Dos três aos oito anos, Adrian Garda morou em Natal, onde seu pai foi professor visitante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seus pais sempre trabalharam fora: o pai na área de Comunicação e a mãe em Antropologia e dando aulas de inglês. Depois se mudaram para Brasília, onde moravam no Lago Norte. “Essa região da cidade hoje é um bairro nobre, mas quando moramos lá era um fim de mundo, cheio de fragmentos de cerrado com vegetação nativa, bichos e veredas”, lembra Adrian. “Foi uma infância divertida. Eu gostava de jogar bola e andar de bicicleta.”
Na escola, sempre gostou de ciências. Ele conta que não se espelhou especificamente em ninguém no seu interesse pela ciência, mas lembra de um colega que colecionava orquídeas e Adrian o acompanhava nas “buscas”. “Era divertido me aventurar pelos cerrados do Brasil central, em cachoeiras, à procura de orquídeas raras, como um explorador”, recorda, referindo-se ainda à influência de alguns professores do ensino médio.
Talvez um pouco em função dessas vivências, Adrian tenha entrado para o curso de Ciências Biológicas na Universidade de Brasília (UnB). Já no segundo período começou a iniciação científica, fazendo sempre mais de um estágio de cada vez. Participou de equipes de vários laboratórios: passou dois anos no de Ecologia com a professora Heloísa Miranda, dois anos no de Microscopia Eletrônica com a professora Sônia Báo, que viria a ser sua orientadora de mestrado e dois anos no de Herpetologia, com o professor Guarino Colli, que viria a ser seu co-orientador de mestrado.
No mestrado, finalizou diversos projetos com microscopia eletrônica iniciados na graduação. “Mantive o gosto pelas expedições e viajei muito procurando espécimes para meus estudos”, contou Garda. Completou o mestrado em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Seu doutorado foi em Zoologia, pela Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, onde trabalhou com metodologias que ninguém na UnB trabalhava. “Viajei milhares de quilômetros também no doutorado. Ao final, tinha ido a todos os estados do Brasil, exceto o Acre – que sigo sem conhecer!” Garda conta que sua orientadora, Janalee Paige Caldwell, tinha uma postura muito diferente da maioria dos professores. “Ela dizia que minha pesquisa era minha e somente minha e que eu tinha que conseguir recursos, conseguir parcerias, coletar dados, analisar e publicar tudo sozinho. Essa foi a mais profunda e importante lição do meu doutorado.”
Adrian Garda fez ainda um pós-doutorado na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e, atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele estuda os padrões existentes na natureza: onde as espécies ocorrem, quais espécies são, que espécies são mais próximas evolutivamente entre si, ou qual o padrão de distribuição dos genes que essas espécies possuem. Em seguida, testa hipóteses sobre fenômenos que possam ter causado esses padrões observados.
Ele dá um exemplo simples: estudando uma espécie ao longo de toda sua distribuição geográfica, procura testar, por exemplo, se uma montanha que separa duas grandes populações dessa espécie age como uma barreira, impedindo que indivíduos de um lado migrem para o outro, ou não. “Ao descobrirmos padrões para algumas espécies, frequentemente encontramos fenômenos recorrentes na natureza, que nos ajudam a entender porque as espécies estão onde estão, são como são. O estudo de padrões – o quê e aonde – aliado aos processos – como e porquê – são a síntese do estudo da biologia de organismos, unindo a sistemática e a taxonomia à ecologia, biogeografia e evolução. É isso que eu gosto de estudar.”
Seu encantamento com a ciência vem da maneira de pensar e encarar os problemas, o próprio mundo, de pautar-se nas evidências para afirmar o que acha ser a razão das coisas. Mas sem nunca fechar a porta para possibilidades desconhecidas, não importa quão absurdas possam parecer. “Na minha área, me encanta estudar os produtos da evolução – ou da criação divina, ou ambos, o que agradar ao cliente”, brinca. “Gosto de entender seus mecanismos, sempre com muito trabalho de campo, muitas viagens e muito esforço físico e mental.”
Autocrítica, perfeccionismo, perseverança, honestidade, caráter. Essas são as características que Adrian Garda considera fundamentais num cientista. E ele se considera reconhecido e valorizado como tal com o título de Membro Afiliado da ABC. “Obviamente, é uma honra tremenda. Uma sensação de dever cumprido, de respeito por mim mesmo. Significa siga em frente, o caminho é esse! Sei que existem diversos grupos de estudo na ABC. Espero poder me encaixar em algum deles onde questões centrais do Brasil, com foco no meio ambiente e nas regiões Norte e Nordeste, sejam tratadas”. Mas o que ele espera desses cinco anos como Membro Afiliado é, principalmente, conhecer grandes pessoas que, coincidentemente, sejam grandes cientistas. “No final de tudo, o que importa são as grandes pessoas que conhecemos e a pessoa que fomos. Independente de quantos papers publicamos.”