Aos 38 anos, Cédric Villani é considerado um dos maiores matemáticos da atualidade. Em 2010, ele foi o ganhador da Medalha Fields – considerada como equivalente a um Prêmio Nobel da matemática – por conta de sua pesquisa sobre amortecimento de Landau e equação de Boltzmann. Atualmente, o francês estuda as equações diferenciais parciais, que são aquelas que contêm uma ou mais funções desconhecidas de duas ou mais variáveis, além de suas derivadas parciais em relação a essas variáveis.
E é justamente por causa do extenso currículo que inclui outros prêmios, como o Jacques Herbrand, concedido pela Academia de Ciências da França, que Villani surpreende. O cientista em nada lembra a figura de um professor de matemática clássico, sério e formal. Dono de um estilo original e excêntrico, o cientista costuma usar lenços como gravata e está sempre com um misterioso broche de aranha, cujo significado ele não revela. Nos últimos dias, os brasileiros tiveram a chance de conhecer o matemático, pai de dois filhos, que veio ao país para fazer conferências no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade de São Paulo (USP).
Divulgando sua ciência pelo mundo
Villani, que é diretor do Instituto Henri Poincaré e professor da Universidade de Lyon, na França, viaja pelo mundo para divulgar seu trabalho e contribuir para a popularização da ciência. E por onde passa, costuma atrair um público variado. Para a sua palestra na UFRJ, realizada no dia 15 de agosto, foi necessário se locomover para um auditório mais espaçoso, por conta da quantidade enorme de pessoas ansiosas para ouvir o famoso matemático. Ao final da apresentação, Villani foi rodeado por estudantes que queriam cumprimentá-lo, fazer perguntas e tirar fotos com ele.
“Divulgar a ciência é importante para permitir que a população conheça mais, e eu trabalho nisso de forma diversificada”, conta. “Faço apresentações em escolas de ensino fundamental e ensino médio, em universidades, me comunico com todos os estudantes, publico livros voltados para todos os tipos de público, dou entrevistas para a televisão, rádio, jornais. Tento tornar a minha ciência acessível para todos através dos mais diversos meios.”
O Brasil na visão do francês
De acordo com Villani, a matemática no Brasil é excelente. “Aqui, existem centros de muita qualidade, como o Impa, que é reconhecido internacionalmente, e pessoas de grande renome, que muito contribuíram e contribuem para o desenvolvimento da ciência. Diversas pesquisas brasileiras no campo da matemática, como o trabalho sobre sistemas dinâmicos de Jacob Palis, são de grande importância em nível mundial”. O cientista elogiou também o fato de que os brasileiros têm muito entusiasmo e interesse em aprender.

O presidente da ABC, Jacob Palis, e o matemático francês Cédric Villani
Villani considera positivo o desenvolvimento brasileiro e ressaltou que a ciência do país é de qualidade, pois conta com ótimos pesquisadores e estudantes, mas faz alertas: “O Brasil está vivendo um grande progresso, que todos nós conhecemos, e tem a vantagem de deter uma enorme biodiversidade e condições climáticas excelentes. O que eu diria que falta no país é uma atenção maior em relação à poluição e à preservação ambiental. O país precisa cuidar melhor do seu meio ambiente”. Outra questão para se preocupar é a segurança. “O Brasil e, especificamente, o Rio de Janeiro têm uma imagem de locais violentos perante o mundo. É preciso mudar essa visão, pois isso possibilitaria uma atração maior de estudantes e pesquisadores em geral, o que seria muito bom para o desenvolvimento do país.”
A matemática na visão do matemático
Além disso, Cédric Villani ressalta que a interdisciplinaridade tem um papel crucial atualmente. “Vivemos um avanço tecnológico impressionante e isso acontece, em parte, graças à relação entre todos os campos de estudo. Sem essa conexão entre as áreas da ciência, não conseguimos avançar mais. Por exemplo, a criação desse Ipod (Villani aponta para o aparelho da Apple sobre a mesa) é fruto do trabalho de milhares de pessoas, entre elas engenheiros, físicos, tecnólogos, cientistas da computação e até mesmo matemáticos. É importante que todos trabalhem juntos.”
O cientista francês comentou que a matemática é uma ciência que ampara as outras, oferecendo uma base para seus estudos. Entretanto, muitas pessoas consideram, erroneamente, que ela é uma ciência “parada”, “finalizada”, que não envolve novas descobertas. “A matemática é um campo bastante desconhecido para nós, pois ainda existem muitos problemas que não sabemos resolver – mais do que aqueles que já conhecemos. Talvez até mesmo por causa disso, os estudantes tendem a ter medo da matemática, o que acaba os afastando”, afirma Villani.
Ele diz que, por conta disso, é importante ensinar essa disciplina de uma maneira original e atraente. Há também a questão de que a matemática ensinada nas escolas é muito antiga, tendo mais de 200 anos. “Isso não é algo propriamente ruim, mas sempre há formas de atualizá-la. O fato é que a matemática não é muito natural para o ser humano, e isso acaba distanciando um pouco os estudantes dessa ciência. É preciso treinar esse pensamento lógico típico da matemática, pois ele não é inerente a nós.”
Villani declara que o interessante na matemática é que ela não está tão vinculada à busca de resultados – o que importa mais é a forma de refletir. Além disso, nessa disciplina, é possível provar um teorema por si próprio. “Nas outras ciências em geral, você tem que acreditar no que ouve. Em biologia, por exemplo, nós aprendemos sobre o que é uma célula, mas nunca vimos uma de fato. Temos que crer que ela está lá. Na matemática, você pode testar por conta própria tudo aquilo que o professor conta e comprovar, com os seus cálculos, que se trata de uma verdade.”
Para Villani, a matemática é uma linguagem. E é nesse idioma que ele vem passando, com sucesso, a sua mensagem para o mundo.