Ricardo Toshio Fujiwara tem boas lembranças das brincadeiras de criança em São Paulo, quando os brinquedos eram menos eletrônicos, e da escola. O irmão, um pouco mais velho, era o grande companheiro. O pai era gerente de banco e depois passou a ser agente fiscal de rendas. Sua mãe ficou em casa cuidando dos filhos até quando Ricardo completou 11 anos. Então, abriu um escritório de contabilidade e voltou a trabalhar fora.

O menino gostava de brincar de desmontar e remontar os carrinhos e outros brinquedos que ganhava de presente. “Entender como as coisas funcionavam era o mais importante. Na escola, as aulas de ciências e, depois, de biologia me atraíam profundamente. Me intrigava ver como as coisas eram tão complexas e ao mesmo tempo funcionavam tão bem…” Ricardo se recorda de uma aula de ciências na 5ª série, com a professora Eloísa, em que, utilizando um microscópio de plástico e material coletado por ele em um pequeno esgoto que passava ao lado da escola, viu pela primeira vez um protozoário – um ser unicelular chamado de paramécio. “Desde aquele dia, soube que seguiria nessa área.”

Foco definido

Entrou para a graduação em Ciências Biológicas -Modalidade Médica, na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Botucatu. Nas primeiras semanas de curso, viu um cartaz dizendo: “Procura-se estagiários para o Departamento de Parasitologia”. Começou então sua iniciação científica com a professora Elizaide Yoshida e nesse processo descobriu que em parasitologia se estudava – e muito – imunologia, biologia celular, farmacologia, bioquímica e tudo mais relacionado à interação parasito-hospedeiro, tema que lhe despertava muito interesse.

Dedicou-se muito e decidiu fazer mestrado em Parasitologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma das instituições mais reconhecidas nesse campo no Brasil. Nesse período, o contato com os professores – hoje colegas de trabalho – ampliou seus horizontes e deu início às suas linhas atuais de pesquisa. Após um ano de mestrado, em função do seu desempenho acadêmico, foi convidado a passar direto para o doutorado. Em seguida, Fujiwara realizou estágio de pós-doutorado na George Washington University (EUA) e, atualmente, é professor adjunto no Departamento de Parasitologia da UFMG e pesquisador visitante do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz.

Ciência sem barreiras

Hoje, Fujiwara atua em diversas linhas de pesquisa, todas voltadas para o desenvolvimento de novas formas de controle de doenças parasitárias em humanos e animais, seja na busca de novos fármacos, seja no desenvolvimento de vacinas. Apesar do desenvolvimento sócio-econômico das últimas décadas, as doenças parasitárias ainda afetam mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Além disso, no caso dos animais, as perdas econômicas decorrentes das parasitoses são consideráveis.

Fujiwara tem especial interesse na complexidade da interação parasito-hospedeiro, em entender como o parasito consegue sobreviver mesmo em face de um ambiente inóspito. Para instalar a infecção e alcançar seu hábitat, os parasitos precisam transpassar com sucesso todas as barreiras dos hospedeiros, incluindo uma robusta resposta imunológica que frequentemente é montada para atacar o parasito. “Ainda assim, por milhares e milhares de anos os parasitos garantem sua sobrevivência e, a cada ciclo de vida, parasitos mais adaptados aos hospedeiros são selecionados”, comenta o Afiliado. O entendimento de como e quais mecanismos são utilizados por esses microorganismos para sobreviver nos hospedeiros é importante para a busca de novos fármacos e de vacinas. “Para tanto, o conhecimento das diversas áreas da Ciência é essencial; o estudo na área de parasitologia é transdisciplinar e requer a interação de diferentes profissionais.”

Dentro da ciência, no entanto, não existem barreiras. O ambiente, na visão de Fujiwara, é bastante hospitaleiro e deve ser cada vez mais interdisciplinar. “Tanto engenheiros como matemáticos podem estar envolvidos no mesmo problema, tentando resolvê-lo. Uma mesma solução pode ser alcançada por um biomédico, um médico, um farmacêutico ou um biólogo. O importante, para ser um bom cientista, é o estudo contínuo e a dedicação, que nos move…”

O título de Membro Afiliado da ABC, para Fujiwara, significa visibilidade e oportunidade, tanto de participar da discussão sobre políticas científicas como de contribuir para o crescimento da ciência no país. Representa, sobretudo, o reconhecimento da comunidade pelos trabalhos que desenvolveu até agora e um grande estímulo para continuar a carreira acadêmica.