou o júri do prêmio, presidido por Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), e composto por Ary Mergulhão Filho, oficial de ciência e tecnologia da Unesco no Brasil; os Acadêmicos Cid Bartolomeu de Araújo, físico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jailson Bittencourt de Andrade, químico da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Francisco Mauro Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Marcelo Miranda Viana da Silva, matemático do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Além deles, as Acadêmicas Belita Koiller, Beatriz Barbuy, Lucia Mendonça Previato e Mayana Zatz, que já foram premiadas pelo FWIS internacional, também integram o corpo de jurados.
Dando início aos discursos da noite, o presidente Jacob Palis exaltou a importância do prêmio para a promoção das jovens cientistas brasileiras e afirmou o empenho da Academia pela inserção da mulher na ciência. “Os números são modestos, mas cinco anos atrás tínhamos 7% de mulheres no quadro de Acadêmicos Titulares da ABC. Em 2011, saltamos para 12,6%”, ressaltou. Palis também avaliou que o número ultrapassou a percentagem de cientistas mulheres da National Academy of Sciences (NAS), dos Estados Unidos, que é de 10%, como também o da Royal Society, da Inglaterra, que está em 5%, e da Academia de Ciências do Institut de France. “Na próxima eleição de novos Acadêmicos esperamos que esse número cresça, e que, no futuro, chegue a 50%.”
Ary Mergulhão Filho subiu ao palco para falar em nome da Unesco, reforçando que o prêmio faz sentido quando melhora a qualidade de vida das pessoas. “No Brasil, o Nordeste é a única região com mais cientistas mulheres do que homens. Em âmbito internacional, no entanto, existem áreas que precisam de uma participação maior da figura feminina, como o Prêmio Nobel: somente 4 a 5% das mulheres no mundo foram premiadas”, lembrou. Outro aspecto que Mergulhão considera primordial é a inserção da mulher nas decisões estratégicas da ciência. “Esse prêmio é realizado no mundo todo em parceria com a L’Oréal para incentivar as mulheres a fazerem ciência. No Brasil, com a participação honrosa da ABC, é, também, para reconhecer o trabalho que as mulheres já fazem em termos de pesquisa.”
Em seguida, falou o presidente da L’Oréal Brasil, Didier Tisserand, destacando, em tom de brincadeira, que “as mulheres estão caminhando para dominar o mundo em todos os setores”. Para ele, a premiação das jovens pesquisadoras colabora com o futuro do país. “Este ano, especialmente, o Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência priorizou pesquisas com viés sustentável, acompanhando o conjunto de discussões existentes no mundo e no Brasil”. Tisserand parabenizou as sete cientistas, dizendo que todas representam “o avanço da ciência no país”. “Em 2012, lançamos o primeiro Relatório de Desenvolvimento Sustentável da LOréal Brasil, que se encaixa perfeitamente com o contexto desta sétima edição.”
“O mundo – sustentável – precisa de ciência. A ciência precisa de mulheres”
A cerimônia continuou com a premiação das ganhadoras. Antes de cada uma subir ao palco para receber a homenagem, a plateia assistiu aos vídeos que detalharam um pouco mais o trabalho realizado por elas. Os depoimentos de alunos e amigos próximos demonstraram a força de vontade, dedicação e compromisso de todas as pesquisadoras.
A laureada das ciências físicas Katiuscia Nadyne Cassemiro, cuja pesquisa intitula-se “Simulador quântico do transporte de energia em complexos fotossintéticos”, foi apresentada por Sérgio Besserman Vianna, economista brasileiro e irmão do falecido humorista Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda.
Para Vianna, o modelo de desenvolvimento sustentável é a nova forma de existir do mundo. “A sua pesquisa faz o Brasil participar desse momento”, disse à ganhadora, que é professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Acesse aqui o vídeo de apresentação da Dra. Katiuscia.
A segunda premiada da noite recebeu o diploma das mãos da atriz Lavínia Vlasak. Rosélia Maria Spanevello, da área de ciências biológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), coordena a pesquisa “Estudo do perfil oxidativo e avaliação enzimática em linfócitos e plaquetas de portadores de Síndrome de Down”.
Lavínia agradeceu a Rosélia como cidadã e como mulher , destacando o fato de “a ciência ser o caminho para cuidar da saúde das pessoas e do planeta.”
