Dora Leal, Jacob Palis, José de Freitas Mascarenhas, Roberto Santos e Renildo Souza
No dia 6 de outubro, a Academia Brasileira de Ciências promoveu, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), a primeira edição nordestina do Simpósio Academia-Empresa, em Salvador. O evento, capitaneado pelo Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade, teve em vista contribuir para solucionar um dos principais desafios da ciência brasileira no momento, após os recentes avanços: integrá-la ao setor produtivo.
Os palestrantes do evento foram o diretor de Inovação e Tecnologia da Braskem, Alessandro Bernardi; o representante da Petrobras na Bahia, Nilson Rodrigues Cunha; o diretor industrial da empresa Oxiteno, Flavio Cavalcanti; o gerente-geral adjunto de Tecnologia da Fibria Celulose, Fernando Bertolucci; o gerente executivo da Unitec/CNI, Jefferson de Oliveira Gomes; e o representante do Banco do Nordeste, Laercio de Matos Ferreira.
A mesa de abertura foi composta pela reitora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dora Leal; o diretor de Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Renildo Souza, o presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas; o presidente da Academia de Ciências da Bahia e ex-governador do estado, Roberto Santos; e o presidente da ABC, Jacob Palis. Mascarenhas iniciou seu discurso lamentando a morte do ex-diretor executivo da Apple, Steve Jobs, no dia anterior. “É uma grande perda para a inovação mundial”. Depois, comentou a importância da inovação, afirmando que ela precisa de um ambiente complexo e de talentos para se desenvolver. “É esse ambiente que estamos tentando criar aqui na Bahia, pois essa é uma ferramenta essencial para o desempenho competitivo da indústria”.
Mascarenhas prosseguiu afirmando que, para ampliar a participação brasileira no mercado global, é preciso competência e capacidade estrutural, acrescentando que a competitividade é garantia para o crescimento e um futuro com melhores condições de vida para a sociedade. “Precisamos, por exemplo, estimular a formação maciça de engenheiros qualificados”, declarou. “Os próprios empresários já estão começando a ter consciência da importância de sua iniciativa na qualificação de recursos humanos e na criação de núcleos de inovação nas indústrias”.
Ele informou que o Senai da Bahia está investindo no sentido de qualificar os profissionais conforme a demanda da indústria. “Algo bem criado e bem nutrido acaba dando mais frutos do que o esperado”. Além disso, Mascarenhas enfatizou a necessidade de se criar um relacionamento com a academia e afirmou estar honrado com o prestígio que está sendo dado às indústrias nesse processo de aproximação.
Jacob Palis destacou o papel da ABC em promover a integração entre academia e empresas e afirmou que o entrosamento dos cientistas com o setor produtivo é essencial para o país e bom para as duas partes. “O Brasil precisa ser muito mais agressivo em agregar valor a seus produtos e a pesquisa deve ser refletida nestes”, comentou. “Esta é a postura necessária, hoje, aos cientistas, que devem ouvir a demanda da indústria e contribuir objetivamente para o crescimento do país”. O matemático mencionou as outras edições do evento realizadas no Rio de Janeiro e destacou que existem outras agendadas em Belo Horizonte e São Paulo. “A ABC está tendo esforços no sentido de promover a união entre indústria e ciência, voltada para a inovação”, concluiu.
Já Roberto Santos afirmou que é estimulante ver que os empresários baianos estão respondendo e se mostrando dispostos a realizar esse intercâmbio, tão necessário à Bahia e ao país. “O Brasil está no 13o lugar no ranking mundial de produção científica, mas em 47º em inovação”, informou o presidente da recém-criada Academia de Ciências da Bahia. “Precisamos de ideias novas aplicadas a práticas anteriormente reconhecidas e da aplicação do conhecimento e transformação dele em produtos ou processos”.
Santos comentou que a inovação está presente de forma intensa na sociedade, atualmente, e que é natural que ela envolva riscos. O médico informou que as pequenas empresas, sem grandes recursos, resistem ao investimento em inovação, sendo importante a participação dos cientistas no incentivo ao processo inovativo. Ele lembrou, ainda, da necessidade de uma expansão científica, pois vivemos um atraso no ensino de Ciências Exatas e da Natureza e, assim, temos um baixo número de patentes. “O ambiente educativo brasileiro é anacrônico; a metodologia valoriza excessivamente o acúmulo de informações em detrimento do estímulo ao pensamento independente e criativo, ao levantamento de hipóteses, ao raciocínio lógico, etc”.
O palestrante completou dizendo que poucas escolas de ensino básico possuem laboratórios e os museus de ciência são raros no país. “Como esperar adultos inovadores se os estímulos pedagógicos aos quais as crianças são submetidas não incentivam a criatividade?”, questionou. Santos afirmou que, para mudar a situação da economia brasileira, é preciso mudar essa condição do ensino. E, conforme declarou José de Freitas Mascarenhas, “a arena está construída, agora temos que jogar o jogo”.