Coordenada pelo hidroclimatologista costariquenho Hugo Hidalgo, especialista em hidrologia de águas de superfície, com pós-graduação pela Universidade da Califórnia, a sessão “Mudanças climáticas e gerenciamento adaptativo da água: desafios para um mundo em transformação” teve como relator o engenheiro e meteorologista de origem peruana José Marengo.
Como palestrantes, participaram os pesquisadores Jun Xia, diretor geral do Instituto de Pesquisa de Segurança Hídrica da China e professor de Hidrologia e Recursos Hídricos da Universidade de Wuhan; Richard Graham Taylor, do Departamento de Geografia da University College London (UCL); e Walter Rast, professor de Recursos Aquáticos e diretor do Centro Internacional de Estudo de Bacias da Universidade Estadual do Texas, bem como vice-diretor do comitê científico do International Lake Environment Commitee (ILEC).
Walter Rast, Jun Xia, Richard Taylor e Hugo Hidalgo
O estresse hídrico na China
De acordo com a apresentação de Jun Xia, algumas questões emergenciais no país, no tocante aos recursos hídricos, devem-se às transformações no clima. “A China é uma nação que abrange diferentes climas e muita diversidade populacional”, relatou. “Atualmente, existe estresse hídrico impactando uma parte da população e o crescimento econômico”.
A água potável disponível se torna cada vez mais escassa, um problema que impede o desenvolvimento sustentável, principalmente em áreas que já sofrem com secas. Segundo Xia, por volta de 2030 essa situação será insustentável, dado que já ocorrem eventos que apontam para esse cenário. “Em 2011, a parte mais ao sul da China foi afetada por secas extremas durante a primavera, enquanto no verão de 2012 a região enfrentou inundações”, complementou.
No total, 21 milhões de pessoas sofrem em função das secas, sendo múltiplos os fatores que levam a essa situação, como as mudanças climáticas e atividades agrícolas – que abrangem mudanças no uso do solo induzidas pelo homem. Para o pesquisador, um trabalho maior de pesquisa é necessário, de maneira a implantar políticas de adaptação, como uma gestão da quantidade dos recursos hídricos, infraestrutura nacional, boas condutas para o uso da água etc. “A China está aberta a negociações internacionais, especialmente científico-tecnológicas, para encarar esses problemas”, concluiu.
Oportunidades e desafios para águas subterrâneas
Durante sua palestra, intitulada “O papel da água subterrânea em relação à adaptação dos recursos de água fresca aos impactos das mudanças climáticas”, Richard Taylor observou que existem muitas incertezas na projeção de disponibilidade e escoamento de recursos hídricos. Isso, segundo ele, “mostra a falta de comunicação entre cientistas climáticos que geram as projeções e hidrologistas que utilizam essas análises em seus estudos”. Para ele, a questão só será resolvida quando ambos os especialistas sentarem juntos e decidirem tomar decisões coordenadas, uma vez que modelos globais não são tão úteis para estudos de impactos na área de hidrologia.
Além disso, Taylor observou que a intensificação da precipitação em cenários de mudanças climáticas foi contemplada no Relatório Especial sobre Gerenciamento dos Riscos de Eventos Extremos (SREX, na sigla em inglês), lançado pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), bem como as consequências do aquecimento sobre a capacidade atmosférica de retenção hídrica. “Esta última é talvez o motivo pelo ciclo da água acelerar e causar chuvas mais extremas que geram escoamentos intensos”, alertou. Ainda segundo ele, outro fator-problema é a segurança alimentar, que depende do regime de chuvas. “Não somente da quantidade, como também da distribuição por período de tempo”.
No entanto, o crescimento da dependência de águas subterrâneas – que representam 50% do consumo mundial – não é uma medida de adaptação universal às mudanças climáticas, já que em algumas regiões do planeta, como Estados Unidos, China e Bangladesh, o nível desses reservatórios vem decaindo. Nas áreas urbanas existe, também, uma outra questão, segundo Taylor: “a qualidade da água advinda do solo, que pode estar contaminada por chuvas torrenciais que levaram materiais fecais e esgoto”.
As peças do tabuleiro
Segundo a exposição de Walter Rast, “Mudanças climáticas e gestão integrada dos recursos hídricos: percepções e realidades”, a maior problemática do aquecimento global são os eventos extremos, tão danosos à sociedade. De acordo com ele, as ameaças aos ambientes polares afetam o planeta por inteiro, uma vez que causam mudanças no fluxo dos mares.
“Os impactos das mudanças climáticas podem ser positivos em algumas regiões, enquanto efeitos contrários estão relacionados a alterações no ciclo hidrológico, estações extremas, erosão, acidificação dos oceanos, entre outros”, observou. Chuvas mais frequentes em lugares secos, menor precipitação em áreas que sofrem com inundações e invernos menos rigorosos são alguns dos aspectos benéficos que têm se observado.
Como medidas de adaptação, Rast sublinhou a necessidade de construção de reservatórios, redução do consumo de água através do desenvolvimento de tecnologias que intensifiquem a eficiência hídrica – no caso de campos de irrigação, por exemplo -, novas estratégias de abastecimento, sistemas de prevenção e alarme para desastres etc. “Para viabilizar essa operação, alguns agentes, trabalhando em conjunto, se fazem necessários, como instituições de presença global, tecnologias aprimoradas, conhecimento, informação e recursos financeiros”.