Inovação, parceria com o setor privado e educação em todo o território nacional são as condições essenciais para que o Brasil desempenhe papel de destaque na economia do conhecimento. Esta é a visão por trás dos planos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para os próximos anos, apresentados pelo titular da pasta, o físico Marco Antonio Raupp (ao lado da presidenta da SBPC, a Acadêmica Helena Bonciani Nader), na palestras que abriu a programação da 64ª Reunião Anual da SBPC, que acontece até sexta-feira, em São Luís, no Maranhão.

Por se tratar de um dos maiores encontros da comunidade científica brasileira e em função dos recentes cortes no orçamento do ministério, era natural que a palestra de Raupp fosse uma das mais aguardadas da reunião. Os investimentos apresentados pelo ministro, no entanto, não refletiram uma diminuição na pesquisa, mas planos ambiciosos para o futuro da ciência brasileira. Entre eles, a expansão de programas como o Ciência sem fronteiras, novas estratégias de subvenção voltadas ao setor privado, o reajuste de bolsas de pós-graduação e a redefinição do papel dos Institutos Nacionais de Tecnologia, além de maiores investimentos em nanotecnologia, estudos nucleares e tecnologias assistivas.

Pesquisa & indústria

Para incentivar a participação do setor privado na inovação tecnológica, o governo aposta em projetos como o Brasil Sustentável, lançado durante a Rio+20, com previsão de investimento de R$ 2 bilhões voltados para produtos, processos e serviços inovadores ligados à economia verde. Outra grande meta é a materialização da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, a Embrapii, cujo objetivo é articular a demanda por inovação das empresas brasileiras e a capacidade científica e tecnológica nacional. A ideia é que a iniciativa privada invista em projetos e tenha papel decisivo na sua gestão, integrando, assim, pesquisa e indústria. “Não importa que isso não seja uma tradição no Brasil; é fundamental para o país trazer as indústrias para o processo de inovação”, defendeu o ministro.

Raupp mostrou-se decidido a avançar na questão da inovação – uma palavra que se incorporou há alguns anos ao discurso do ministério e mais recentemente ao seu próprio nome. Ainda nesse quesito, o ministro falou em nova injeção de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na área, parte deles em parceria com as agências de fomento regionais. “As agências de fomento têm papel fundamental nesse processo, pois elas conhecem melhor as possibilidades e oportunidades locais e têm a capacidade de fazer uma seleção de projetos e empresas muito mais detalhada do que apenas os programas nacionais.”

Alcançar os rincões do país

A descentralização também está na pauta do ministério. Raupp acredita que levar ciência e tecnologia para o interior do país é fundamental para o seu desenvolvimento sustentável. Um exemplo de iniciativa nessa linha, mencionada pelo ministro, é o Pró-Infra, projeto que visa à expansão da infraestrutura necessária ao ensino universitário para o interior do Brasil. “Esse programa tem uma grande correlação com o Reuni, pois não basta dar acesso à universidade e formar jovens pesquisadores e professores, mas é preciso dar condições para sua atuação nos rincões do país”, avaliou. “Por isso, é fundamental levar infraestrutura laboratorial, bolsas, [oferecer] todas as condições de fazer pesquisa.”

Nesse contexto, o ministro destacou, ainda, a importância da interiorização da infraestrutura brasileira de comunicação de dados. Ele anunciou um projeto de ampliação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que interliga instituições de cerca de 900 municípios brasileiros.
“Quando olhamos um mapa da rede, notamos um grande e constrangedor vazio em determinadas áreas, em especial na Amazônia”, avaliou. “Pretendemos alcançar todas essas áreas com o lançamento de dois novos satélites, em 2014 e 2019. Isso será possível por meio de uma parceria entre a Telebras e a Embraer para a criação de uma nova empresa, a Visiona”, afirmou.

Projetos de ponta

Raupp citou ainda outras iniciativas que compõem a agenda do ministério, como a de construção do primeiro reator multipropósito brasileiro, que visa dar novo impulso à pesquisa nuclear nacional, e o projeto Sirius, que pretende gerar inovação na área de ciência dos materiais, uma das bases para a inovação tecnológica em produtos.

Além disso, falou sobre o investimento na pesquisa de tecnologias assistivas, no contexto do programa Viver sem limites, e abordou iniciativa interministerial destinada a criar uma rede de desenvolvimento em nanotecnologia e estimular parcerias internacionais na área, em especial com a China. “Ao lado da biotecnologia, essa área é fundamental para possibilitar a inovação na indústria”, destacou Raupp.

O evento foi marcado por uma homenagem ao economista e ex-reitor da UFRJ Aloísio Teixeira, que faleceu na madrugada desta segunda-feira.