A Academia Brasileira de Ciências foi palco, no dia 16 de março, de uma eficiente ação de divulgação científica. Os pesquisadores responsáveis pelas descobertas de quatro novos estudos inéditos sobre fósseis do país apresentaram seus estudos para uma plateia composta por jornalistas brasileiros e estrangeiros de diversos veículos, entre televisões, rádios, sites e jornais.

A apresentação teve início com o paleontólogo do Museu Nacional/UFRJ e editor dos Anais da ABC Alexander Kellner, que falou sobre sua satisfação em ver a ABC abrir as portas para a mídia e mencionou a importância dos Anais, uma das revistas científicas mais antigas do país, com relevância nacional e internacional. Kellner também comentou a importância da divulgação científica para a sociedade e como o trabalho da imprensa é essencial para que isso aconteça. Ele é um dos cientistas brasileiros de excelência que mais interage com a mídia.

O vice-diretor do Museu Nacional, Marcelo Carvalho, informou a seguir que parte do material estaria exposto no Museu, na Quinta da Boa Vista, a partir do dia 17 de março, e anunciou a reinauguração da réplica do maior dinossauro já montado no Brasil, o Maxakalisaurus topai, popularmente conhecido como Dinoprata, que integrava uma exposição no Japão.

Foi apresentado então um novo lagarto fóssil do Brasil, descoberto por William Nava, coordenador do Museu de Paleontologia de Marília, em São Paulo. O achado ocorreu na região de Presidente Prudente (oeste do estado de São Paulo), no final de 2004, a partir de uma maxila esquerda de 7mm. O pequeno lagarto, que recebeu o nome de Brasiliguana prudentis, teria vivido durante o Cretáceo Superior brasileiro, entre 65 e 90 milhões de anos atrás. Segundo Nava, a descoberta é um importante acontecimento na paleontologia nacional, por se tratar de um material bastante raro, e contribuirá com informações relevantes para o estudo dos pequenos vertebrados fósseis do Brasil.

Em seguida, a pesquisadora Juliana Sayão (na foto sendo entrevistada pela Agência Espanhola de Notícias EFE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), falou sobre as penas fósseis encontradas na Bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. Segundo Juliana, esses fósseis têm cerca de 115 milhões de anos e foram descobertos em uma excursão didática que fazia com seus alunos à região, em 2009. A pesquisadora afirmou que as peças achadas constituíam o revestimento do corpo do animal que a apresentava e não eram penas de vôo. Uma delas ainda tinha características associadas a determinados dinossauros, não podendo pertencer a aves voadoras propriamente ditas. Um dos co-autores, Antonio Saraiva, que estava na plateia, veio ao Rio especialmente para trazer parte do material que ficou à disposição dos repórteres.

O maior dinossauro carnívoro brasileiro foi apresentado pela pesquisadora do Museu Nacional, Elaine Machado (na foto sendo entrevistada para a TV Brasil). A descoberta ocorreu na Bacia do Cajual, no Maranhão, a partir de vestígios do pré-maxilar, com sete dentes, e da narina encontrados no local. O espinossaurídeo, que foi chamado de Oxalaia quilombensis, teria vivido no Cretáceo Superior e pesado de 5 a 7 toneladas, medindo entre 12 e 14 metros de comprimento. O nome Oxalaia deriva de “Oxalá”, a divindade masculina mais importante na religião africana introduzida aqui pelos escravos, enquanto quilombensis provém de “quilombo”, locais que abrigavam escravos fugitivos na região. A espécie apresenta muitas semelhanças com dinossauros encontrados na África, continente que já foi ligado à América do Sul.

O Acadêmico Diogenes Campos, diretor do Museu de Ciências da Terra (DNPM), fez a última apresentação da coletiva de imprensa: um novo crocodilomorfo do Cretáceo Superior do Brasil, que juntou-se a outras quinze espécies já conhecidas, encontradas em São Paulo e Minas Gerais. Essa espécie foi achada em afloramentos de um ramal ferroviário entre as cidades de Presidente Prudente e Pirapozinho. Campos chamou o pesquisador do Museu Nacional Gustavo Oliveira, que explicou a origem do nome Pepesuchus deiseae dado ao novo gênero. Segundo Gustavo, o nome Pepesuchus foi uma homenagem ao professor e geógrafo da Unesp José Martin Suárez, carinhosamente chamado de Pepe, e deiseae foi em referência à professora do Museu Nacional Deise Dias Henriques.

