O presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Ivan Simonsen Leal, foi um dos palestrantes no primeiro dia do 2o Simpósio Academia-Empresa do Rio de Janeiro, em 29 de junho. Ele graduou-se em Economia Matemática pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), doutorou-se em Economia pela FGV e obteve o título de Doutor em Economia também pela Universidade de Princeton, nos EUA.

Leal iniciou sua palestra falando sobre a formação das pessoas que são contratadas pela Fundação. Segundo o economista, o primeiro problema surge com a formação universitária. “Sofremos de um escolasticismo exagerado. Saber resolver um problema não é da natureza do nosso ensino superior: não colocamos a discussão das aplicações no cerne das questões”, explicou.

O presidente disse que o ensino e a pesquisa brasileira têm que enfrentar o teste da demanda. “Precisamos aproximar a demanda das empresas e do setor público”, explicou. Leal observou que, quando se tem um projeto e se recebe investimento de alguém que aplica uma determinada quantia de dinheiro, outro alguém precisa tomar conta, controlar e organizar. “Falta, e muito, exigir dos projetos resultados. Um projeto precisa pensar nos pontos básicos”.

Leal acentuou que o sistema escolástico é pouco competitivo e, quando se fala em inovação, se pensa no que é mais avançado, de modo que é ignorado, na maioria das vezes, o que é mais necessário. “O Brasil não estaria explorando o pré-sal se ele não tivesse estudado primeiro um poço de lâmina dágua inferior. Isso precedeu a magnitude que é o pré-sal”.

O palestrante acrescentou que, na construção de raciocínio atual, descarta-se o que não é tecnologia de ponta. “O indivíduo que precisa gerenciar um projeto chega à conclusão que um trabalho inútil consome tempo e dinheiro. Então, por consequência, se tem um sistema com muita indiferença”.

Para Leal, é preciso ter como alvo o entendimento do que seria uma política industrial brasileira, determinando o que ela deve ser especificamente e o que não deve ser. “Por que não levamos aos alunos o problema real da discussão para depois, só depois, pensar as inovações que podem resolver?”, indagou. Sobre os alunos, o presidente disse que eles precisam ter maturidade para entender o que é excelência sem, necessariamente, atender a um formalismo na maior parte do tempo. “Precisamos mudar nossas concepções também, pois nem todo aluno nota dez é o melhor. Como fazer para descobrir esses talentos escondidos? Tem meninos que tiram notas baixas, mas são assombros de criatividade. Temos que estimulá-los!”, alertou.

Por fim, Leal citou um exemplo que, em sua opinião, deveria ser seguido. É o caso da Alemanha, onde existem cursos de doutorados nas empresas, focando nos desafios mais proeminentes. “A Alemanha tem mais publicações e patentes, pois os setores empresariais e de pesquisa estão articulados”. Em suas palavras, não estamos ficando para trás no desenvolvimento e tecnologia: estamos ficando de fora. “Possuímos cientistas de primeira, centros de excelência, mas precisamos aprender a olhar o problema e entender que a inovação é global, mas a aplicação é regional”, concluiu.