O pai era engenheiro agrônomo e sempre trabalhou fora. A mãe fez curso de eletrotécnica, mas largou a profissão ao tornar-se mãe, optando por ficar em casa e criar os dois filhos. Danielle Moraes era a mais velha e gostava de brincar de boneca. Mais tarde, passou a ter interesse por jogos de vôlei e queimado. Na escola, sua matéria preferida era matemática. “Eu tinha vontade de ser astronauta e sempre gostei das historias do professor Pardal.”
Foi a vontade de ser astronauta e o interesse pela formação do Universo que fizeram Danielle optar por prestar o vestibular de Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez iniciação científica já no primeiro semestre da faculdade, em física teórica de partículas. No segundo semestre, migrou para física experimental de partículas e continuou no mesmo grupo até o final da graduação. Fez mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no mesmo grupo, ligado ao Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN). “Construí e estudei câmeras multifilares e física das partículas”, relata a pesquisadora.
Atividade internacional enriquecendo a formação
No final da graduação, Danielle foi fazer um estágio de três meses no CERN. “Foi um período muito importante para ter uma visão ampla da física de partículas e decidir seguir carreira nesta área, abandonando a ideia de ser astronauta”, conta a nova Acadêmica. O convívio com pesquisadores de diferentes partes do mundo e o acesso à tecnologia de ponta para a pesquisa foram fatores significativos na sua formação. Além disso, ela diz que a oportunidade de participar de conferências e de trabalhar diretamente com a indústria contribuiu para acentuar sua paixão pela ciência. Ela crê, ainda, que os excelentes professores que teve, tanto na UFRJ como no CERN, tiveram influência decisiva no seu interesse pela pesquisa.
O estágio motivou bastante o seu mestrado, que foi baseado em uma análise da física desenvolvida no CERN, e o doutorado-sanduíche. Foi neste período que Danielle desenvolveu a tecnologia que levou o nome de CARIOCA – um chip (circuito integrado de eletrônica) que está sendo amplamente utilizado em um dos detectores do CERN para a identificação de partículas, e para o qual também encontrou aplicações em alguns satélites. “Além do uso na pesquisa, este circuito integrado evoluiu para duas grandes aplicações na indústria médica”, relata a pesquisadora. Hoje em dia, os circuitos são utilizados em máquinas comerciais de tomografia computadorizada e tomografia computadorizada por emissão de fóton único, mais conhecida pelo acrônimo SPECT.”. A tecnologia teve sucesso e, após o doutorado, a cientista prestou concursos e ficou no CERN por mais cinco anos como pesquisadora, atuando na área de transferência de tecnologia para a indústria européia.
Foco na interação entre Academia -Empresa
Atualmente, sua área de pesquisa é a tecnologia aplicada. Ela trabalha em Belo Horizonte, no Centro de Inovações CSEM Brasil.”É uma área ampla onde procuro focar esforços em tecnologias que podem trazer benefício à sociedade. Atuo na área de inovação, incluindo desde a estruturação de projetos até a interlocução com clientes”, conta Danielle.
Desde o tempo em que estava no CERN – onde trabalhou por cinco anos no departamento de transferência de tecnologia – ela se dedica a fazer a ponte entre ciência e tecnologia, ou seja, entre universidade e indústria. E deu importantes contribuições nessa área. Durante o período do doutorado, por exemplo, trabalhou junto com uma grande empresa de aparelhos de imagem médica para desenvolver uma nova tecnologia de identificação para aparelhos de tomografia computadorizada. Essa nova tecnologia consiste em contar o número de fótons que passam pelo corpo humano quando este corpo é exposto ao raio-X. “Quando comparada à tecnologia anteriormente utilizada, esta permite utilizar a metade da dose de raio-X e melhorar a qualidade da imagem em até quatro vezes”, relata Danielle. Ou seja, menos dose de radiação para o paciente e melhor imagem para o médico. Este aparelho está sendo amplamente comercializado e contribui para uma melhor definição da imagem e melhor identificação, por exemplo, de tumores.
No momento, desenvolve pesquisas de ponta nas áreas de eletrônica orgânica e impressa e micro-sistemas com encapsulamento avançado em LTCC (low temperature co-fired ceramics). Na área de micro-sistemas, as aplicações estão concentradas nas áreas de aeronáutica, aviação e agricultura de precisão. “Em eletrônica orgânica estou trabalhando na implantação da primeira linha de produção para impressão a rolo de dispositivos de iluminação. Ou seja, lâmpadas serão impressas em plásticos flexíveis”. Estas lâmpadas possuem uma vasta gama de aplicações e poderão ser utilizadas desde em faixas de publicidade até em iluminação para cabine de aeronaves.
Paixão pelo novo
Danielle Moraes destaca as características que considera fundamentais num cientista. O raciocínio lógico, pois é preciso analisar bem os caminhos a seguir, os potenciais problemas e as chances de acerto. “Temos que avaliar a probabilidade de dar certo e de dar errado, assim como as várias vias que podem levar ao resultado”, explica. A perseverança, “porque às vezes o caminho da pesquisa é mais longo do que imaginamos e nem sempre conseguimos o suporte necessário para desvendá-lo”. Cita ainda a criatividade: “Nem sempre conseguimos os recursos necessários ou de que gostaríamos, e todo cientista precisa saber improvisar um experimento, assim como enxergar aplicações para a sua pesquisa. Mesmo que a pesquisa seja teórica, ela sempre encontrará aplicação em alguma área do conhecimento”. Termina referindo-se à paixão pelo novo e pela ciência, “pois na vida nada fazemos sem paixão. Um cientista precisa querer desvendar o novo, pois é assim que a ciência evolui”.
A física considera-se honrada pelo título de Membro Afiliado, que acredita ser um reconhecimento à sua intensa dedicação à carreira. “Fico feliz em saber que faço parte de um grupo seleto de pesquisadores e que estou dando a minha contribuição para a ciência brasileira. Espero contribuir na divulgação da ciência e na interação entre a universidade/centros de pesquisa e a indústria, em que tenho bastante experiência e acho importante para o Brasil.”