Pérsio de Souza Santos, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), morreu em 1º de janeiro, aos 83 anos, em decorrência de um infarto. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e foi assessor da Fapesp.

Nascido em 1º de março de 1928 em Rio Claro, no interior de São Paulo, Souza Santos graduou-se em engenharia química em 1951 pela Poli-USP, ingressando em seguida no Instituto Butantan. Obteve o título de mestre em biofísica pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, em 1956, e os de doutor e livre-docente, respectivamente em 1959 e 1961, na Escola Politécnica da USP.

Em 1956, assumiu a chefia da Seção de Cerâmica da antiga Divisão de Química e Engenharia Química e atual Agrupamento de Tecnologia Inorgânica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que tinha como um dos objetivos identificar e avaliar a qualidade de minérios não metálicos brasileiros como, entre outros, argilas, feldspatos, talcos, calcitas e zirconitas para utilização como matérias-primas pelas indústrias cerâmicas e químicas do País.

A partir de 1962, tornou-se professor titular de química industrial nos Departamento de Engenharia Química e de Engenharia Metalúrgica e de Materiais na Poli-USP, sendo responsável por muitos anos por um grupo de química industrial. Como professor, orientou 24 dissertações de mestrado e 23 teses de doutorado sobre matérias-primas minerais brasileiras. Publicou mais de 300 trabalhos científicos em revistas nacionais e internacionais e foi pioneiro nas pesquisas sobre argilas no Brasil, formando gerações de pesquisadores na área.

Alguns resultados de suas pesquisas sobre argilas brasileiras e outros materiais não metálicos realizadas no IPT e na Poli-USP estão descritos no livro Ciência e tecnologia de argilas: aplicação às argilas brasileiras (Editora Edgard Blücher, 1992), de sua autoria.

Foi presidente da Comissão de Tecnologia do CNPq no período de 1968 a 1977, da Associação Brasileira de Cerâmica por duas vezes entre os anos de 1970 e 1980, da qual era conselheiro emérito, e vice-presidente de materiais da Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica. Era membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Sigma Xi (The Scientific Research Society), da Clay Minerals Society, dos Estados Unidos, e da Association Internationale pour lÉtude des Argiles (Aipea), da França.

Realizou pós-doutorado nos Estados Unidos no período de 1990 a 1992 na Universidade do Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, com quem mantinha colaborações de pesquisa, além de outras instituições como a English China Clays, na Inglaterra, e a Universidade de Salta, na Argentina.

Ganhou o prêmio “Heinrich Rheinboldt”, do Sindicato dos Químicos do Estado de São Paulo, em 1975, o “Francisco de Salles V. de Azevedo”, da Associação Brasileira de Cerâmica, em 1979, e recebeu uma homenagem da SBPC, em 1976, e do Instituto Tecnológico de Pernambuco, em 1997, por sua contribuição científica.

Souza Santos foi um dos pesquisadores principais do Projeto Temático “Caracterização reológica de misturas poliméricas (blendas) e nanocompósitos de matriz polimérica reforçados com argilominerais”, financiado pela Fapesp. “Ele foi um grande pioneiro e propulsor de pesquisas em várias áreas imprescindíveis, principalmente em tecnologia de argilas, na qual as pesquisas no Brasil não eram tão profundas até então. Depois, avançou para a área de cerâmicas”, disse Vahan Agopyan, pró-reitor de Pós-Graduação e membro do Conselho Superior da Fapesp.

“Como trabalhei com materiais com os quais ele tinha interesse, como gesso e outros materiais fibrosos, mantivemos contato contínuo por mais de 30 anos”, contou. Souza Santos compôs a banca de livre-docência na USP, em 1991, de Agopyan.

Agopyan lembra que Souza Santos era um cientista bastante meticuloso, que zelava pela precisão dos dados em suas pesquisas, e era avesso a cargos administrativos, para os quais foi diversas vezes convidado e nomeado e recusou porque queria continuar realizando pesquisa. “O amor dele pela pesquisa era marcante. Mesmo aposentado, há quase 15 anos, ele vinha periodicamente ao laboratório que criou e coordenou na USP”, disse Agopyan.

O cientista deixou a esposa Helena de Souza Filho, os filhos Pérsio de Souza Filho, professor do Instituto de Biociências da USP, e Fábio Lopes de Souza Santos, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, e três netos.