Coordenada pela pesquisadora Katherine Vammen, diretora do Centro de Pesquisas Nicaraguense em Recursos Hídricos e representante da Nicarágua no programa de Águas da Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), a sessão “Gerenciando águas em áreas urbanas e regiões metropolitanas: um desafio eternamente crescente” integrou o segundo dia de atividades do evento “Aperfeiçoando a gestão de recursos hídricos em um mundo em transformação: Academias de Ciências trabalhando juntas para ampliar o acesso à água e ao saneamento”.

A mesa contou com a participação do biólogo mineiro Francisco Barbosa como relator e dos palestrantes Christopher Magadza, da Universidade do Zimbábue e membro das Academias de Ciências do Zimbábue e Africana, e Henning Steinicke, da Academia Nacional de Ciências da Alemanha Leopoldina, onde dedica-se ao diálogo entre ciência, políticas e sociedade.


Katherine Vammen, Christopher Magadza, Francisco Barbosa e Henning Steinicke

Tecnologia aliada à ecologia

Em sua apresentação, “Lago Chivero: abastecimento urbano, questões e possibilidades”, Magadza expôs um estudo sobre as condições de abastecimento de água e condições de descarga de resíduos em Harare, capital do Zimbábue. Segundo ele, a cidade, com 7 milhões de habitantes – 50% da população do país -, recebe apenas 60% de sua atual demanda, dos quais 20% se perdem devido a vazamentos e 40% são distribuídos mediante pagamento.

Os outros 40% são abastecidos pelo Lago Chivero, sustentado pelo Rio Manyaue, a maior fonte hídrica do país. O lago foi criado em 1952 com o intuito de substituir o então abastecimento que vinha do Lago Cleveland Dam. “O ponto central é que esse local oferece água, mas recebe uma quantidade alta de dejetos não-tratados”, alertou o pesquisador.

De acordo com alguns dados, Magadza mostrou que a taxa de descarga que sai do lago está decrescendo consideravelmente, enquanto o total de resíduos que chega é superior à água advinda do Rio que o abastece. Além disso, a temporada de chuvas da região está encolhendo. “Essa situação é agravada pelo fato da população crescer em um nível galopante”, disse.

Ele destacou, ainda, que o depósito de esgoto, deixado por caminhões de lixo e outras fontes, contribui para a poluição do ecossistema. Como resultado, assiste-se a um crescimento massivo e sem controle de algas, doenças – como câncer de fígado -, metais pesados e parasitas. “Como solução, devemos atentar para a tecnologia, como uma planta de instalação para tratamento de esgoto, e abordagens ecológicas, talvez até voltando a utilizar os recursos de Cleveland Dam”, situou.

Por fim, Magadza salientou que o escoamento em declínio, a quantidade alta de resíduos que chega à fonte de abastecimento e a capacidade insuficiente de tratamento das instalações presentes são responsáveis pelos fatores hipereutróficos do lago e o surgimento de diversas doenças.

Alianças valiosas

Através de um programa de cooperação científica envolvendo o Centro de Pesquisa Ambiental Hemholtz (UFZ), na Alemanha, e a Universidade de São Paulo (USP), Henning Steinicke obteve seu doutorado, tendo morado cinco anos no Brasil. Em sua apresentação, “Lidando com problemas no gerenciamento de recursos hídricos em áreas urbanas: o papel das Academias de Ciências”, ele destacou a função da rede de Academias dentro do diálogo político-científico.

Os maiores problemas do processo de urbanização das grandes cidades, segundo ele, são sempre delicados, de acordo com o ponto de vista dos recursos hídricos de cada localidade. “O principal cuidado que se deve ter é em relação aos nutrientes que chegam à bacia hidrográfica, de forma que ela não seja contaminada por falta de saneamento adequado e esgoto sem tratamento”, alertou o cientista. Steinicke falou sobre os desafios para a gestão das águas de áreas urbanas, como a escassez de água, de saneamento e o desperdício de água tratada. “São questões cuja solução depende de uma nova abordagem, do uso de conceitos inovadores, que vão além da engenharia básica”, observou.

Para ele, a Ciência é a área que deve endereçar corretamente os problemas mencionados, em uma gestão integrada de todos os saberes. “Por que as Academias são necessárias?”, indagou. Em suas palavras, pelo fato de exercerem uma função imprescindível no crescimento e amadurecimento das nações. “Uma rede de Academias de excelência deve manter um diálogo político-científico permanente, capaz de produzir boas práticas de aconselhamento sobre questões relacionadas às fontes hídricas. As alianças internacionais existentes entre Academias de todo o mundo têm um potencial sem igual, que as capacita para a discussão de todos esses problemas que se colocam de forma proeminente.”