Filha de pai auditor fiscal e de mãe formada em contabilidade, mas que se dedicou a cuidar dos dois filhos, Josimari fez de tudo quando criança: brincou de boneca, carrinho, “atriz de novela”, andou à cavalo… “Tivemos sempre muito contato com avós, tios, primos e, hoje, que sou mãe, julgo que isso é muito importante para o desenvolvimento social da criança”, comenta. A cientista, que também tem outros três irmãos mais velhos por parte de pai, completou a graduação em fisioterapia na Universidade Tiradentes (UNIT), em Aracaju, sua cidade natal. Para ela, não houve ninguém ou nenhum momento específico que tenha despertado seu interesse pela ciência. Este já existia nos tempos de colégio: “Fazer os trabalhos que os professores passavam me empolgava muito; ficava muito ansiosa para fazer as apresentações e mostrar os produtos de minhas pesquisas. Além disso, todos os anos tínhamos as feiras de ciências, das quais eu adorava participar”.
Na época da graduação, Josimari fez iniciação científica remunerada por três anos e começou a fazer pesquisa no primeiro ano do curso de fisioterapia, sobre anatomia do sistema vascular em fetos. “Pesquisei em várias áreas: neurologia, pediatria, ortopedia, desportiva, amputações, cardiologia”, revela. “Mas, do meio para final do curso, encontrei o que realmente gostava de pesquisar – a atuação da fisioterapia na dor”. No último ano da iniciação científica, ela começou a investigar os efeitos clínicos da neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS) em pacientes no período pós-operatório, pesquisa essa que se tornou seu trabalho de conclusão de curso. No segundo período do curso, ela começou a namorar um colega de turma que foi um grande parceiro em todas as suas pesquisas. “Esse namorado é hoje meu marido, com quem estou desde 1999”.
Em 2003, Josimari se casou e começou o mestrado em Ciências da Reabilitação na USP de Ribeirão Preto, onde continuou a pesquisa sobre os efeitos da TENS em pacientes cirúrgicos. Prosseguiu com o doutorado na mesma área e na mesma universidade e, em 2005, teve seus primeiros trabalhos aprovados para apresentação em um congresso internacional da Sociedade Americana de Dor. Na mesma época, a pesquisadora entrou em contato com Kathleen Sluka, coordenadora do Laboratório de Neurobiologia da Dor da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, que a convidou para um estágio pós-doutoral. “Hesitei, inicialmente, porque fiquei muito surpresa, mas depois não tive mais dúvidas e aceitei o convite”, conta.
Atualmente, sua pesquisa busca investigar, de forma mais contundente, o efeito da estimulação analgésica por meio da TENS e da corrente interferencial em estudos clínicos e pré-clínicos (com animais de laboratório), bem como as formas pelas quais estas terapias agem no sistema nervoso central, tanto no cérebro, como na medula espinhal . “Usamos diferentes protocolos de tratamento em modelo animal de fibromialgia (desordem caracterizada por dor crônica em vários pontos do corpo). A fibromialgia é produzida em ratos de laboratório através da injeção de uma substância ácida no músculo da pata, que gera vários componentes nociceptivos – como se fosse a dor em seres humanos – que mimetizam ou se assemelham aos sinais e sintomas encontrados em pacientes fibromiálgicos”, explica.
Depois de induzida a fibromialgia, o grupo começa a tratar estes animais, que, de acordo com resultados preliminares do Laboratório de Pesquisa em Neurociências (Lapene) têm demonstrado efeito satisfatório para a redução da dor. “Agora buscamos avançar na identificação dos mecanismos que estão envolvidos no cérebro e na medula para causar esse tipo de efeito”.
Para Josimari, o que é encantador na ciência é o que ainda está por ser descoberto. A pesquisadora acredita que, para ser cientista, várias características são essenciais: “Coragem, perspicácia, determinação, persistência, senso de coletividade e cooperação, sabedoria – não somente inteligência, bom humor e, claro, a capacidade de sonhar”. Além disso, ela considera que quem escolhe essa carreira deve se preocupar com a formação de novos cientistas e com a busca de novos produtos e/ou soluções para resolver demandas da sociedade.
A vencedora acredita que o prêmio é um sinalizador de que ela está no caminho certo. “Ele nos motiva a continuar investindo tempo, raciocínio e esforços na realização de estudos em nosso laboratório de pesquisa”, afirma. Em sua opinião, essa iniciativa contribui para a ciência brasileira porque reconhece o empenho e a produtividade de jovens pesquisadores, estimula a continuidade dos trabalhos dos premiados e incentiva outros cientistas. “Independentemente da escolha de uma profissão, todos podemos ser cientistas. A ciência é para todos. Basta gostar e se divertir fazendo ciência, investir tempo e se dedicar aos estudos sempre”, declara a jovem homenageada.