
Conquistas e falhas da educação
Faria apresentou alguns dados relativos à situação da ciência e da educação brasileiras. Ele criticou o fato de que o investimento público no ensino básico é muito baixo, diferentemente do ensino superior – segundo o físico, o estudante do ensino superior custa dez vezes mais que o de ensino fundamental e médio. “Esse investimento assemelha-se àquele dos países desenvolvidos, mas, ainda assim, temos problemas no ensino universitário público que precisam ser resolvidos.”
O palestrante reconheceu, entretanto, que a pós-graduação passou a viver uma boa fase no Brasil. Em 2009, tivemos quase 36 mil mestres titulados, além de 11.300 doutores e 3.102 pessoas que concluíram o mestrado profissional, totalizando mais de 50 mil pós-graduados. “O número ainda é baixo, mas está crescendo bem. Realmente os projetos da Capes deram certo.” E esses índices estão progredindo: em 2010, formaram-se 12 mil doutores e 41 mil mestres. Faria lembrou, porém, que a maioria dos graduandos e pós-graduandos é da área de Humanas, havendo, portanto, a necessidade de um maior equilíbrio com as áreas científicas e tecnológicas.
Outro problema citado foi o das assimetrias regionais na pós-graduação. A maioria dos cursos avaliados pela Capes com nota 6 e 7 está localizada na Região Sudeste, enquanto o Norte e o Nordeste concentram a maior parte dos cursos que levam nota 3. “Para um país ser competitivo internacionalmente, ele tem que ser homogêneo na sua competitividade”, destacou Faria.
Falta interação entre universidade e indústria

“Vivemos em um sistema pouco inovador, que não contrata mestres e doutores para as indústrias”, afirmou. “E o responsável pela inovação de processos e produtos é o setor industrial, mas estão cobrando isso das universidades. Ela até pode fazer, mas não é sua obrigação. Seu papel é gerar recursos humanos e desenvolver conhecimento. A missão da universidade não pode ser confundida com a da empresa, mas ambas devem trabalhar juntas.” Faria ressaltou, ainda, que os laboratórios e centros de pesquisa estão basicamente no setor público, e que a produtividade científica feita dentro destes se dá, sobretudo, pelas publicações.
A produção científica brasileira
No entanto, sobre essa questão, o palestrante observou que a produtividade brasileira cresceu bastante. Em 1981, publicávamos em torno de 2 mil artigos por ano, o equivalente a 0,4% do total de publicações no mundo. Em 2009, esse valou passou para 32 mil. “Se comparamos a produção brasileira com a mundial, vemos que o crescimento foi semelhante.” Hoje, 2,7% das publicações de todo mundo são oriundas do Brasil, que é o 13º país no ranking da produção científica. Por outro lado, a qualidade desta produção ainda deixa a desejar. A ciência que o país mais se destaca é a Matemática, seguida por Física e pela área de Ambiente e Ecologia.
Faria criticou, também, a renda per capita brasileira equivalente a dez mil dólares e o índice de 0,7 pesquisadores por mil habitantes (dados de 2007). “Estamos bem longe dos Estados Unidos e Coreia, por exemplo.” Ele lembrou da proposta feita pelo MCTI, à época da divulgação desses dados, de que, em 2022, o Brasil estaria na posição de quase dois pesquisadores por mil habitantes e o dobro da renda per capita. “É isso que a gente espera. O país tem que enriquecer, mas também homogeneizar a riqueza. Infelizmente, em dois anos o investimento em ciência e tecnologia caiu 30%. Temos que corrigir essa trajetória.”
Propostas
A partir do cenário apresentado, Faria fez algumas recomendações. Entre elas, expandir os sistemas de institutos científicos tecnológicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e também de outros Ministérios, como da Saúde, Indústria e Comércio e Defesa. Além disso, ele falou sobre a importância de implementar mecanismos para que a as grandes empresas, sobretudo as multinacionais, criem centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil. “Também precisamos aperfeiçoar e consolidar o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec) e eliminar a burocracia, que emperra o funcionamento do país”, declarou.
Faria defendeu, ainda, que é preciso fortalecer o setor de bens de capital – um “maquinário” que ajuda o setor industrial a se desenvolver e modernizar. “A indústria que ajuda a própria indústria no Brasil atualmente é muito fraca.” É necessário avançar também na indústria química, um dos pilares do desenvolvimento, além de investir no setor de fármacos e medicamentos e tecnologia de informação e comunicação, pois “nenhum país cresce sem isso”. Além disso, Faria mencionou a importância da indústria eletrônica, inclusive para o nosso domínio sobre a Amazônia: “Os Estados Unidos conhecem muito mais sobre esta região do que a gente, sendo que este é o maior patrimônio desse país”.
A última proposição do documento apresentado foi a criação da Empresa Brasileira de Tecnologia e Inovação (Embrati). Essa proposta está ligada ao argumento de Faria de que quem
faz inovação e está ligado ao desenvolvimento de processos e patentes é a indústria, não a universidade. A ideia de criar a Embrati foi tirada, em parte, de alguns exemplos internacionais e outros brasileiros, como a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). “Antigamente, a agricultura brasileira era muito fraca. O surgimento da Embrapa, nos anos 70, contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do agronegócio no país, hoje altamente desenvolvido. Queremos que o mesmo aconteça com o setor industrial.”
faz inovação e está ligado ao desenvolvimento de processos e patentes é a indústria, não a universidade. A ideia de criar a Embrati foi tirada, em parte, de alguns exemplos internacionais e outros brasileiros, como a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). “Antigamente, a agricultura brasileira era muito fraca. O surgimento da Embrapa, nos anos 70, contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do agronegócio no país, hoje altamente desenvolvido. Queremos que o mesmo aconteça com o setor industrial.”
Ele acrescentou que o lócus da inovação é a indústria. Assim, a ideia de uma rede de instituições de pesquisa voltada ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, fora das instituições de ensino superior, é o tema abordado neste capítulo do documento. Em seguida, Faria apresentou o organograma da empresa, que incluiria um conselho nacional de desenvolvimento industrial, ligado a vários ministérios, uma diretoria administrativa e uma de P&D.
“A ideia da Embrati é criar uma ponte entre os dois setores – indústria e academia -, de modo que o resultado seja progresso”, concluiu o Acadêmico Jailson Bittencourt. “Não queremos tirar as pessoas da universidade para a indústria ou vice-versa, e sim que as mesmas trabalhem juntas.