Com o apoio de engenheiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 108 meninos e meninas de 11 anos de idade estão empolgados com a perspectiva de montar o UbatubaSat, um pequeno satélite de aproximadamente 750 gramas, de nome Tancredo 1, que orbitará a Terra numa altitude de 310 quilômetros. O lançamento está previsto para novembro.
O Acadêmico Sérgio Mascarenhas ajudou a divulgar o caso, que em sua opinião é “uma história espetacular e de grande importância para a formação de uma cultura científica autoconfiante”. A seguir, a história contada pelo Acadêmico:
“O professor de matemática Cândido de Souza, da Escola Municipal Presidente Tancredo de Almeida Neves, localizada em Ubatuba, leu em uma revista de divulgação científica, no início do ano de 2010, que uma empresa americana desenvolveu os chamados TubeSats, satélites cuja massa é menor do que 1 kg e que é capaz de realizar experimentos científicos e funções de comunicação em órbita.
Propôs então a 108 alunos, na faixa etária de 11 anos, e demais professores de outras disciplinas, que embarcassem nessa aventura de lançarem um satélite com missão a ser definida. Os meninos, meninas e docentes toparam com entusiasmo: primeiro trabalho vencido!
O kit do TubeSat custava cerca de oito mil dólares. O Prof. Cândido buscou esse montante com amigos, empresas e, afinal, conseguiu obtê-lo com comerciantes de Ubatuba. Segundo trabalho vencido!
Para enviar o dinheiro a fim de realizar a compra, ele precisava da autorização do Banco Central, que, por sua vez, informou que somente uma fundação sem fins lucrativos poderia enviar o dinheiro. Cândido se mobilizou e transformou a Associação de Pais e Mestres da pequena escola (APM) em fundação: terceiro trabalho realizado com sucesso!
Para registrar a fundação recém-criada, a prefeitura da cidade tinha que autorizar. O professor foi ao prefeito de Ubatuba, conversou com políticos locais e conseguiu, enfim, o registro oficial: mais uma etapa conquistada!
Para receber o equipamento em Ubatuba, precisava da licença do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Ministério de Ciência e Tecnologia (INPE/MCT), situado em São José dos Campos. Cândido foi ao INPE e após falar com os responsáveis da instituição, conseguiu o apoio do Instituto. Quinto trabalho vencido!
A empresa americana do satélite informou que devido à distância não poderia ajudar os envolvidos no processo a aprenderem a “encher” a barriga do satélite, ou seja, fazer o hardware, o software, soldar, corroer as placas, entre outros. O professor, então, encontrou na internet uma empresa chamada Globalcode e tentou entrar em contato com os diretores Vinicius e Yara Senger, que quando souberam do projeto se dispuseram a ajudar no treinamento dos estudantes, tanto em hardware como em software.
Por uma incrível coincidência, Yara e Vinicius moram em Ubatuba, de onde dirigem a Globalcode. Por acaso são meus netos e pais de meus dois bisnetos. Foi assim que fiquei sabendo de tudo isso e fiz questão de conhecer pessoalmente o Prof. Cândido, que me impressionou profundamente por sua modéstia e amor pelo ensino da ciência e, sobretudo, sua ligação e amor com os alunos. Sexta etapa, afinal, concluída!
Quando soube de tudo, quis divulgar o Projeto Ubatuba Espacial I, mas apareceu outro obstáculo: o INPE tinha que aguardar a autorização da Advocacia geral da União (AGU) para que pudesse ocorrer a divulgação. Encontrando Gilberto Câmara, diretor do INPE, recebi a autorização para contar essa maravilhosa história, um exemplo de garra e autoafirmação. Sétimo trabalho vencido!”
Os desafios não param
Segundo a assessoria de comunicação do INPE, os comerciantes que financiaram o satélite proporcionarão ainda, aos alunos que mais se destacarem na tarefa de construir o UbatubaSat, a oportunidade de ir aos Estados Unidos para acompanhar seu lançamento.
Além disso, os professores de Ubatuba têm recebido aulas no INPE sobre como montar peças do satélite para que depois possam ensinar aos alunos. Por meio do convênio entre o Instituto e a Secretaria Municipal de Educação, está prevista também a ida de engenheiros à escola para palestras e orientação aos estudantes.