Em depoimento às Notícias da ABC, Rosélia disse que a repercussão do prêmio em sua cidade foi muito grande. “Quando ficaram sabendo que eu e a professora Marcia Mesko, também da UFPel, havíamos ganhado, nossos nomes foram divulgados na página da universidade, saímos em uma reportagem imensa do jornal da cidade e os alunos receberam a notícia com muita empolgação”, disse. “Com a divulgação da pesquisa, recebi telefonemas de pais de portadores de Síndrome de Down, querendo contribuir para o projeto. É gratificante.” Confira o seu vídeo de apresentação.
“Se o mundo da ciência continua masculino, todo espaço ocupado por uma mulher é uma vitória”, disse a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBS), Marina Grossi, ao entregar o prêmio a Márcia Foster Mesko, terceira premiada na cerimônia.
Laureada na área de ciências químicas, sua pesquisa “Avaliação da capacidade biorremediadora Chlorella vulgaris para partículas de nano-TiO2 e TiO2″ utiliza microalgas para reduzir a presença de partículas metálicas no meio ambiente. Professora da UFPel, o trabalho da Dra. Márcia pode ser conhecido em mais detalhes no seu vídeo de apresentação.
Dando prosseguimento à cerimônia, Paula Murgel Veloso foi premiada na área de ciências matemáticas, e causou muita emoção entre o público ouvi-la dizer que buscava o reconhecimento do programa Para Mulheres na Ciência desde sua terceira edição.
Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), sua pesquisa “Identidades de Lie em anéis de grupo com involução” aprofunda conhecimentos indispensáveis para o avanço da matemática contemporânea. “Que muitas jovens mulheres se inspirem no seu exemplo e sigam seus passos”, disse Denise Neddermeyer ao entregar-lhe o diploma, representando a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Veja o vídeo de apresentação da Dra. Paula Murgel para saber mais sobre o seu trabalho.
Em seguida, a dentista Carolina Cavaliéri Gomes, doutorada em bioquímica molecular, recebeu o prêmio das mãos de Ana Maria Vieira Neto, do Ministério do Meio Ambiente, que identificou na cientista “as novas formas de visão do mundo, um mundo sustentável”.
Carolina é professora na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi premiada na área de ciências biomédicas, biológicas e da saúde, com a pesquisa “Efeito da radiação emitida por aparelhos celulares nas glândulas parótidas”, que enfatiza a importância do desenvolvimento tecnológico incluir cuidados com a saúde. Ana Maria frisou este aspecto social do trabalho da cientista premiada e concluiu: “Não temos como pensar num futuro melhor sem pensar em novas tecnologias que prezem pela saúde.” Confira o seu vídeo de apresentação.
A premiada seguinte, Gislaine Zilli Réus, ganhou por sua “Investigação do impacto do fenótipo ansioso sobre a resposta ao estresse”, na área de ciências biomédicas, biológicas e da saúde.
Ao entregar o prêmio, a atriz Cássia Kiss recitou uma trecho de um texto do cientista Blaise Pascal, em uma reflexão sobre a relação do ser humano com o tempo, relacionando-o à ansiedade e ao estresse. “Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.”
Para a atriz, a pesquisa de Gislaine utiliza a tecnologia mais avançada em busca da solução de um problema presente em toda a história e no qual se debruçaram grandes cientistas e filósofos. Confira o vídeo de apresentação da Dra. Gislaine, professora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).
Encerrando a cerimônia de premiação, Karin Cunha foi recebida por Babi Teixeira, presidente da Fundação Anísio Teixeira, seu pai. Inserida na área de ciências biomédicas, biológicas e da saúde, a pesquisa “Sequenciamento de nova geração: revolucionando a análise mutacional do gene da Neurofibromatose tipo 1” busca identificar as causas genéticas desta doença e trazer um futuro promissor para o seu tratamento.
Veja o vídeo de apresentação da Dra. Karin, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), que foi escolhida pelas colegas para falar em nome do grupo de premiadas. “As mulheres estão ocupando seu espaço, demonstrando sua capacidade de fazer ciência. Mas ser cientista no Brasil não significa fazer pesquisa apenas: somos professoras universitárias e ocupamos cargos administrativos. Nós, jovens mulheres, mostramos que estamos no caminho certo ao receber este prêmio, que é incentivador para os nossos trabalhos e para os outros cientistas que trabalham conosco. Por isso, não consideramos que esse prêmio seja apenas nosso: é de todas as mulheres cientistas que se dedicam e desenvolvem pesquisas de altíssima qualidade. Nós estamos mostrando que podemos fazer ciência de qualidade, com relevância internacional.”
O grande entusiasmo da plateia ao aplaudir todas as cientistas no palco no encerramento da solenidade confirmou as palavras de Karin. Se o mundo precisa da ciência e a ciência precisa de mulheres, o mundo precisa de cada uma das cientistas brasileiras.