Leia o artigo do Acadêmico Eloi de Souza Garcia, publicado no Jornal do Brasil em 31/5:
“O aumento da presença e a participação das mulheres nos cursos universitários e de pós-graduação quebram barreiras sociais importantes que as estimulam a competir no mercado de trabalho, onde há o predomínio do homem. Apesar de estar aumentando visivelmente o número de mulheres, tanto em nível de graduação como de pós-graduação, é ainda uma fração pequena delas que consegue posições de destaque na ciência, na tecnologia ou na gestão da ciência.
Há tempos elas começaram a lutar pelos seus direitos até chegarem a uma nova e verdadeira revolução, desta vez científica e tecnológica. No século passado teve uma inflexão histórica que até havia passado despercebida. Nas carreiras biológicas as mulheres descobriram seus talentos, embora nas engenharias, física e matemática ainda são uma expressiva minoria. Na composição das universidades e institutos de pesquisas, a relação homem e mulher não é equilibrada. Onde estão as mulheres cientistas nas academias? É só comparar os números de mulheres cientistas que fazem parte da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, ou mulheres que foram reitoras ou tiveram uma posição de destaque na área de administração da ciência. Onde elas poderiam estar? Elas dedicam três vezes mais tempo que os homens nas tarefas domésticas e nos cuidados com os filhos.
Na ciência as mulheres descobriram grandes coisas e não tiveram nenhum valor para a sociedade. Descobertas fundamentais foram realizadas pelas mulheres. O cientista colega de Lise Meitner ganhou o Prêmio Nobel em 1944 pelos cálculos que permitiram descobrir a fusão nuclear sem mencionar a autora real. Assim foi também o famoso caso de Rosalin Franklin, que fez a fotografia que permitiu revelar a estrutura da dupla hélice do DNA e de Nettie Stevens, que descobriu em 1905 os cromossomos X e Y, que determinam o sexo das pessoas, mas elas não apareceram como coautoras pelo “machismo” existente que acobertava a atividade científica. A Universidade de Harvard nomeou em 2007, pela primeira vez desde sua criação, em 1636, uma mulher para presidir esta prestigiosa instituição. Seu nome é Drew Gilpin Faust, historiadora, que substituiu o Lawrence Summers após ele sugerir que as diferenças inatas entre homens e mulheres explicam por que há menos mulheres que homens de destaques nas áreas da ciência.
A Academia Brasileira de Ciências possui um prêmio para jovens doutoras que desenvolvem trabalhos científicos nas áreas de Ciências Físicas; Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde; Ciências Químicas; e Ciências Matemáticas. Um dos lemas do prêmio foi O mundo necessita de ciência, a ciência necessita de mulheres. Esta é uma inovação e incentivo importantes para as mulheres pesquisadoras.
Não resta dúvida de que em duas gerações, e sem necessidade de que se aplique uma discriminação positiva, o número de cientistas mulheres crescerá espetacularmente. Por isso costumo dizer que elas não são mulheres cientistas, elas são cientistas, não é verdade?”