A ABC recebeu, no mês de maio, representantes de 11 Academias membros do Painel Médico Interacademias (IAMP, na sigla em inglês) e da Associação Latinoamericana de Academias Nacionais de Medicina (ALANAM), para o Workshop Regional sobre Doenças Não-Transmissíveis, que abordou as doenças cardiovasculares e o câncer.
Os participantes da sessão 1 Trevor Anderson Alleyne (Caribe), Lai-Meng Looi (Malásia), Marcelo Elizari (Argentina), Benjamin Stockins (Chile) e Luís Mercado Maldonado (Bolívia)
O evento englobou três sessões sobre prevenção e controle das doenças cardiovasculares, que é o termo genérico usado para descrever distúrbios que afetam o coração ou os vasos sanguíneos. O relator da primeira sessão, o membro da Academia Nacional de Medicina (ANM) e cardiologista Cláudio Buarque Benchimol, afirmou que foram discutidos pontos já conhecidos, como a importância de um estilo de vida saudável para se prevenir desse mal: “É essencial a prática regular de atividade física, uma alimentação saudável, evitar o estresse e, se for realmente preciso, tomar remédios”.
A situação da Argentina
Benchimol também comparou a situação brasileira com a de outros países. “Pudemos ver que estamos bem situados, no nível do Chile, e muito à frente da Bolívia e Argentina, que estão mal nessa questão da prevenção e controle das doenças cardiovasculares.” Ele informou que, apesar de em Buenos Aires ser possível adquirir a medicação necessária, 70% da população argentina vive fora da capital e não conseguem os remédios.
Representando o país, o palestrante Marcelo Elizari mostrou que as doenças cardiovasculares têm se configurado um problema na Argentina e que as soluções não são simples. “Um estudo revelou que doenças cardiovasculares como hipertensão, doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral são prevalentes em populações locais de média e baixa renda”, declarou o membro da Academia Nacional de Medicina da Argentina. Segundo Elizari, vários fatores contribuíram para o aumento da incidência de tais enfermidades: expectativa de vida mais longa, uso do tabaco, diminuição da atividade física, obesidade, estresse psicológico e aumento do consumo de alimentos insalubres. “O Ministério argentino da Saúde e outras organizações têm promovido a educação e o controle como a principal forma de prevenção e detecção precoce da doença para estabelecer estratégias de gestão adequadas.” Uma das medidas já tomadas pelas autoridades foi a aprovação de um estatuto que criou, em 2011, o Programa Nacional de Prevenção da Doença Cardiovascular.
Os fatores de influência
O coordenador da terceira sessão, Jan Lindsten, alertou que as doenças cardiovasculares estão cada vez mais comuns – sendo a principal causa de mortalidade no mundo ocidental – uma vez que a população está ficando mais velha. Professor emérito de Medicina Genética do Karolinska Institutet, na Suécia, Lindsten comentou que tais doenças são causadas pela combinação de fatores genéticos e não genéticos. “Entre esses, há fatores culturais, sociais, ambientais. Sabemos bastante sobre seus efeitos, mas como são multifatoriais, é bem difícil de mudar a situação.” Ele também comentou que levou-se em conta a equidade na saúde: “Não estamos tentando comparar países pobres com ricos. Estamos olhando dentro de cada país para analisar seus respectivos problemas de saúde”.
De acordo com o coordenador, um dos pontos altos da sessão foi a palestra do representante dos Estados Unidos e membro do Instituto de Medicina da National Academy of Sciences Valentin Fuster, que fez uma apresentação sobre a promoção da saúde cardiovascular na infância, com base no documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) “Promovendo a saúde cardiovascular no mundo”. Ele descreveu programas em desenvolvimento na Colômbia, Espanha e Estados Unidos que se baseiam no conceito de que o comportamento dos adultos em relação à saúde tem suas raízes na exposição ao conhecimento e ao ambiente entre as idades de três a cinco anos.
A coordenadora da primeira sessão e co-presidente do IAMP, Lai-Meng Looi, alertou que, apesar da dificuldade do controle dos fatores genéticos, há os fatores modificáveis, como o estilo de vida. “Algumas doenças estão intimamente ligadas a esse aspecto, como hipertensão e diabetes, relacionadas a obesidade – que pode ser controlada com exercícios”, disse Looi, que é Membro do Conselho da Academia de Medicina da Malásia. “O importante é uma ação de conscientização acerca desses problemas. É assim que se melhora a qualidade de vida e a incidência de doenças cardiovasculares na sociedade.”
O exemplo do Caribe
Looi também comentou a pesquisa do representante do Caribe Trevor Anderson Alleyne, que estuda a incidência de hipertensão na região, cuja prevalência é de 26%. Segundo o pesquisador de Trinidad e Tobago, a doença é um problema principalmente em afro-descendentes, pois ela manifesta-se mais cedo e mais agressivamente do que entre os caucasianos e outros grupos sociais. Além disso, uma série de medicamentos anti-hipertensivos convencionais não funciona bem em pessoas de descendência africana.
Felizmente, foi observado que o cacau e a água de coco têm se revelado eficazes na diminuição da pressão sanguínea: “Um único copo de bebida de cacau (300 ml de água contendo 5 g de algumas marcas de cacau comercialmente preparado) levou a reduções significativas na pressão arterial”, informou. “Já a água de coco mostrou exercer um efeito significativo quando tomada antes e durante um exercício extenuante.”