Para encerrar o evento, o presidente da ABC Jacob Palis agradeceu a presença de todos e afirmou ser um prazer receber tantos jornalistas e pesquisadores jovens no evento que, além de apresentar os novos fósseis brasileiros, promovia os Anais da ABC. “A Academia vive uma nova era, e uma das razões é o trabalho do Kellner”, declarou o presidente.

Com o fim da coletiva, os fósseis foram exibidos para a imprensa, que rodeou as peças em busca de fotos e vídeos. Os pesquisadores que apresentaram as descobertas também foram bastante requisitados para entrevistas aos jornais, sites, emissoras e rádios. No mesmo dia, diversas matérias sobre o evento já haviam sido veiculadas e algumas estão linkadas abaixo.

Jornalistas reconhecem importância do trabalho de divulgação

A coletiva sobre os novos fósseis reuniu veículos de comunicação de grande relevância e gerou uma enorme quantidade de reportagens na imprensa nacional. O sucesso do evento demonstra que o assunto mobiliza o público e, por consequência, a mídia. Os próprios jornalistas presentes no evento afirmaram que a ciência costuma despertar a atenção da sociedade, principalmente quando está relacionada a assuntos do passado, como a existência de dinossauros. “Acho que eles geram tanto interesse por terem sido animais grandiosos, violentos, que as pessoas não têm noção ao certo de como eram”, afirmou Mauricio de Almeida, repórter da TV Brasil.

O repórter Alexandre Tortoriello, da Band News, considera que é importante o estudo em áreas como História e novas tecnologias para que se possa entender o que já aconteceu e planejar o futuro: “a ciência é fundamental para o avanço da sociedade, para novas conquistas”. Rodrigo Carvalho, repórter da Globo News, acredita que a ciência é a principal forma que temos de contar a nossa história: “ciência e história andam lado a lado e é através delas que conseguimos entender muito da nossa origem.”

O jornalista Aday López, da Agência EFE, afirmou que há uma mudança em geral na mentalidade da população. “As pessoas estão interessadas no campo científico e nas pesquisas que têm sido feitas. A ciência está sempre mudando, e acho que isso desperta curiosidade”, declarou. Já Renato Grandelle, do jornal O Globo, disse que reportagens desse tipo – sobre dinossauros e animais do passado – geram muita repercussão. “Acho que devemos isso ao Steven Spielberg”, brincou, fazendo uma referência ao diretor dos filmes “Jurassic Park”.

Para a jornalista do SBT, Luciana Pioto, a divulgação das pesquisas e descobertas é imprescindível: “acho essencial divulgar a ciência para que a sociedade tenha acesso ao que já aconteceu e, a partir daí, refletir sobre como o mundo e a sociedade podem evoluir”. Alan Barcelos, da rádio Roquette Pinto, concorda que é importante promover as notícias científicas para estimular o interesse geral. “Paleontologia não é divulgada para o grande público”, declarou o jornalista. “Assim como cada ínfima descoberta científica realizada nos Estados Unidos é divulgada, cada avanço brasileiro deve ser explorado para que o público se interesse”.

O paleontólogo Alexander Kellner se disse bastante satisfeito com a coletiva: “foi um grande sucesso e mostra o bom resultado da articulação entre pesquisadores e jornalistas”. Segundo Kellner, seus três principais objetivos foram alcançados: a divulgação do volume dos Anais da ABC, o despertar da atenção das pessoas para visitar os museus e a prova de que existe uma nova geração de paleontólogos que estão contribuindo para o progresso científico. “Grande parte do dinheiro investido nas pesquisas vem da iniciativa pública”, declarou o Acadêmico. “Quem paga por esses estudos é a empregada doméstica, o funcionário público, o empresário, enfim, todo mundo. Por isso buscamos a democratização da pesquisa científica ao levar para a sociedade, através de exposições e reportagens, os resultados das pesquisas que são por ela – a sociedade – financiados”. Kellner também manifestou seu agradecimento às agências financiadoras do volume dos Anais da ABC, particularmente ao CNPq, Capes e Fundação Conrado Wessel, esta última grande parceira da Academia Brasileira de Ciências.

Leia e veja matérias veiculadas na mídia sobre as descobertas

Agência Brasil
Agência EFE
Blog do repórter Herton Escobar
Ciência Hoje
Correio Braziliense
Diário de Pernambuco
Fantástico
FAPERJ
G1
Globo News
IG Último Segundo
Info Abril
Jornal da Band
Jornal Nacional
Jornal O Globo
Jornal O Estado de S. Paulo
Jornal Metro
Portal Terra
Portal R7 (Record)
UOL
WebTV UFRJ