O Acadêmico Luiz Eugênio Mello, médico e pesquisador de formação, hoje é diretor do Instituto Tecnológico Vale e abordou a questão da inovação nas empresas. Ele destacou o que disse ser óbvio, mas que precisa ser lembrado: empresa não é feita pra fazer ciência, é feita para gerar lucro e dar retorno para o seu acionista. “Se a inovação puder gerar lucro, a empresa vai atrás – mas uma empresa inova para diminuir custos, aumentar os lucros, ganhar mercados e permanecer no negócio”, ressaltou Melo.
Ele deu como exemplo a Nokia, fábrica de papel finlandesa fundada em 1865 que, para se manter no mercado, envolveu-se no negócio de botas de borracha, armários de madeira, cabos elétricos e hoje faz telefones celulares. Outro exemplo forte: desde que o índice Dow Jones foi criado, em 1896, baseado na cotação das ações de 30 das maiores e mais importantes empresas dos Estados Unidos, a única empresa que sobreviveu foi a General Eletric (GE). De início ela produzia lâmpadas; do negócio de iluminação passou para equipamentos de rádio, depois para motores a jato para aviões; nos anos 6,0 tornou-se uma das oito maiores empresas de informática e passou a desenvolvedora de sistemas de informação – ou seja, inovou para sobreviver.
Mello explicou que existe uma curva de adoção de tecnologia que tem que tender a zero. “A empresa investe em projetos já testados que ofereçam segurança. Uma unidade hidrometalúrgica de cobre da Vale custou 120 milhões de dólares e durou apenas três anos e meio, mas depois fechou. Isso porque, embora a tecnologia funcionasse, o custo era muito alto”. Ele esclareceu que esse valor foi gasto para evitar se gastar 3 ou 4 bilhões implantando uma planta caríssima, que se tornaria inviável. “Na bancada, podemos errar à vontade, mas a indústria não pode se dar a esse luxo.”
Mello informou que pelos dados acumulados sabe-se que, em 15 anos, 50% das 500 maiores empresas de hoje não existirão mais. Ou seja: as universidades são seculares, mas as empresas não. E no Brasil, a questão ainda é menos trivial: o país é o campeão mundial na demora para se abrir uma empresa. “Essa é uma chaga no país. Em outros lugares esse processo é quatro a dez vezes mais rápido”, alertou Mello. O Brasil está entre os países cujos sistemas de inovação não se completaram. “Foram construídos sistemas de ciência e tecnologia (C&T) que não se transformaram em sistemas de inovação”. Ele explica que há pouco empreendedorismo nas fontes criadores de C&T, o marco regulatório para o processo de transferência de tecnologia é pouco desenvolvido, há pouco investimento em startups. “Então porque o pesquisador vai largar a universidade pública, que oferece estabilidade no emprego, e se transferir ir para a empresa – que demora 119 dias para abrir, dez anos pra fechar e cuja expectativa de vida é curta?”
Mello reconhece que, de fato, o Brasil está procurando maneiras de lidar com essa questão. “Temos a Lei do Bem e a Lei da Inovação, que são leis são boas, mas cheias de imperfeições”, apontou o especialista. Ele deu como exemplo um acordo feito entre a Vale e algumas fundações de amparo à pesquisa – Fapesp, Fapemig e Fapespa. “Nesse caso, o dinheiro que a empresa investiu não poderá ser reavido pela Lei do Bem, pois ela só prevê o investimento feito direto na universidade”, lamentou Mello. Essa situação, de modo geral, faz com que das 300 mil empresas do pais, apenas cinco mil sejam inovadoras. “Para avançar, é preciso revisar as leis de incentivo. Se a Vale investir em pesquisa e desenvolvimento [P&D] em qualquer outro dos 38 países onde ela atua, vai ter muito mais facilidades e incentivos, como no Canadá, por exemplo, onde está desde 2006. Mas a empresa tem 70% de funcionários falando português e prioriza o Brasil.”