No dia 30 de setembro, a Agência Inova Unicamp entregou o Prêmio Inventores, com o qual distingue os pesquisadores que se destacaram no campo da propriedade intelectual. Aqueles com patentes registradas no período e os que conseguiram ingressar em uma categoria ainda reduzida no país, isto é, viram o mercado transformar seu trabalho em produtos. Em 2011, a quarta edição do evento homenageou o professor Oswaldo Luiz Alves, responsável pelo Laboratório de Química do Estado Sólido, LQES, do IQ da Unicamp. O nome do LQES está associado hoje , internacionalmente, à criação de uma tecnologia destinada a tratar efluentes industriais e eliminar os danos causados ao meio ambiente. A trajetória desse processo levou cerca de dez anos.
O período abrange a fase inicial da tese de mestrado do pesquisador Odair Pastor Ferreira, orientando de Oswaldo Alves, defendida em 2001 (sobre materiais porosos bidimensionais na remediação de efluentes de indústrias têxteis). Os resultados permitiram vislumbrar que a linha de trabalho poderia, como de fato ocorreu, frutificar e gerar uma tecnologia inovadora. Deveriam, portanto, ser patenteados. Em 2002, a pesquisa recebeu o Prêmio Unesco da Melhor Tese do Mercosul e Mercosul Estendido.
A trajetória registra o interesse despertado na empresa especializada em tratamento de sistemas industriais, Contech, de Valinhos (SP), que viria a interagir com o laboratório e participar da evolução do produto. “A presença desta patente abriu todas as possibilidades que levaram ao licenciamento da tecnologia, seguindo todo o ritual da Lei de Inovação, dado que a empresa demonstrou interesse pela exclusividade”, observa Oswaldo Alves.
Testes industriais
Durante os anos de 2007 e 2008, o LQES dedicou-se às etapas pré-piloto de desenvolvimento do produto. Ampliou a escala de produção, de gramas para quilos, e estendeu o alcance da tecnologia para que abrangesse efluentes de indústrias papeleiras. “Atualmente” nota o pesquisador, “a empresa que realizou o licenciamento oferece uma solução completa para remediação de efluentes, inclusive contemplando aspectos ligados às questões de engenharia”. Foram quatro anos de convivência com a Contech para chegar à fase industrial, testes em ambiente real, e lançamento comercial. Antes de receber a premiação de 2011, o trabalho da equipe já havia sido agraciado com o Prêmio Abiquim de Tecnologia 2009, na categoria Menção Honrosa. Um fator que contribuiu para realçar a importância do projeto foi a legislação estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, a partir de 2005, que tornou mais rigorosos os controles sobre o lançamento de efluentes.
Propriedade intelectual
O processo de inovação alcançado pelo LQES tem sua origem, entretanto, em período bem anterior. Oswaldo Alves lembra que desde sua fundação, em 1984, o Laboratório vem se dedicando ao estudo dos chamados materiais com estruturas lamelares, no âmbito da química inorgânica. Eles apresentam um número muito grande de propriedades que podem ser empregadas na concepção de produtos. Entre elas as reações de intercalação, propriedades de troca iônica e de adsorção/sorção, esta última uma característica explorada no desenvolvimento dos produtos destinados à remediação de efluentes. Testes iniciais mostraram que argilas sintéticas lamelares à base de Alumínio e Magnésio, apresentavam grande potencial para a retirada de corantes dissolvidos em meio aquoso, explica. “Estávamos frente a um material extremamente promissor, pois seu `poder de descoloração de soluções aquosas contendo corantes era excepcional”, recorda.
A relação do LQES com a propriedade intelectual também foi se consolidando ao longo das duas últimas décadas. A primeira patente foi depositada em 1993, como parte do trabalho da equipe que atuava no desenvolvimento de fibras ópticas, para a Telebrás. De lá para cá o laboratório já depositou 19 patentes, duas internacionais. Com a expectativa, neste ano, de depositar mais duas, relacionadas com novas aplicações da nanotecnologia.