No dia 2/12, a Sessão de Ciências Químicas foi coordenadapelo Acadêmico Jairton Dupont, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), e contou com os palestrantes Claudio Mota, da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), Claudio Radtke, também da UFRGS, e Ronaldo AloisePilli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo Dupont, as perspectivas das ciências químicas noBrasil evoluíram bastante nos últimos vinte anos, ganhando, inclusive, destaqueinternacional. Ele afirma que dentro da ciência brasileira, a química já seencontra dentro das três áreas mais produtivas. “No entanto, ainda temos poucospesquisadores e muitos deles estão centralizados em uma única universidade. Nosquesitos avanço e inovação, é necessário ampliar esse número quantitativa equalitativamente, distribuindo mais pesquisadores por regiões entre centrosacadêmicos e não-acadêmicos”, ressalta.

Para o químico, a inovação tecnológica não depende somentedas universidades, pois ela deve ocorrer também – e principalmente – em grandes indústrias. “Acredito queum grande passo para a área é diversificar a densidade de pesquisadores tambémnos centros industriais, fator essencial para a transformação do conhecimentoem produto”.

Química para o bem-estar e conforto

Claudio José de Araújo Mota possui graduação, mestrado e doutorado em EngenhariaQuímica pela UFRJ. Atualmente é professor Associado, comexperiência em catálise, físico-química orgânica, petróleo, petroquímica etransformação de biomassa. Durante o evento, o cientista palestrou sobre”Zeólitas: solventes sólidos e enzimas inorgânicas”, tema de uma desuas principais linhas de pesquisa.

Em seu trabalho, Mota estuda certos catalisadores, substâncias que aceleram reações químicas. Existemalgumas atividades industriais como, por exemplo, o refino do petróleo, quefazem uso dessas substâncias. “Neste caso, especificamente, pesquiso uma que sechama zeólita, tentando aprimorá-la e fazendo com que se torne cada vez maisativa”, explica. De acordo com ele, a área de catalisadores é bastanteinterdisciplinar, pois mistura a química orgânica com a inorgânica, além deabranger diversos setores da indústria.

Nos últimos anos, o pesquisador diz que a química deugrandes saltos, principalmente em relação à física. “Durante algum tempo, aquímica esteve atrás da física, mas a grande diferença é que a segunda é maisacadêmica, enquanto o químico tem uma interface maior com o meio produtivo”.Mota também afirma que, atualmente, a área enfrenta desafios,principalmente com as questões ambientais. “Muita gente ainda associa a químicaa fatores negativos, mas com a crescente preocupação com a produção de energiaslimpas e tecnologias capazes de reverter a situação mundial, a área passa porum momento ímpar, capaz de provar que ela contribui para o bem-estar e confortoda população”.

Uma área com déficit de pessoal e infraestrutura

O Acadêmico Claudio Radtke é graduado em Engenharia Química e doutor em Física pela UFRGS. Atualmente, é professor Adjunto doInstituto de Química, onde trabalha na área defísico-química com ênfase em superfícies e filmes finos.

Radtke contextualizou os avanços da microeletrônica, queenvolve a produção de processadores, computadores e demais eletrônicos, e opapel da química dentro da área. Segundo ele, a química ajuda a aprimorar cadaum desses dispositivos. “O Brasil já tem uma infraestrutura de pesquisa nosetor, mas em comparação aos países desenvolvidos e industrializados, temos umbom caminho a percorrer”.

O pesquisador também ressaltou o fato do Brasil não possuirnenhuma fábrica de chips e outros componentes eletrônicos, sendo a química aresponsável por ajudar, futuramente, no processo de implementação deste tipo deindústria. “Somos um país que consome em larga escala esses produtos, o que fazdeste mercado um alvo promissor”, conta. “Além disso, precisamos de pessoalespecializado. Temos cursos de graduação e pós em microeletrônica, masprecisamos de uma verdadeira cultura de formação na área, além de fábricas eindústrias solidificadas”.

“Brasil precisa investir no setor de transformação”

Ronaldo Aloise Pilli possui graduação e doutorado em Químicapela Unicamp, onde, atualmente, é professor Titular. Dentro daárea, realiza pesquisas sobre síntese orgânica, atuando em temas como síntesede fármacos, feromônios e produtos naturais com ênfase na avaliação daatividade biológica. Durante a sessão, o pesquisador apresentou os indicadoresde C&T na América Latina, Brasil e Caribe, que “evoluíram significativamente”.

Segundo ele, os países desenvolvidos entraram em um pequeno processode estagnação em relação ao número de publicações e pesquisadores envolvidoscom a geração de conhecimento e tecnologia. “Por outro lado, temos nações emdesenvolvimento que vêm aumentando sua participação no setor, como é o casodo Brasil”, observa.

Há alguns aspectos que merecem maior atenção, como, porexemplo, a necessidade de aumentar o número de pesquisadores por milhão dehabitantes, que ainda é muito pequeno nos países da América Latina e muito baixo comparado a países industrializados. “Temos uma demanda grande porjovens que lutem por esta causa, pois a área está intimamente ligada à geraçãode riqueza e a fatores socioeconômicos”.

O pesquisador conta que a química permeia todo o processo de produção de bens e riquezas, desde o petróleo até eletrônicos como iPads, computadores, entre outros. Pilli ressalta que todos os países com alto índice de desenvolvimento possuem uma indústria química bem preparada e consolidada. “Existe uma dependência direta de vários nichos da sociedade com a área, como saúde, telecomunicações e transportes”, diz. “O Brasil, especificamente, encontra-se entre as dez maiores economias do mundo, com destaque especial para o ramo petroquímico. Nos falta investir no setor de transformação da matéria bruta em produtos de maior valor agregado e inovação tecnológica”.