Até os seis anos, Jussara Marques de Almeida morou com os pais em uma fazenda no interior de Minas. Então sua irmã nasceu e a família se mudou para a cidade de Manhuaçu, na mesma região, onde sua mãe voltou a trabalhar como professora do ensino médio, enquanto o pai continuava como administrador da fazenda. Jussara, mais velha de três irmãos, gostava de brincar de dar aula para eles e para os amigos.
Sempre gostou muito de matemática e por isso optou pela Ciência da Computação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Começou a fazer iniciação científica no 5º período, orientada pelo Acadêmico Virgílio Almeida, que a indicou para Membro Afiliado. “Fiquei encantada com a pesquisa, com a possibilidade de explorar novas ideias, em busca de soluções para problemas”, lembra Jussara.
Ela teve algumas experiências de estágio e de empreendedorismo, já que o departamento de Ciência da Computação oferece uma disciplina na área que, naquela época, tinha como trabalho principal a execução de um plano de negócio. Mas a pesquisa sempre a atraiu muito mais. Por isso, Jussara resolveu fazer o mestrado, também sob a orientação do professor Virgílio. Mas quando ela estava cursando o segundo ano, seu orientador tirou um ano sabático e foi para Boston. Assim, a mestranda foi orientada remotamente por ele e pelo professor David Yates, então na Boston University, que se tornou seu co-orientador. “Foi meu primeiro contato com um pesquisador estrangeiro, o que foi ótimo, pois ajudou a ampliar meus horizontes.”
O professor norte-americano veio ao Brasil para a sua defesa, que por isso teve que ser feita em inglês, o que marcou bastante a experiência para Jussara. Depois disso, porém, ganhou confiança e decidiu fazer o doutorado fora, na University of Wisconsin, em Madison, nos EUA. “Foi uma época bem difícil, devido ao trabalho intenso, mas fiz boas amizades que mantenho até hoje.” A pesquisadora considera que a experiência de morar fora foi muito boa, pois permitiu que ela tivesse contato com várias culturas. “Eram poucos brasileiros na cidade, se comparado com outras regiões dos Estados Unidos e, por isso, eu tinha muito mais contato com estrangeiros.” Jussara foi a segunda doutoranda brasileira no seu departamento.
A jovem cientista foi orientada durante os dois primeiros anos do doutorado pela professora Pei Cao. O entrosamento entre as duas foi excelente, já que Pei trabalhava na mesma área de pesquisa em que Jussara fez o mestrado. Entretanto, dois anos após o início do doutorado, com artigos já publicados e uma tese bem delineada, sua orientadora decidiu deixar Wisconsin e abrir uma empresa na Califórnia. “Foi uma baque muito grande”, relembra. Apesar da professora convidar Jussara para ir com ela, isso inevitavelmente significaria abrir mão do doutorado. Assim, a Acadêmica teve que recomeçar com uma nova orientadora – professora Mary Vernon -, trabalhando em uma área diferente das quais já vinha atuando. “Foi bem difícil no início, mas hoje vejo que foi excelente para minha formação. Fui forçada a olhar para os problemas sob um ponto de vista diferente, além de ter desenvolvido muito mais o raciocínio analítico.”
Uma profissão fantástica
Professora adjunta da UFMG, a cientista tem por objetivo atual desenvolver pesquisas para tornar os sistemas computacionais mais rápidos, eficazes e robustos. “Para tal, é preciso entender como os usuários utilizam as aplicações e serviços, assim como os padrões de carga derivados desse uso e o impacto destes padrões na performance do sistema”, explica. Como exemplo, Jussara cita os padrões ditos maliciosos e oportunistas, como spam, vandalismo e vírus, ainda muito comuns. “É preciso entender como os padrões de uso destes usuários – spammers e vândalos – se diferenciam dos padrões de usuários comuns. Com base neste conhecimento, é possível desenvolver soluções que tornem as aplicações e serviços mais robustos e que atendam melhor às necessidades dos usuários legítimos.”
Ela sentiu-se muito honrada com o título de Membro Afiliado da ABC: considerou-o como um estímulo para continuar a se esmerar em sua profissão, contribuindo com pesquisa de alta qualidade para a ciência brasileira. “O que mais me encanta na ciência é a possibilidade de trabalhar com temas inovadores e relevantes. Mas é preciso ter persistência, curiosidade, interesse investigativo e dedicação. A ciência é uma profissão fantástica: exige muito de você, mas, se você se esmera, tem muito retorno profissional e pessoal.”