Jornada afirmou que o novo Inmetro resgata o tipo de modelo de metrologia que une indústria, ciência básica, tecnologia, inovação e governo, típico da Central de Metrologia da Alemanha (PTB). Ele também citou o país como referência de sistema de apoio à inovação, que engloba institutos federais, universidades, fundações e associações.
Segundo o Acadêmico, o “modelo linear” de reflexão sobre a relação entre ciência, tecnologia, produto e desenvolvimento funciona apenas no sistema agrícola, confrontando-se com a centralidade do processo inovativo na empresa: “No sistema industrial, o foco da inovação está na empresa”.
João Jornada também falou sobre a complexa natureza do conhecimento, diferenciando o conhecimento “tácito” e o “explícito”. Ele citou o filósofo do século XX Michael Polanyi, que afirmou que “nós sabemos mais do que podemos expressar”. Segundo o físico, o processo criativo na indústria está relacionada a essa questão. “Tem gente que diz que vai pegar conhecimento e transferir para a empresa, mas não é bem assim. Não é uma mercadoria, um fluido que você pode manipular”.
O palestrante ressaltou que as empresas, universidades, instituições de C&T e o Estado são importantes atores no processo de inovação por agregação de ciência e tecnologia, e que é necessário estabelecer a interlocução entre eles. Segundo Jornada, os instrumentos do Estado para apoio e estímulo à inovação são o sistema educacional, o ambiente de negócios e regulamentação, incentivos de governo à P&D na empresa, compras públicas, entre outros. Para ele, falta organização: “Nós não conseguimos resolver problemas organizacionais internos, apesar de todo mundo dizer que isso é importante para o Brasil. Não conseguimos implementar, nos organizar direito”.
Em relação ao Inmetro, Jornada afirmou que a instituição está na base da infraestrutura técnica para prover confiança e conhecimento. “Não somos um mero depósito de padrões ou cartório de regulamentos”, complementou. Segundo o cientista, o Inmetro é uma instituição de conhecimento, comprometida com inovação e com a excelência de seus serviços, de sua base em C&T e de sua gestão, buscando uma interlocução científica de alto nível. “Estamos envolvidos na geração e difusão de conhecimento e temos compromisso com os 4E: eficiência, eficácia, efetividade, excelência”.
Entre as atividades do Inmetro, estão a promoção da justa concorrência, proteção ao cidadão e o apoio à inovação tecnológica nas empresas. “Também ajudamos os países pelos quais o Brasil tem interesse, principalmente aqueles da África portuguesa, através de contribuições à eficiência metrológica”, mencionou o palestrante. “Isso é feito a partir de conhecimento profundo, excelência em gestão e execução, colaboração, articulação, estratégia, comprometimento e entusiasmo”.
João Jornada observou ainda que a comunidade científica ainda não aprendeu a se articular: “Nós trabalhamos em rede, mas não existe uma coerência. É cada um fazendo a sua parte, não há uma governança forte”. Ele também agradeceu a colaboração da ABC. “Fico muito feliz com o espaço que a Academia tem nos dado. Os membros da ABC têm vindo até o Inmetro, e é importante essa ligação”.