A Terra é conhecida por seu potencial hídrico e condições propícias para a vida humana. No entanto, seu estado atual advém de intensos processos biogeoquímicos ao longo de toda a sua existência. Apresentado pelo vice-presidente da ABC, Hernan Chaimovich Guralnik, durante a sessão “O planeta Terra no tempo geológico – tectônica de placas e mudanças climáticas”, o Acadêmico e especialista em geocronologia Umberto Giuseppe Cordani expôs a linha cronológica terrestre durante o encontro realizado no dia 26/7, o quarto dia de atividades da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Cordani e Chaimovich
As galáxias mais distantes têm cerca de 13,7 bilhões de anos e a idade aproximada da Via Láctea é de 8 bilhões de anos. Segundo o pesquisador, a cada 100 milhões de anos corpos grandiosos de meteoritos se chocam com o planeta, o que é um fenômeno natural. Em um desses momentos, os grandes répteis – dinossauros – acabaram enfrentando adversidades na superfície terrestre, como grandes tsunamis, atmosfera tóxica, entre outros fatores. “Acredita-se que isso tenha contribuído para a extinção dessas espécies”, disse.
Idades aparentes de um cristal de zircão de Jack Hills
Um dos materiais mais antigos da Terra, o cristal de zircão – um mineral pequeno que pode ser encontrado em Jack Hills, na parte oeste da Austrália -conta um pouco da história terrestre. “Cada pequena parte de seu interior mostra uma evolução. Em um único pedaço podemos encontrar diferentes idades e, em média, ele existe há 4.200 milhões de anos”, explicou Cordani. “Nosso planeta, pelo que se sabe, formou-se há 4.570 milhões de anos”.
Os primeiros 800 milhões de anos terrestres
Segundo estudos, o crescimento dos continentes aconteceu nos primeiros 200 milhões de anos e, em seguida, é provável que tenha surgido a água em sua forma líquida. “Por volta dos 700 milhões de anos existe um indício de atividade biológica, que, a partir de então, se multiplicou e entrou em transformação constante”, observou o palestrante, referindo-se ao momento em que se supõe que tenha começado a vida na Terra.
A estrutura da Terra, dividida em núcleo, manto e crostas oceânica e continental, é fruto de uma mistura caótica de elementos. “O material mais denso afundou e concentrou-se no interior do planeta, enquanto o material menos denso constituiu a parte mais superficial. Nesse contexto formaram-se dois sistemas fundamentais: um núcleo interno formado por ferro e níquel e um manto envolvente rochoso”, esclareceu Cordani. A crosta terrestre, a camada mais externa do planeta, originou-se mais tarde, por modificações do material do manto, processo conhecido como diferenciação.
A crosta continental cobre 40% da superfície, enquanto a oceânica os outros 60%. O material característico da primeira é o granito; já o basalto pode ser encontrado na segunda. “Todo esse conjunto interno da Terra passa por uma dinâmica, que provoca, por exemplo, os vulcões, terremotos e deslocamentos de placas tectônicas”, informou o geocronologista. A crosta oceânica, por sua vez, é formada através de erupções que vêm do manto. As cadeias oceânicas têm uma ligação direta com o interior do planeta, que expele o magma – através de movimentos internos – o que forma essas montanhas aquáticas. “Quanto mais perto de uma cadeia dorsal, mais novo é o material e a área ao seu redor, que só tende a crescer e a se expandir”.
Formação da crosta oceânica
As mudanças climáticas e o tempo na superfície do planeta
As erupções vulcânicas também são responsáveis por resfriar a temperatura da terra. De acordo com Cordani, quando ocorre uma erupção, as cinzas podem permanecer na estratosfera por muito tempo, contribuindo para o resfriamento do planeta. “Os registros geológicos mostram que no período proterozóico ocorreram duas glaciações e mais duas no flanerozóico, o que foi muito importante para que a vida conseguisse se reorganizar”, afirmou.
Em seus primórdios, a Terra era um planeta muito quente. Interessante, segundo o pesquisador, é que nas eras de maior temperatura o aquecimento ocorre mais rápido, enquanto a glaciação é um processo de natureza mais demorada. “Sabe-se que, há 100 milhões de anos, a temperatura média da superfície era cerca de dez graus mais quente do que hoje: as palmeiras cresciam em latitudes polares”, alegou o pesquisador.
A partir da revolução industrial, o nível de gás carbônico começou a aumentar exponencialmente. “Nos anos 2000, o nível chegou a 350 ppm, o que mostra uma correlação com as atividades humanas, como a queima de combustível fóssil”, observou o Acadêmico. Para ele, as medidas de mitigação e adaptação são necessárias. “Não sou do grupo dos céticos, temos que nos prevenir”. Em suas palavras, os países mais vulneráveis a desastres devem colocar maior ênfase nas atividades de planejamento, prevenção, preparação, comunicação e educação específica para cada tipo de desastre, ao invés de limitarem-se às atividades posteriores de reparação dos danos e restauração das estruturas sociais.