Os Acadêmicos Carlos Alfredo Joly e Paulo Artaxo representaram a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no segundo dia do “Forum on Science, Technology & Innovation for Sustainable Development”. O evento, realizado pelo International Council for Science (ICSU) em parceria com a ABC, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o International Social Science Council (ISSC), a World Federation of Engineering Organizations (WFEO/FMOI) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), teve um papel preparatório para a Conferência Rio + 20.
A mesa de debate abordou três projetos patrocinados pela fundação: o Programa Biota/Fapesp, coordenado por Joly; o Programa sobre Mudanças Climáticas Globais, do qual Artaxo é coordenador, e o Programa BIOEN, apresentado também por sua coordenadora, Glaucia Souza. Ela abriu o evento afirmando que uma das questões-chave a serem discutidas é a energia. “O consumo energético foi aumentando até o último século, quando começou a crescer em um nível bem elevado, não acompanhando o crescimento da população.”
Souza ressaltou também a importância de se promover a participação da comunidade cientifica em um debate em torno das políticas globais, engajando-a com os outros setores da população de forma a buscar um ideal de sociedade sustentável. “O que está acontecendo nos outros países em relação a essas questões de sustentabilidade?”, demandou, mostrando que é essencial a comunicação internacional. “Temos que promover projetos de pesquisa integrados, trabalhar juntos. Além disso, precisamos aumentar o número de pesquisadores, produtores do conhecimento, e atentarmos aos mecanismos de mercado associados com a transição para uma economia mais verde.”
Em seguida, Carlos Alfredo Joly explicou que a Fapesp, apesar de ser uma agência de fomento de São Paulo, atua também em cooperação com outros estados. Ele apresentou um panorama do estado, cuja população é de 41 milhões de pessoas – que têm disponíveis três universidades federais e três estaduais – e é responsável por 34% do PIB do Brasil. Atualmente, 1,64% do PIB de São Paulo destina-se aos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), índice que cresceu 1,52% desde 2008. “Esse total está em uma posição mediana comparada aos outros países”, informou Joly.
Em relação à Fapesp, o Acadêmico comentou que sua missão é estimular a pesquisa em todas as áreas das ciências fundamentais e aplicadas, bem como tecnologia, engenharia e artes. Seus recursos equivalem a 1% da receita tributária do estado e um dos focos da agência é fomentar a pesquisa em áreas estratégicas para o país e cruciais para o avanço da ciência – como as mudanças climáticas globais, a bioenergia e a biodiversidade, abrangidas pelos três programas apresentados na mesa.
Mudanças climáticas globais
O Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) começou a ser elaborado em 2008 e busca avançar no entendimento das consequências de tais transformações ambientais. O projeto parte do princípio de que as mudanças climáticas ocorrem, na maioria das vezes, em decorrência de causas naturais, mas que nos últimos cem anos as ações humanas vêm interferindo nos ciclos biogeoquímicos, afetando o sistema climático do planeta. Um de seus maiores objetivos é elaborar um Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global até 2013.
“A necessidade de estudos de mudanças climáticas no Brasil é importante em escala local, regional e global, devido às grandes dimensões do país e à interdependência da economia em relação aos recursos renováveis naturais”, declarou Paulo Artaxo . “Questionamos se os países tropicais podem se tornar completamente desenvolvidos sustentavelmente no século XXI, além do papel da ciência e tecnologia para a sustentabilidade do planeta.” O Acadêmico comentou que alguns biomas do Brasil já estão consideravelmente alterados, como os da Mata Atlântica e do Cerrado, e que na floresta Amazônica este processo também já é visível.
São diversas as áreas temáticas do programa: as consequências das mudanças climáticas no funcionamento dos ecossistemas com ênfase na biodiversidade, nos recursos hídricos e nos ciclos de carbono e nitrogênio; a relação de tais mudanças com a agricultura e a pecuária; a relação com a saúde humana; o balanço da radiação na atmosfera; a produção e uso de energia e sua ligação com a emissão de gases de efeito estufa; o papel dos rios no ciclo de carbono; as dimensões humanas das mudanças climáticas globais – suas consequências sociais e econômicas; entre outras.
