O representante da Petrobras Nilson Rodrigues da Cunha participou do Simpósio Academia-Empresa de Salvador, realizado em outubro de 2011, proferindo uma palestra sobre as ações recentes da petrolífera e sua participação na inovação. Ele contextualizou os dados informando que o Brasil é o sétimo maior consumidor mundial de petróleo – o primeiro é os Estados Unidos, o segundo é a China e o terceiro é o Japão. O consumo de óleo (incluindo etanol e biodiesel) cresce 2,1% ao ano no país, sendo que esse crescimento é mais expressivo em países emergentes, como China e Índia.
Ele comentou que a empresa tem previstos, para 2015, dez projetos relacionados ao pós-sal, oito ligados ao pré-sal e um de cessão onerosa. “Ainda assim, o pré-sal só começará a influir mesmo em 2020”, complementou. Além disso, segundo Cunha, a demanda da Petrobras por novas embarcações e equipamentos vai movimentar a indústria brasileira e internacional para barcos de apoio e especiais, sondas de perfuração, plataformas de produção e outros. “Isso requer um envolvimento de toda a sociedade, pois as plataformas são verdadeiras cidades flutuantes”.
Discorrendo sobre a história da Petrobras na Bahia, o palestrante destacou que, em 2007, a incorporação do novo campo de Manati deu novo impulso ao crescimento da empresa no estado. Apesar do avanço constante da petrolífera, Cunha alertou que, ainda assim, são necessárias soluções científico-tecnológicas para evoluir na direção do pré-sal, por exemplo. “A Petrobras investe em formação de recursos humanos, redes temáticas com universidades, além de parcerias com empresas nacionais e internacionais”, declarou.
Nilson Cunha citou algumas dessas tecnologias que ainda precisam ser trabalhadas de forma a dar seguimento aos projetos do pré-sal. “Temos que desenvolver materiais mais resistentes, leves, com maior resistência à corrosão, além de soluções de engenharia para as plantas das plataformas e dos navios e de logística para levar as pessoas para a área de trabalho”.
Segundo ele, algumas dessas soluções precisam ser diferentes das já existentes por causa do ambiente em que se vai trabalhar – profundidades da ordem de quatro mil metros de rocha e dois mil metros de lâmina dágua, o que corresponde a uma camada de seis mil metros no total. “Hoje, trabalhamos com lâminas dágua de 1.800 metros; vamos passar a trabalhar com 2.200, 2.300 metros. Assim, é preciso produzir materiais que suportem esse novo ambiente. “Tem também a questão do nível de corrosão, uma vez que os fluidos apresentam um grau alto de CO2”, completou.
Cunha informou que a Petrobras é vanguardista no processo de produção em águas profundas, de modo que não se encontra esse tipo de tecnologia em outros países. “Foi um investimento grande que fizemos ao longo do tempo e, à medida que vamos conseguindo evoluir, a tecnologia vai se consolidando e vamos perfurando e produzindo em águas cada vez mais profundas”. Desta forma, enquanto uma parte desse conhecimento já existe, outra está sendo desenvolvida em projetos e nos relacionamentos com universidades, laboratórios e empresas, através das redes temáticas mencionadas.
De acordo com o palestrante, essa demanda da empresa por novas tecnologias gera uma ampla busca por novos profissionais das mais variadas áreas. “Só dentro da Engenharia, precisamos de engenheiros de materiais, de petróleo, químicos, mecânicos, elétricos, eletrônicos…” Ele afirmou que até mesmo áreas como Medicina e Direito serão requisitadas: “Quando se tem uma população em uma plataforma ou navio, são necessários médicos e enfermeiros lá. Além disso, precisamos de advogados para montar os contratos, administradores para fazer a gestão de todos os processos e outros”. Geólogos e geofísicos também terão grande importância. “Temos uma estratégia de contratar em torno de mil profissionais por ano, talvez nos próximos cinco anos”, calculou.
Em relação à formação de recursos humanos citada, Cunha mencionou que existe um processo estruturado em torno desse aspecto na Petrobras há bastante tempo. A Universidade Petrobras é o órgão responsável pela preparação profissional dos funcionários da empresa, uma vez que mantém convênios com universidades e patrocina mestrados, doutorados e cursos de especialização. “Quando eu entrei na área de Geologia, há 30 anos, estudei durante cinco na universidade regular e não aprendi nada sobre Geologia do Petróleo. Quando fui contratado pela Petrobras, passei um ano sendo financiado para estudar esse tema”, contou.
Comentando a delicada relação entre a academia e a empresa, Cunha comparou o pesquisador a um passarinho: “Se o seguramos de um modo folgado, ele cria, mas não traz inovação nem conhecimento que interesse para ser agregado, de fato. Se apertamos muito, ele se sente sufocado, pois não consegue criar em meio a muitos limites e exigências. É preciso ter um equilíbrio sutil para se extrair o melhor deles”.