O historiador Carlos Wagner Costa Araújo (à direita na foto) foi eleito para dirigir a Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC) no período de 2012 a 2014. Doutorando em Educação pela Universidade Católica de Santa Fé, na Argentina, possui graduação em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e especialização em Jornalismo e Divulgação Científica pelo Núcleo José Reis da Universidade de São Paulo (NJR/USP).
Atualmente professor e diretor do Espaço Ciência e Cultura da Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Wagner destacou em entrevista exclusiva para as Notícias da ABC que pretende investir na consolidação e na interiorização de centros e museus de ciência no Brasil. “A ciência brasileira sempre se desenvolveu olhando para o mar”, aponta o historiador, ressaltando que embora tenham sido implementados muitos espaços científicos e culturais em várias regiões do Brasil nos últimos dez anos, eles ainda são insuficientes. “Vivemos num mundo em que é preciso humanizar a ciência, mostrar como é belo fazê-la, assim como deixar claros os benefícios e riscos que ela pode trazer para a humanidade. A educação científica pode ser um bom caminho para iniciar o debate.”
Seu vice-presidente para esta gestão é o doutor em química pela USP, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretor do Espaço Ciência, Antonio Carlos Pavão (à esquerda na foto acima). Wagner rememora a campanha para a ABCMC, em que Pavão usava o mote um museu de ciência em cada esquina. “Podemos ir além, lutar por um espaço científico e cultural na cabeça de cada cidadão, de forma que a natureza, a rua, a escola e a casa possam a cada instante ser objeto de investigação, indagação e perguntas.”
Wagner observa que o cenário brasileiro com relação à percepção pública da ciência no Brasil vem se modificando positivamente. Ele cita pesquisa realizada em 2010 e coordenada pelo Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia (DEPDI) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que indica que as visitas aos museus de ciência no Brasil dobraram desde 2006 (de 4% foram para 8,3% da população entrevistada). Além disso, cresceram em quantidade e qualidade atividades de divulgação científica como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, olimpíadas científicas, feiras de ciências, mostras científicas como a Febrace e a Ciência Jovem, etc. “Essas atividades estimulam principalmente jovens estudantes do nível básico, assim como provocam educadores e cientistas para que enfrentem os desafios do ensino de ciências.”
O presidente da ABCMC cita como referência um documento elaborado pela entidade e apresentado na 4ª Conferência Nacional de C&T, em Brasília, no ano de 2010, que estabelece metas para os próximos 12 anos e se propõe a envolver entidades, instituições, empresas, profissionais, comunidades e governos que reconheçam a importância da ciência para o desenvolvimento social, assim como valorizem sua popularização para a formação de cidadãos capazes de identificar e compreender, criticamente, as possibilidades e os limites do saber científico na sociedade e na nossa história. É o Programa Nacional Pop Ciência 2022, elaborado com ampla participação da ABC e SBPC. “As comissões de educação nestas instituições têm uma importância histórica e vem contribuindo para a melhoria e mobilização do ensino de ciências do país, que é um grande desafio nacional”, acrescentou Wagner.
Para o especialista em divulgação científica, a ideia atual é fazer educação de forma agradável, interativa, uma educação “menos chata” e coletiva. Um belo exemplo, para ele, é o programa ABC na Educação Científica: Mão na Massa, que é apoiado pela Academia Brasileira de Ciências e que às vezes, em sua opinião, é pouco entendido pela comunidade científica. “No Espaço Ciência e Cultura da Univasf, que fica em Petrolina e que é pólo do Mão na Massa em Pernambuco, vários professores da educação básica inquietos vem buscando fazer uma educação diferente, procurando uma melhor dinâmica educacional,” o que ocorre também em todos os outros pólos do programa no país. Wagner acredita que investir nesse programa e em outros espaços de discussão sobre educação científica é um caminho acertado para que o país mude de patamar com relação à qualidade da formação para a Ciência que oferece aos jovens brasileiros.