As doenças não-transmissíveis ou crônicas são as que causam mais mortes no mundo, como as doenças respiratórias e cardiovasculares. Geralmente, requerem tratamentos longos, sendo as principais causas estilos de vida mais sedentários e menos saudáveis, decorrentes dos processos de industrialização e globalização. Durante o Workshop Regional sobre Doenças Não-Transmissíveis – Prevenção e Controle de Doenças Cardiovasculares e Câncer, Acadêmicos e pesquisadores da Argentina, Bolívia, Brasil, Caribe, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Guatemala, México e Venezuela se reuniram para debater as ações desenvolvidas em seus respectivos governos.

Manuel Luis Martí, da Argentina, foi um dos participantes da sessão sobre câncer. Segundo ele, o ministério da saúde e diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) conduziram uma prevenção primária sobre os riscos do tabaco, que induz a muitos tipos de doença, inclusive câncer. Ao final de 2011, foi estipulada a lei que proíbe o fumo em locais fechados, o que segundo ele foi um passo valioso.

No entanto, a maior conquista foi a prevenção e detecção precoce do câncer de útero, emplacada por instituições privadas e ONGs. “Um programa incluindo a garantia de qualidade do exame de papanicolau e o acesso ao diagnóstico e tratamento por mulheres de baixa renda é liderado pelo Ministério da Saúde e pelo nosso Instituto Nacional do Câncer”, afirma. Além disso, um programa similar foi implementado para analisar as fases iniciais do câncer de mama.

Por sua vez, o palestrante de Trinidad e Tobago Yuri Clement disse que em seu país o uso de medicinas alternativas complementares aumentou muito, porque os pacientes procuram o êxito em seus tratamentos de saúde. “É muito comum o consumo de chás feitos com ervas medicinais com propriedades anticâncer. As pessoas aliam esses remédios àqueles prescritos pelo médico”, observa.

O interessante, segundo ele, é que estudos asiáticos mostraram que o hábito de tomar chá verde pode ajudar a prevenir certos tipos de câncer, bem como uma série de análises clínicas de medicinas alternativas chinesas indicaram um efeito terapêutico promissor. “No Caribe, essa procura por plantas que ajudam no combate ao câncer apenas começou. Em nosso laboratório, estudos preliminares de alguns extratos de plantas selecionados apontaram uma atividade contra uma certa linha de células tumorais”.

Erick Jacobo Rodas, da Guatemala, apresentou o trabalho que vem sendo realizado sobre câncer cervical (do colo do útero) em regiões rurais, uma vez que o país é o que apresenta o maior número de casos de toda a América Central. “Todos os dias, quatro mulheres são diagnosticadas com a doença e duas morrem. A alta incidência continua porque falta um sistema organizado de detecção e recursos humanos qualificados disponíveis para os serviços de saúde”, apontou.

Uma estratégia foi desenvolvida nas áreas rurais, onde se realiza um trabalho de detecção e tratamento. “A iniciativa envolve triagem e acompanhamento de mulheres, que recebem pessoas treinadas em suas casas. Existe a etapa de qualificação de recursos humanos; visita e abordagem na casa dessas pacientes, feitas por esses trabalhadores da saúde que ganham certificado; e uma estratégia de encaminhar as mulheres com câncer de útero para setores mais especializados”, explicou Rodas.

Em 2010, 1.250 pessoas foram treinadas e 150 receberam certidões, adquiridas a partir de certa gama de competências, práticas e teóricas. “O grupo passou também por um teste de conhecimento e foram avaliados individualmente por suas participações nos debates sobre casos”, acrescenta o pesquisador.

Na Venezuela, o câncer se encontra na segunda posição do ranking das principais causas de morte desde os anos 80, de acordo com Luis Guillermo Negrin. “O ano de 2009 é o último que traz números oficiais sobre o câncer, quando ele representava 15% das causas de morte, o equivalente a 20.288 pessoas”, informa.

Um em cada quatro cidadãos que chega aos 74 anos tem risco de desenvolver algum tipo de câncer. Negrin comentou que as características epidemiológicas da doença no país tornam o desenvolvimento de um programa de controle necessário. “Esse programa deveria ser baseado em quatro pilares fundamentais: prevenção primária, diagnóstico precoce, aprimoramento dos meios de tratamento e aumento do número de pessoas que sobrevivem ao câncer”, explicou.

Já a pesquisadora e médica mexicana Lizbeth Lopez Carrillo disse que aproximadamente 130.000 novos casos ocorrem a cada ano e que 78.000 desse total de pessoas não conseguem vencer a doença. “No México, o câncer é mais grave e atinge mais pessoas do que as doenças cardiovasculares e a diabetes, sendo os tipos mais comuns o de próstata, pulmão, colo de útero, estômago e seios”, destaca.

Algumas estratégias nacionais incluíram o limite de tabaco consumido pela população, a vacina HPV e a promoção de comportamentos mais saudáveis. “Esperamos que o controle da obesidade epidêmica em nosso país contribua não apenas para a redução do câncer, como também para as doenças cardiovasculares e diabetes”.