Nascido em Niterói, no ano de 1972, filho de mãe espanhola e pai de origem mineira, que sempre trabalharam fora, Gabriel Rodríguez de Freitas foi um menino tranqüilo e alegre. Primogênito, com duas irmãs mais novas, brincava com os vizinhos e jogava bola – não muito bem, segundo ele. Gostava de ler, fez natação e judô. Na escola – o Instituto Abel – interessava-se por tudo, talvez um pouco menos por matemática.

Os tios do lado materno eram profissionais bem sucedidos em diversas áreas, como Direito e Economia. O pai era médico, e a ele Freitas atribui a influência a favor da escolha pela ciência, pelo exemplo e pela admiração que lhe inspirava.

Bom aluno, fez vestibular para Medicina e passou para a Universidade Federal Fluminense (UFF). Logo nos primeiros anos se envolveu na iniciação científica e ficou interessado na possibilidade ser cientista. Começou em laboratórios de neurofisiologia: foi monitor de doenças infecto-parasitárias e neurologia. Embora tenha tido contato com grandes médicos durante sua formação, poucos se dedicavam à pesquisa.

Quando decidiu entrar para o mestrado, já tinha uma boa produção científica, o que levou o coordenandor da pós-graduação na época, Prof. Nelson Spectot, a sugerir que Freitas passasse direto para o doutorado. Antes do doutorado, ganhou uma bolsa para estudar doenças cérebro-vasculares no Centro Hospitalar Vaudois, na Suíça. Seu orientador, Julien Bogousslavsky, é uma das referências em pesquisa que Freitas reconhece terem marcado sua carreira, por seu profundo conhecimento científico e clínico. “Ele foi uma das pessoas mais influentes em sua área de pesquisa no mundo, e tinha menos de 50 anos”, ressalta o Acadêmico.

Ao voltar para o Brasil, seguiu no doutorado em Clínica Médica e Neurologia pela UFF e, posteriormente, cursou pós-doutorado em Biofísica Celular pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua orientadora na UFRJ, a Acadêmica Rosalia Mendez-Otero, é a outra referência marcante citada por Freitas. “Com ela, aprendi muito sobre altruísmo cientifico – que nossos orgulhos estão muito abaixo do interesse da ciência. Ela mostrava os resultados de nossas pesquisas para outros pesquisadores de outros grupos, para possibilitar que as descobertas acontecessem mais rapidamente”, conta o pesquisador. “É impressionante a capacidade de trabalho dela”, acrescenta.

Com a Profª Rosalia, Freitas desenvolve pesquisas que podem aumentar o conhecimento sobre uma doença extremamente prevalente na população, o acidente vascular cerebral isquêmico (AVC). “Fazemos terapia celular em pacientes que sofreram AVC. A ideia é que células-tronco do próprio ou de outro individuo podem de alguma forma diminuir as sequelas dessa doença”, relata o cientista. A pesquisa está na etapa de estudos-piloto, com cinco a sete pacientes cada. “Em breve faremos um estudo com 120 pacientes para, aí sim, avaliar se a terapia celular é eficaz para diminuir as sequelas pós-AVC”, esclarece Freitas.

Atualmente, Gabriel Rodriguez de Freitas é professor da UFF, coordenador de pesquisas em Neurologia do Instituto DOr de Pesquisa e Ensino, coordenador do Departamento Científico de Doenças Cérebrovasculares da Academia Brasileira de Neurologia, assim como presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cérebrovasculares.

Sua motivação para a Ciência envolve a possibilidade de contribuir para a melhor qualidade de vida das pessoas. “Raramente se vê um cientista muito rico. Acho que quem escolhe a Ciência é um pouco diferente porque é mais altuísta, abdica de valores materiais em prol do de algo que considera mais importante, que é a população e o planeta em que vivemos.”

Com relação ao título de Membro Afiliado da ABC, Freitas avalia que é uma oportunidade de ver como trabalham os maiores cientistas do Brasil, de trocar informações. “Penso em atuar de alguma forma no sentido de levar a ciência a população”, conclui o pesquisador.