
O livro reúne as crônicas dos dois primeiros livros publicados pelo cientista – “O fio da meada” e “Crônicas de nossa época”, respectivamente – e também algumas inéditas. O primeiro, publicado em 1990, é uma coletânea de crônicas, que, segundo o autor, mostram que a vida tem uma coerência do início ao fim. “Até aquele momento, eu sentia que tudo o que eu tinha vivido passava por um fio condutor, por isso o título”, explica. Já o segundo, nomeado “Crônicas de nossa época”, parte de uma reflexão do filósofo Jean-Paul Sartre, que diz que “É preciso, portanto, escrever para sua época”, o que o levou a publicar para seus contemporâneos. “Depois disso, continuei escrevendo, pois passei a gostar”.

Por amor à ciência
Ao contrário do que se possa imaginar, não foram exatamente os caminhos da ciência que levaram Hildebrando para a França. Membro do Partido Comunista Brasileiro, ele foi um dos inúmeros alvos do Ato Institucional nº 1, decretado pelo presidente Castello Branco em 1964, que levou diversos intelectuais do país para o exílio. Aos 34 anos de idade, o professor teve de deixar o laboratório de genética de microorganismos da Universidade de São Paulo (USP), onde era livre-docente, e voltar a Paris, para o Instituto Pasteur, no qual já havia realizado pesquisas anteriormente. Em 1968, retornou ao Brasil, a pedido do diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
Organizou o laboratório de genética microbiana, mas com o Ato Institucional nº 5, aprovado pelo presidente Costa e Silva, foi novamente demitido. Com a segunda extradição, o Brasil perdeu a presença do pesquisador, que se ligou definitivamente ao Instituto Pasteur. Na renomada instituição francesa, Hildebrando criou e dirigiu a Unidade de Parasitologia Experimental. Posteriormente, organizou unidades descentralizadas do instituto em Caiena, na Guiana Francesa, e em Dacar, no Senegal. Ao se aposentar, em 1996, voltou ao Brasil e retomou suas atividades na USP, porém por pouco tempo.
Apaixonado pelo estudo de doenças tropicais, decidiu enfrentar o desafio de implantar e desenvolver um centro de pesquisas na região amazônica. Munido apenas de seu conhecimento e da vontade de colaborar com a ciência no Brasil, ele desembarcou em Porto Velho, capital de Rondônia, em 1997, onde já consolidou duas novas entidades e de onde propõe um programa estratégico para a erradicação da malária no vale do rio Madeira.