O pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e Membro Afiliado da ABC Stevens Kastrup Rehen apresentou resultado inéditos de sua mais recente pesquisa, aceita para publicação pela respeitada revista científica “Cell Transplantation”. A apresentação foi feita durante o Simpósio Indo-Brasileiro de Ciências Biomédicas, que aconteceu na sede da Academia nos dias 29 e 30 de agosto.

Nessa pesquisa, realizada inteiramente no Brasil, o grupo de Rehen, do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE-UFRJ), descobriu que os neurônios de pacientes esquizofrênicos consomem mais oxigênio do que neurônios saudáveis, mas não produzem mais energia. O excesso de oxigênio, que não é consumido pela mitocôndria – a organela celular responsável pela produção de energia em forma de ATP – acaba sendo responsável pela produção de radicais livres, que estão relacionados a uma série de questões deletérias para a célula. Não se pode dizer ainda se essa é a causa da esquizofrenia, mas já existem hipóteses de que esse aspecto observado é uma característica do distúrbio mental.

O fenômeno descoberto é inédito em todo o mundo. “Quando você compara esses neurônios funcionais de um paciente saudável com os de um esquizofrênico, é possível ver comportamentos distintos”, informa o Membro Afiliado. “Mas, se você compara as células da pele ou embrionárias, não vê nada de diferente. Só se vê diferença no neurônio, porque a esquizofrenia é um distúrbio do cérebro”. Ele complementa afirmando que os radicais livres estão por trás de todas as alterações que se observa na esquizofrenia, desde as diferenças de produção de gene até o envelhecimento, e que eles podem explicar várias características nos sintomas observados no transtorno mental.

Rehen diz que foi testado um medicamento capaz de reverter esses sintomas no laboratório, que funcionou com sucesso. “Isso também é inédito. Mas é importante frisar que esse fato não significa que se descobriu nenhum medicamento novo, só foram abertas possibilidades. Agora podemos fazer uma triagem de centenas de medicamentos”, declara. A aluna de doutorado do pesquisador, Bruna Paulsen, explica a importância do feito: “É praticamente um tratamento personalizado, pois duas pessoas com esquizofrenia podem ter sintomas completamente diferentes. Um medicamento pode ser bastante eficaz para uma pessoa, mas não para a outra”.

A técnica utilizada na pesquisa pelo grupo de Rehen foi a de reprogramação celular, criada no Japão em 2007. Neste método, é feita uma biópsia do paciente – no caso, é retirado um pedaço pequeno da pele – da qual é extraída uma célula. “Não necessariamente é usada uma célula da pele, mas esta é uma forma mais fácil de procedimento”, informa o pesquisador. Na célula, é injetado um vírus atenuado, chamado de retrovírus, que funciona como um “cavalo de Tróia”: ele leva para dentro da célula o gene de um embrião. Essa célula, que é adulta, é “transformada” em uma célula-tronco embrionária. Rehen explica que existem vários tipos de células-tronco, sendo que as embrionárias têm a maior capacidade de diferenciação. A partir desta célula, é possível formar diferentes tecidos desse paciente – nesta pesquisa, ela foi reprogramada como um neurônio.

“É a primeira vez no Brasil que se está modelando uma doença humana com a técnica de reprogramação”, comemora o bioquímico, que diz que também nunca antes no país se conseguiu produzir um neurônio que funcionasse como se fosse do cérebro. No mundo, é a terceira vez que essa técnica é usada para estudar neurônios de pacientes esquizofrênicos. No entanto, o que já havia sido observado em relação aos neurônios de pacientes esquizofrênicos ocorreu em pacientes chamados de post mortem – foi estudado o cérebro de um paciente que já morreu e identificaram-se algumas alterações. A diferença para a pesquisa do grupo de Rehen é que nela foi observada uma célula viva, que veio da pele, mas que é igual a do cérebro.

Rehen explica que existem vários modelos para estudar a esquizofrenia, como os animais, matemáticos e os de técnicas não invasivas nos pacientes. “No entanto, em cada uma dessas técnicas é usado o tecido não nervoso, ou do animal, ou do paciente que já morreu”, explica o cientista. “Assim, você acaba tendo limitações. Por exemplo: a esquizofrenia inclui delírio, alucinação, depressão. Medir isso em um camundongo é complicado”. Deste modo, a técnica de reprogramação é a única maneira de estudar o neurônio de um esquizofrênico vivo. “O cérebro é uma área que envolve muitas perguntas e, tendo como chegar a um neurônio sem necessariamente ir buscá-lo dentro do cérebro, já é um grande avanço”, complementa Renata Maciel, aluna de pós-doutorado do cientista.

O pesquisador considerou uma grande honra apresentar o resultado de sua pesquisa na ABC: “A primeira vez que eu vim aqui, era aluno de iniciação científica e estava participando de um evento no qual o meu ex-orientador faria uma palestra. Hoje, acho muito oportuno e um privilégio apresentar esses dados inéditos aqui. A Academia tem uma grande importância nacional”.

A apresentação da pesquisa de Stevens Rehen atraiu a mídia, que divulgou o estudo em diversos veículos. Confira abaixo parte da repercussão nacional e internacional:

Jornal Nacional
Revista Veja
O Globo
Folha.com
G1
IG – Último Segundo
Diário de Pernambuco
Ciência Hoje
Pesquisa Fapesp
Jornal Floripa
AFP
sumedico.com
Prensa Libre
china.org.cn
Anadolu Ajansi
Ekonomi Haber
El Mercurio
TF1 News
MaxiSciences
Information Hospitalière