Artaxo falou, ainda, sobre o Tupã, um super computador de alta performance adquirido pela Fapesp e pelo MCTI, que tem a capacidade de criar e analisar modelos climáticos globais. “O novo sistema incorpora avanços recentes em áreas como modelagem numérica e modelagem de mudanças climáticas.”
Bioenergia
A coordenadora do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia – BIOEN deu início à sua apresentação citando o editorial do periódico científico “Nature” de 6 de junho de 2012, que afirmava que “muitos governos no mundo industrializado estão gastando menos em pesquisa de energia limpa do que gastavam alguns anos atrás”. Segundo Glaucia Souza, faltam soluções baratas e politicamente viáveis na questão energética. A bioquímica afirmou, no entanto, que o Brasil é um exemplo, pois 47% de nossa matriz energética são renováveis – a média mundial corresponde a 13%.
Além disso, o bioetanol representa 20% da matriz brasileira de combustíveis. O país é o maior produtor mundial de etanol de cana-de-açúcar e lidera tecnologicamente o setor. É, também, o principal usuário do bioetanol como alternativa à gasolina, de modo que o álcool de cana-de-açúcar responde por mais de 40% do combustível consumido por veículos leves no país. “A cana-de-açúcar é uma matéria-prima extremamente viável para a produção de bioenergia”, afirmou Souza. “Da área total utilizada pela agricultura no país, apenas de 2 a 3% são ocupados com lavouras de cana. Existem ainda 60 milhões de hectares que poderiam ser usados para expansão.”
Nesse contexto, Glaucia Souza explicou que o BIOEN tem três objetivos principais: incrementar a produtividade da cana-de-açúcar com a utilização de biologia molecular; avaliar e mitigar os impactos ambientais e socioeconômicos da produção de bioenergia; e gerar conhecimento que assegure a posição de liderança do Brasil na pesquisa e produção de bioenergia. “Queremos promover o etanol como um combustível estratégico gl
obal, que possibilita a criação de empregos e o desenvolvimento local.” O programa engloba cinco áreas de pesquisa: biomassa para a produção de bioenergia; fabricação de biocombustíveis; biorrefinarias e alcoolquímica; aplicações do etanol em motores automotivos; e impactos ambientais e socioeconômicos, uso da terra e propriedade intelectual.
obal, que possibilita a criação de empregos e o desenvolvimento local.” O programa engloba cinco áreas de pesquisa: biomassa para a produção de bioenergia; fabricação de biocombustíveis; biorrefinarias e alcoolquímica; aplicações do etanol em motores automotivos; e impactos ambientais e socioeconômicos, uso da terra e propriedade intelectual.
Biodiversidade
Carlos Alfredo Joly deu continuidade à mesa apresentando o Programa Biota Fapesp, do qual é coordenador. Criado em 1999, o programa tem como objetivo catalogar e caracterizar a biodiversidade do estado de São Paulo, definindo mecanismos para a sua conservação, avaliando o seu potencial econômico e estimando o seu uso sustentável. Embora o Brasil seja reconhecido como um dos países líderes em riqueza de espécies – estudos recentes mostram que 13 a 18% da biodiversidade do planeta estão aqui -, São Paulo é mais conhecido por seu desenvolvimento econômico. No entanto, é um estado rico em diversidade de espécies: abriga, por exemplo, 7.200 tipos de plantas superiores.
“Criamos um mapa das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em São Paulo que foi adotado pela Secretaria Estadual de Agricultura”, contou Joly, que apresentou exemplos de florestas restauradas em 10 anos. “Nós não sabemos como recuperar a fauna, isso é uma área completamente nova, mas recuperamos a flora.” Ele enfatizou que a biodiversidade marinha também é uma área apoiada pela Fapesp, mencionando o novo navio oceanográfico comprado pela fundação para uso da Universidade de São Paulo (USP). “Além disso, investimos muito em pesquisas sobre o funcionamento do ecossistema.”
O Acadêmico informou que, em 2011, o investimento da Fapesp no Programa Biota foi de quase 2,5% do orçamento da agência. Declarou, ainda, que o projeto é conhecido também como Instituto Virtual da Biodiversidade, pois congrega pesquisadores, estudantes e instituições por meio de ferramentas da internet, e envolve atualmente cerca de 1.200 profissionais. “As informações produzidas pelo Biota-Fapesp são armazenadas em bancos de dados abertos à comunidade científica do Brasil e do exterior.”