Flávio do Couto B. Cavalcanti, diretor industrial da Oxiteno Ultra, multinacional brasileira pertencente à holding Ultra – representada por empresas como a Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo -, fez sua apresentação no 1o Simpósio Academia-Empresa da Bahia, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIESB), em Salvador, parceira da ABC nessa iniciativa.
A Oxiteno atua, principalmente, nos mercados de cosméticos, agroquímicos, detergentes, tintas e petróleo&gás. Cavalcanti explicou que existem duas cadeias de produção em inovação tecnológica: a de origem fóssil – do petróleo – e a das fontes naturais. “Atualmente, 20% do valor que a companhia compra de matéria-prima é proveniente de fontes verdes e 35% de nossos produtos são de matérias biorrenováveis”, informou o diretor.
As duas cadeias, segundo ele, estimulam bastante a inovação, devido ao número de produtos e processos envolvidos. “Mas sabemos que para chegar à inovação, precisamos determinar alguns direcionadores como, por exemplo, visualizar os mercados prioritários com os quais vamos trabalhar”. Cavalcanti relatou que, recentemente, a Oxiteno criou um Observatório da Inovação, um núcleo que tem por objetivo buscar o que está se fazendo pelo mundo em termos de inovação nas áreas que a empresa atua. Outra iniciativa nesse sentido foi a fundação, em 2004, do Conselho Científico de Tecnologia. “Trouxemos conselheiros de reconhecimento internacional, vindos do mundo acadêmico, empresarial e de centros de pesquisa e tecnologia”, diz. A medida contribuiu para a atualização da empresa com relação às tendências tecnológicas e setoriais vigentes, oferecendo a oportunidade de discutir P&D e novos modelos de inovação.
Casos de sucesso em PD&I
Cavalcanti ressaltou alguns trabalhos de parceria daOxiteno, como é o caso do uso de tensoativos para xampús e detergentes lava-roupa. “Fizemos uma parceria com uma grande empresa do setor de higiene no período de 2007 a 2010. Conseguimos desenvolver quatro novos produtos”, conta o diretor. Outro exemplo dado por Flávio Cavalcanti foi a parceria com a empresa Henkel, que resultou na substituição do tolueno em adesivos de contato. “O elemento foi substituído por um solvente oxigenado, que não gera dependência química.”
Parcerias acadêmicas
Com universidades, ele destacou uma parceria feita entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O projeto tinha por objetivo desenvolver uma tecnologia para obtenção de nanocompostos de termoplásticos com argilas modificadas com tensoativos. “Fizemos uma rede de trocas entre todos os agentes envolvidos. Trabalhamos nesse projeto de 2006 a 2009 e conseguimos depositar dois pedidos de patentes”. Para Flávio, todas as parcerias resultaram em produtos que causam menos danos ao meio ambiente e à saúde do ser humano.
Aquecendo a interação
Cavalcanti avaliou os desafios a serem enfrentados visando intensificar a relação entre universidade e empresa. Segundo ele, a velocidade na execução dos convênios e contratos é um fator complicador para muitas empresas, principalmente para as de pequeno porte. “Outra questão que precisa ser melhorada é a velocidade na execução dos projetos. O timing da empresa é diferente do das universidades”, diz. “A companhia trabalha com prazos e com um calendário e, muitas vezes, o tempo que a universidade pode ofertar é muito maior do que aquele que a empresa está disposta a aceitar. É preciso que haja diálogo”.
O diretor ressaltou que existe, também, um conflito quanto à divulgação da informação, pois a universidade tem interesse em divulgar o trabalho com a empresa – o que pode render um maior número de publicações científicas e aspectos positivos para a instituição – mas para a empresa a divulgação não é interessante.
Ao final, Cavalcanti disse que, atualmente, existem cerca de 120 funcionários trabalhando em Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia (P,D&E), estando 102 no Brasil e cerca de 15 no Centro de P&D da empresa no México. “Nos últimos três anos, lançamos 40 novos produtos ou moléculas e, desde o início de nossas atividades em P,D&E, já alcançamos 51 pedidos de patentes”. Só no ano de 2010, o diretor conta que foram R$18,5 milhões investidos em inovação e que a cada ano as parcerias com universidades de diversas regiões vêm aumentando. “O processo de inovação na indústria é estimulado por uma função econômica relacionada diretamente com o mercado. Uma boa ideia requer tecnologia, preparo, capacitação e bons profissionais.”